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Passos N.133, Dezembro 2011

VIDA DE CL - FRATERNIDADE

O desejo de ter um lugar...

por Glorinha Guerreiro

O relato de uma experiência reacendeu aquele desejo de companhia. Uma provocação que gerou um movimento. E, hoje, a internet ajuda um grupo de pessoas a compartilhar a vida e seguir o carisma de forma nova e inesperada

Um encontro inusitado e um desejo de viver intensamente a companhia da Fraternidade. Daí surgiu o grupo que tem se reunido de quinze em quinze dias via skype, o programa de computador que permite realizar chamadas gratuitas de voz e vídeo por meio da Internet. E utilizando este recurso, nem sempre de fácil manuseio, têm vivido uma amizade que é sinal do amor de Deus à urgência da pessoa. Um grupo composto de pessoas no Pará (Belém e Santarém), e São Paulo (capital e interior) que, a partir do desejo de se reunir, encontraram numa solução tecnológica um caminho para aprofundar a beleza do encontro no rosto da Fraternidade de Comunhão e Libertação. A seguir apresentamos alguns registros pessoais e impressões sobre esse encontro:

“Em dezembro de 2010, em um encontro nacional com um pequeno grupo de 40 responsáveis de CL, ouvimos o depoimento da Cleuza e do Marcos Zerbini sobre o quanto a Fraternidade os colocava com os pés no chão. Ali percebi que eles tinham um lugar que os ajuda a confrontar a vida de cada dia. Incrível como as inquietações deles, as perguntas e as dúvidas eram as minhas também. Dei-me conta de que era esse o lugar que me faltava todos os dias. Apesar de tudo que tenho feito – os gestos com os meus amigos de CL, a Escola de Comunidade, a missa – ainda me falta esse lugar mais maduro para me ajudar a fazer o juízo sobre todas as coisas. Senti uma necessidade dentro de mim, mas não sabia do que era. Quando ouvi o depoimento de Cleuza e Marcos sobre as conversas que tinham na Fraternidade, percebi que eles, mesmo estando em uma comunidade maior e mais próximos dos responsáveis, tinham dificuldades para trabalhar os textos. Tive, então, a certeza de que eu necessitava desse lugar fraterno.
Na busca desse lugar e diante da minha inquietude, veio à tona toda a necessidade de falar daquele lugar. Pedi a palavra na assembleia e falei sem parar. Tinha vindo de tão longe; achei melhor abrir a boca e dizer o quanto a certeza de resposta a algo que estava em meu coração, era necessária. Porém, não só em mim brotou o desejo, percebi que outros participantes do evento estavam vivendo a mesma ansiedade. Vi o brilho intenso nos olhos da Glorinha, de São José do Rio Preto, que mal teve tempo de expressar, com palavras, o que sentia. Sua expressão dizia tudo naquele dia. Cristo fitou seus olhos com grande ternura! Seu olhar foi extremamente provocante. Ao final do encontro, no caminho de volta para casa, a nossa mútua companhia já era um acontecimento. Daquela data em diante, não nos separamos mais.
Bastou nosso primeiro encontro para as coisas acontecerem; depois, outras pessoas que também gritavam por aquele lugar juntaram-se a nós: Bernardete, Nélio, Alexandre, Alessandra, além de Isabella, que tem nos acompanhado. Agora, caminhamos por uma bela estrada. Hoje vivemos a experiência do encontro, uma Fraternidade virtual, porém materializado no real do cotidiano. Confrontando tudo, vivemos a presença de Cristo. Cada um em seu lugar. No início, o que mais prendeu minha atenção à companhia, foi o fato de termos uma oração específica para rezarmos todos os dias, por nossa Fraternidade. Fazer a Oração do Padre Grandmaison tornou-se um motivo de fidelidade, mesmo na hora da corrida para o trabalho. Antes de qualquer coisa vem-me à mente o Livro das Horas – não o perco de vista. E desse gesto nasce uma educação constante do meu coração rebelde. Nosso encontro tornou-se algo sério e uma companhia cotidiana. Dentro dessa experiência, sinto-me livre para falar tudo de mim, das coisas que sinto, do medo e da minha insegurança. E assim, vivo acompanhada por essa amizade.”
(Adriana, Belém, PA)

