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Passos N.135, Março 2012

ACONTECE - SALVADOR (BA)

O desafio da realidade

Em 31 de janeiro de 2012, após assembleia de uma das nove associações que representam a categoria, policiais militares entram em greve por tempo indeterminado na Bahia. O governo não reconhece o movimento. A Justiça decreta a ilegalidade da greve da PM. Chegam a Salvador contingentes da Força Nacional de Segurança e do Exército para atuar no policiamento.
Salvador registra alta do número de assassinatos e de ataques ao comércio. Shows são cancelados e lojas fecham com a onda de violência. Pelo menos cinco lojas de eletrodomésticos foram saqueadas em bairros centrais de Salvador. Segundo testemunhas, grupos grandes de mais de 30 pessoas, a maioria encapuzada e algumas armadas, promoveram o arrombamento e o furto de mercadorias dos estabelecimentos que estavam fechados na hora dos ataques.
Em 6 de fevereiro, a Assembleia Legislativa da Bahia, que fora invadida pelos grevistas, é cercada por tropas do Exército. A luz é cortada no local, e manifestantes e militares entram em confronto. Dia 7 de fevereiro a reunião entre policiais e governo termina sem acordo. A Polícia Federal prende o segundo líder da greve da PM na Bahia.
Neste contexto, onde o Estado e a cidade vivem um clima de caos, com as pessoas amedrontadas sem sair de casa, nasceu o desejo de julgar estes fatos a partir do que Carrón vinha afirmando, que a realidade é estruturalmente positiva. Esse desejo nasceu porque tínhamos a consciência que o juízo é o primeiro serviço quando a nossa humanidade está ameaçada. O juízo como colaboração para estar de pé diante daqueles fatos, como início de civilidade, o modo mais palpável de enfrentar a situação.
Foi quando recebi uma ligação de padre Julián de la Morena, de São Paulo, perguntando por mim e minha família e pelas pessoas da comunidade e se podia fazer uma alguma coisa. Falei da situação e do desejo de julgar o que estava acontecendo, quando ele me disse que antes de qualquer análise era fundamental um pedido de paz para a cidade e por cada pessoa. Essa era a primeira coisa.
Logo depois o Bracco me ligou dizendo que um gesto de oração comum e pública já era o juízo, como os primeiros cristãos diante do martírio. O juízo era a oração. Daí nasceu o convite para rezar o terço e celebrar a missa pedindo por todas as pessoas da cidade, sobretudo as que tinham tombado durante os conflitos, pedindo a paz.
Foi assim que nasceu o convite à comunidade para rezarmos o terço juntos e em seguida a missa, pois ao mesmo tempo que reconhecíamos o dom da vida naquele instante, reconhecíamos que esse dom existia mesmo dentro da dramaticidade daqueles dias. O gesto foi muito simples.
Depois, algumas pessoas ligaram agradecendo, outras mandaram mensagens dizendo que estavam propondo o gesto da oração para outras pessoas que estavam encontrando e começaram a postar mensagens nas redes sociais. Iniciou-se um movimento diante daqueles fatos, e algumas pessoas começaram a respirar mesmo dentro daquela situação, e este foi um milagre: quem tem olhos que veja.
Por outro lado, para mim pessoalmente aquele juízo me permitiu decidir aceitar o convite de participar de uma convivência com padre Carrón e da Assembleia de Responsáveis da América Latina (Aral), pois naquela situação não parecia razoável me afastar da família. Mas entendi que naquele lugar era possível retomar a consciência de que aconteceu na minha vida alguma coisa que é maior que o mar, que é capaz de vencer, de atrair dentro de qualquer circunstância.
E ter ido, ter movido a razão e a afeição diante do convite de Carrón, valeu a pena. Para mim, ter estado estes dias na sua companhia foi de novo o confirmar-se de que a Presença de Cristo na minha vida responde a qualquer desafio. O percurso não foi óbvio nem fácil, sem a ajuda dos amigos não seria possível percorrê-lo. Mas foi feito, e é como um dia de sol depois de uma grande tempestade.
Por fim, enquanto acontecia a Aral, conversas gravadas entre chefes da PM causaram polêmica. Os áudios mostravam que seriam realizadas ações de vandalismo em Salvador, o que fez com que Policiais militares anunciassem o fim da greve iniciada há 12 dias. Toda essa uma onda de violência teve um saldo de 157 mortos.

(Otoney Alcântara)

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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