O cristianismo se transmite por inveja. Essa frase repetida por Carrón representa bem como nasceu o nosso grupo de Fraternidade via skype. Nasceu da ‘inveja’ de viver o mesmo que ouvi a Cleuza contar sobre a Fraternidade dela, que era um dia especial, que tinha ficado livre na sua agenda para que ela pudesse se preparar, ler o texto, preparar a comida e depois à noite receber as pessoas. Já o relato dessa preparação me fascinou, pois eu também queria me preparar assim para um momento como esse.
Porém, eu ficava pensando enquanto a ouvia falar, ‘mas eu não tenho um grupo de Fraternidade, morando em São José do Rio Preto, longe das pessoas do Movimento, onde eu vou ter uma companhia, onde eu vou poder um dia me preparar para os encontros assim como a Cleuza?’. E nesse mesmo encontro onde ouvimos a Cleuza conheci a Adriana, de Belém, e ela falava da mesma dificuldade que eu sentia sem uma companhia de Fraternidade concreta que pudesse acompanhar. Esse encontro com a Adriana gerou uma amizade imediata, e a conversa sobre essa dificuldade em nossas vidas começou a ter consequências, pois a ideia de nos encontrar via skype surgiu dali mesmo. Conversamos com o Bracco sobre esse desejo e começamos a nos encontrar: a Adriana em Belém, eu e o Marco, em Rio Preto, e a Isabella em São Paulo. Depois chegaram outros amigos que foram sendo envolvidos nessa amizade: a Alessandra de Araraquara, o Alexandre de Bauru, a Bernardete de Santarém e, por um breve período, a Joelma de Roraima.
As limitações não faltam. Em se tratando de tecnologia, nem sempre tudo dá certo, nem sempre ouvimos o que o outro está falando, nem sempre somos entendidos. Mas a beleza desse encontro está no fato do desejo que todos temos de fazer um encontro. Por isso, todos nos encontramos no horário marcado, de quinze em quinze dias, com o texto lido, mas nossa amizade não se limita a cada 15 dias, e com aqueles que têm um acesso mais amplo a esse recurso nos encontramos no skype quase que diariamente. Falamos sobre a Escola de Comunidade, nos ajudamos, rezamos juntos.
Aquela preparação da qual a Cleuza falava da Fraternidade dela está acontecendo comigo, de uma forma inesperada. Tenho aguardado esses encontros, me preparado para eles com um amor muito grande a uma companhia que tem me fascinado. Alguns de nós ainda nem se conhece pessoalmente, porém confrontamos a vida de qualquer maneira, dividimos a vida, olhamos os textos da Fraternidade e assim a minha pergunta sobre como ter um grupo de Fraternidade foi respondida de forma imprevista. Nós nos ajudamos sendo companhia uns para os outros, de forma concreta quando temos a possibilidade de estar juntos, principalmente os que moram mais perto, ou escrevendo e-mails, acompanhando a vida uns dos outros. Agradeço a Deus por ter respondido de maneira tão bela a minha vida neste momento com uma companhia que me faz estar perto do padre Carrón, através dos textos e das amizades.
(Glorinha, São José do Rio Preto, SP)

“Quando recebi, alguns meses atrás o telefonema da Glorinha de Rio Preto com a proposta: ‘Temos um grupo de Fraternidade via skype, você quer entrar?’, fiquei contente e, ao mesmo tempo intrigada com a proposta, principalmente porque dentre as pessoas que faziam parte dessa Fraternidade eu só conhecia duas. Além disso, entra minha própria dificuldade em lidar com a tecnologia que, aliás, só utilizo quando necessário e, na maioria das vezes para fins profissionais. Ainda pelo telefone aceitei o convite e começamos esse caminho ‘virtual’, se é que posso dizer isso, pois com o tempo se tornou uma amizade muito concreta e objetiva.
Na primeira vez que fizemos a Fraternidade via skype, uma avalanche de questões e sentimentos povoaram meus pensamentos e, a partir desse momento, comecei a me questionar o que aquelas pessoas – que eu não conhecia e apenas ouvia e começava a reconhecer as vozes – tinham de correspondência com a minha pessoa, a minha vida, enfim, com a minha caminhada dentro da experiência do Movimento, além do fato de pertencermos a pequenas comunidades ou estarmos sozinhos numa cidade. E de fato, continuei carregando essa pergunta nos encontros seguintes, e quanto mais os ouvia, mais percebia que éramos diferentes sim, mas havia algo em comum que começava a nos unir concretamente...
Bem, no meio disso tudo, passei por algumas dificuldades tecnológicas e pessoais e acabei deixando de participar de algumas reuniões, cheguei a pensar que talvez aquela maneira fosse muito complicada para mim, e novamente me questionava acerca da objetividade dessa nova maneira de ser fraterno... Então, recebi novamente alguns telefonemas da minha amiga Glorinha (que já percebeu que não sou uma ‘internauta’) que retomou comigo a proposta de uma maneira muito livre e me fez entender, viver na carne, o que ouvi uma vez do meu grande amigo padre Aurélio: ‘Deus, nunca nos abandona, ele está sempre nos chamando, ele nos puxa do fio de cabelo ao dedão do pé, precisamos estar atentos para entender esses sinais’. E, de fato, a Glorinha foi esse rosto bom que me colocou novamente diante dessa presença que, acreditem, tornou-se efetivamente muito concreta na minha vida. Uma presença objetiva, pois para nós, de pequenas comunidades que não encontramos os amigos de CL com frequência, esse encontro precisa ser objetivo, concreto, pois é através dele que podemos nos dar conta e julgarmos a vida diante da Presença de Cristo.
É claro que ainda continuo com minhas dificuldades tecnológicas, mas até isso começa a se tornar familiar, pois o desejo de encontrar essas pessoas e, sobretudo, ao observar a amizade que surgiu entre o Alexandre, Nélio, Adriana e Glorinha, também me faz querer ficar mais próxima, desejar que essa amizade também possa permear e fundamentar a minha vida, ou seja, tornar-me efetivamente ‘fraterna’ de meus ‘fraternos virtuais’.
Tivemos um encontro ‘real’ na minha casa, no qual estiveram presentes a Glorinha, Marco, Alexandre e Isabella, que me levou a reconhecer a grandeza de nossa amizade e, sobretudo, o porquê de estarmos juntos. Imaginem pessoas de lugares diferentes que saem de suas cidades para nos encontrarmos por algumas horas... Comemos juntos, conversamos, brincamos com meu filho... Gestos simples, mas que carregam o próprio Cristo, que se repropõe a nós continuamente e se vale surpreendentemente de tudo para nos levar a O reconhecermos, tornando nossa vida mais humana, mais justa, mais vida!
Agradeço a essa companhia que se torna a cada dia o ‘rosto bom do mistério’ mesmo que eu não conheça concretamente todos esses rostos, mas são, sem dúvida, a Presença concreta de Cristo na minha vida.”
(Alessandra, Araraquara, SP)

“ ‘Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova’. Este foi o tema dos Exercícios da Fraternidade que participei neste ano pela primeira vez. Da decisão de perder um dia de trabalho até chegar ao Centro Mariápolis Ginetta, mesmo depois das atividades já terem dado início, foi um longo percurso. Algum tempo depois, deparei-me com a seguinte frase do Padre Aldo: ‘Na vida, o mais difícil não é passar de 1 a 5, mas de 0 a 1’. Esse ‘de 0 a 1’ traduz toda a minha vida! Diante disto, é impossível não fazer memória da minha querida professora de imunologia, Aparecida, e do seu esposo, Mauro, e do estado em que me encontrava quando os conheci, em Fortaleza. Através do Dia Nacional da Coleta de Alimentos pude sentir o abraço gostoso desse casal. Desses que levam em conta todo um conjunto de exigências que talvez nem eu soubesse que existissem em mim. Uma acolhida incrível e inesquecível! De repente eu pude participar dos momentos mais sagrados de suas vidas, como por exemplo sentar à mesa com sua família para fazermos alguma refeição. A cada dia eu desejava estar mais perto deles. E, aos poucos aquilo que eu percebia diferente neles passava a ser testemunho de um Cristo vivo renovado pelo milagre da eucaristia. Mas como isso é possível? Eu comungo do mesmo Cristo que eles comungam e neles aquela comunhão se transforma?! O Cristo que eu recebia na comunhão aos domingos parecia ficar lá mesmo na igreja. Era impossível estar ao lado deles e não desejar isto para minha vida! Mas isso não era o bastante. Entre aquele desejo e o ser também testemunho, havia um grande abismo. Olhar para aquela circunstância e dizer que isto também é para mim era algo que se fazia urgente. Porém, faltava-me coragem! A vontade de seguir meus estudos depois da graduação em uma outra instituição, de conhecer novos laboratórios, novas metodologias, sobretudo com os pacientes hansenianos era motivo de muita indecisão. Deveria permanecer na companhia deles e toda uma realidade na qual eu estava inserido e seguir sem arrependimentos ou vislumbrar um sonho de um jovem formando? Se optasse pelo sonho era preciso recusar oportunidades de dar continuidade aos meus estudos, no meu estado, com propostas razoáveis de emprego, ir para mais longe dos meus pais e da minha noiva; na época namorada. Assim, preferi deixar que a aprovação para o programa de aprimoramento profissional do Instituto Lauro de Souza Lima, referência naquilo que eu tanto queria, desse o rumo dos meus próximos passos.
Recém chegado a Bauru, envolvido por um sentimento de conquista e de arrependimento, diante de uma decisão que inicialmente me parecia não razoável, veio a certeza de que Deus cuida de cada detalhe, de cada decisão nossa! ‘A minha vida continua porque Ele continua me chamando e me impedindo de cair no silêncio do nada do qual fui trazido’. É nesta citação de Dom Giussani que encontro esta certeza. E foi participando dos Exercícios da Fraternidade que pude sentir novamente aquele abraço da Cida e do Mauro, ao encontrar a Glorinha e o Marco na fila do almoço. E nesse abraço, um convite, um chamado, para junto deles, de uma Fraternidade virtual via skype, viver uma amizade Real. Mais uma vez tocado por Cristo. Diante da escolha de continuar os estudos após a formatura, agora vivo as consequências desta decisão! Em um encontro com o Cesco e o Zé Eduardo, este me pergunta, talvez em tom de brincadeira: ‘Mas o que existe de real na tua vida? Já que tudo parece ser virtual? Para citar, a sua Fraternidade e o seu namoro’. Imediatamente respondi: a distância. É nesta distância que vivo um relacionamento duro com o Mistério. Certamente meus caminhos seriam outros se não existisse essa companhia! O meu relacionamento de quase seis anos com a Adelina não se tornaria um pedido de noivado e um desejo de vivermos um relacionamento cristão. Se estando perto não conseguíamos olhar para as exigências dos nossos corações, agora estando longe podemos sentir que o que nos une é algo verdadeiro! E hoje já conseguimos até rezar juntos. É claro, via skype! Cada vez, torna-se mais evidente no meu objetivo focado nos estudos, um relacionamento íntimo com Cristo, isto é, um relacionamento não mais superficial com a minha noiva, com a minha vida! No voo que me trazia para concretizar aquele sonho de um recém formado sentia um grande arrependimento de estar deixando toda a minha vida ‘cearense’. Eu não imaginava que Deus teria compaixão do meu nada e me daria este grande presente que é esta Fraternidade querida!”
(Alexandre, Bauru, SP)

“Estamos em São José do Rio Preto há 13 anos. Fizemos várias tentativas para formar uma Fraternidade, mas, nunca deu certo, porém o desejo sempre existiu. A Glorinha após um encontro me disse que poderíamos formar uma Fraternidade virtual; eu logo pensei: será que vai dar certo? Hoje a Fraternidade se formou e para mim está sendo um grande acontecimento. Eu normalmente encontro as pessoas somente na reunião, mas eu vejo como a amizade está crescendo. Fico feliz em ver como o relacionamento dos fraternos que utilizam mais o computador está ficando bonita, com conversas, orações, troca de experiências e, o que para mim é mais estranho, acontecendo nas altas horas. Cada vez mais estou me sentindo à vontade com os novos amigos, e cada vez que vejo a Glorinha contando as conversas e como ela fica feliz com isto, me dá vontade de ficar cada vez mais perto desta companhia providencial. Que o Senhor nos ajude a cuidar do que nos foi dado.”
(Marco, São José do Rio Preto, SP)

“Desde maio passado, quando fui ‘adicionado’ ao Grupo de Fraternidade, via skype, os registros das conversas com a Glorinha já somam 108 páginas. Tirando os detalhes operacionais, resta um precioso acervo. Ao reler os principais diálogos, constatei algo surpreendente: como é que se construiu uma amizade tão rápida e tão forte? Ora, nenhuma novidade, em se tratando da Internet, diríamos. Mas essa experiência tem tornado mais fácil compreender o significado da amizade permeada pelo testemunho e pelo exemplo.
Merece registro, aqui, a nossa motivação para tantas chamadas pelo computador. Quando digo ‘nossa’, incluo, além da Glorinha, os outros membros. Nós nos falamos com regularidade quinzenal; já fizemos Escola de Comunidade, rezamos e discutimos textos da Passos e do Caderno de Exercícios. Uma experiência singular de amizade.
A tecnologia ajudou a Glorinha criar a Fraternidade que agora encurta distâncias e aproxima pessoas que não se conhecem pessoalmente, mas têm angústias, inquietações e pensamentos comuns sobre a realidade. Coisas comuns e aparentemente efêmeras, que ganham, porém, outro significado no contexto dos diálogos e dos e-mails que já trocamos. Uma das primeiras mensagens para a Glorinha, pelo skype, depois de ter lido um texto que ela me enviou, foi: ‘Caríssima (...). Fiquei impressionado com o que li e compreendi sobre Fé e Cristianismo. Um texto curto, mas suficiente para nos impactar. Estou fazendo um fichamento para elaborar minha compreensão.’
Costumo dizer que ‘amizade que não contribui nem colabora’ não é amizade. Quando muito, revela apenas que as pessoas se conhecem. É amizade da mesa do bar, do trabalho. Quando adicionamos outros componentes, mostra-se sincera, elevada, construtora de algo revelador. Às vezes me pergunto: Para que serve todo esse falatório? Concluo que temos ora alimentado, ora ampliado (em relação a Bernardete e Adriana, especialmente) um relacionamento que contribui efetivamente para a nossa moral e o nosso compromisso com a amizade que ‘clama pela contínua memória de Cristo’ (Urgência do Juízo, Passos, junho 2011, p.14). É essa a amizade pura e simples, que ensina a sermos verdadeiros, transparentes a partir de ‘fatos simples’ – que surpreende a nós mesmos. Parafraseando Carrón, uma experiência que fazemos e que confirma que estamos criando o objeto da fé como exercício prático da razão perante os fatos. Que fatos? O encontro, a confidência, a confiança e o desprendimento diante do outro e do Outro.
Complementando o skype, os e-mails se sucedem. Se temos a certeza de que ‘Cristo é algo que me acontece agora’, podemos vê-Lo na realidade da amizade que vivenciamos ‘sem medo’ de dizer que, diante de outra realidade que não contemple esse Cristo presente no cotidiano, talvez sejamos derrotados, ‘abandonados em nós mesmos’.
Mais do que isso, como testemunho, só participando da Fraternidade que me descobriu em Belém do Pará.”
(Nélio, Belém, PA)

“Começo com uma confissão: nunca fui afeita à tecnologia. Sempre preferi lápis e papel para expressar minhas ideias. Coleções de papel de carta e envelope era minha aquisição favorita, tanto para mim mesma quanto para presentear. Mas como nem tudo são flores como nos papéis de carta, veio uma grande onda: saí da minha terra, minha zona de conforto, para acompanhar meu marido em seu novo trabalho. O detalhe: em plena floresta amazônica.
Nunca agradeci tanto por essa invenção fantástica – a tecnologia, em particular o skype. Sinais de fumaça que chegam na hora! Não me sinto mais só, desde que a Fraternidade virtual começou. Continuar ao lado de Nélio e Adriana, conhecer Glorinha e Alexandre, rever Isabella... Esses encontros virtuais me sustentam, me reposicionam no meu dia a dia.
Até vir para cá, não tinha noção do privilégio que é ter meus amigos de CL próximos de mim. Estávamos juntos no mínimo do cotidiano, e em coisas grandes também – Nélio e eu fizemos um filme juntos, dá pra imaginar isso? Mas também choramos juntos e superamos muitas dificuldades. Essa Amizade que continua se expressando agora via as ondas internáuticas é tão forte quanto a presencial porque continuamos a chorar, rir e rezar juntos; por ora nos deliciamos com o cheiro imaginado dos pratos do Nélio, mas breve daremos um jeito de estarmos no mundo real para saborearmos seu talento.
Essa amizade tem me ajudado a suportar a realidade que se apresenta para mim agora; tem me dado parâmetro para receber as coisas maravilhosas que vieram junto com essa mudança de vida e que agradeço sempre que minha infidelidade me permite lembrar.”
(Bernardete, Santarém, PA)



Santa Maria, Mãe de Deus, conserva-me um coração de criança, puro e límpido como a água da fonte. Obtém-me um coração simples, que não se incline a saborear as próprias tristezas, um coração magnânimo no doar-se, dócil à compaixão; um coração fiel e generoso que não esqueça nenhum bem e não conserve rancor de nenhum mal. Forma-me um coração doce e humilde, que ame sem exigir ser correspondido; contente em ocultar-se em outros corações, sacrificando-se diante do Teu Divino Filho; um coração grande e indomável, de modo que nenhuma ingratidão possa fechá-lo e nenhuma indiferença possa cansá-lo. Um coração atormentado pela glória de Cristo, ferido pelo seu amor, com uma ferida que não se cicatriza senão no céu. Amém.

(Oração do Padre Grandmaison)

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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