Vai para os conteúdos

Passos N.136, Abril 2012

A HISTÓRIA

A justiça de Gilmário

Ele não tinha dinheiro e nem vontade de ir àquela festa. Tinha apenas uma sensação ruim de que não era o lugar para ele. Mas os amigos insistiram, e ele no fim concordou. Ele havia convidado um velho amigo e estavam juntos por alguns dias na Praia de Pernambuco, no Guarujá, litoral de São Paulo. Estavam hospedados na casa da Associação onde Gilmário trabalha há três anos e meio. Ele tem 26 anos, poucos, mas suficientes para ver como a vida se desfaz sem um caminho. O encontro feito com alguns amigos e depois com a Associação lhe resgatou a vida, e lhe deu um leme: Cleuza, Marcos e os amigos da Associação são mais que uma família para ele.

Chegam à festa. Lugar elegante, gente rica. Ouviram falar na redondeza, pois distribuíam panfletos convidando para a balada: eles não conheciam ninguém, mas é um local da moda, apenas para se divertir um pouco. Assim que chegaram, os amigos descem e ele vai procurar vaga. Um carro para ao seu lado. “Você é o flanelinha?” “Não...” Gilmário não entende logo o porquê daquela pergunta. Mas no outro carro estão três jovens brancos, e ele não é. Os rapazes saem do carro e começam a agredi-lo, lhe enchem de socos. “Não consegui reagir, e fiquei preocupado com os meus amigos...” Naquela noite, quando foi à delegacia fazer o boletim de ocorrência, aparece o nome de um dos agressores. E o seu endereço. Desde aquele momento Gilmário só pensa em se vingar. “Um sentimento de ódio. Cresci em um bairro violento. Se lhe fazem algo você paga com a mesma moeda. É assim. Não tem outra possibilidade.”
Volta para São Paulo e se fecha em casa por dias, não quer ser visto pelos amigos da Associação. Tem vergonha do seu rosto machucado. Fica pensando naqueles socos: uma agressão violenta demais e sem aviso prévio, justo agora. “Justo agora que eu estava tranquilo, que estava caminhando bem. Mas por quê?”

Toca o telefone. É Cleuza. Pergunta o que aconteceu, mas ele responde com monossílabas. Depois conta um pouco, mas não fala muito, não conta tudo e não diz como se sente realmente, daquele desejo de vingança que lhe arde dentro. Não contou isso para ninguém e também não diz nada agora. Ela, porém, não lhe deixa, e fala bastante. Em certo ponto diz: “Gilmário, eu sei que o seu coração sofre, que você está ferido. Sei, porque você é muito orgulhoso”. Ele começa a chorar. E naquelas lágrimas sente todo o seu desejo de justiça que vem à tona. Desliga o telefone e fica em silêncio. “Mas quem é essa mulher que me conhece mais do que eu mesmo? Tem alguém na minha vida que me faz olhar a verdade do meu coração”.
Alguns dias depois, vai à Escola de Comunidade. “Quando vocês disseram sim a Cristo?”, é perguntado. “Ali eu percebi que estava dizendo esse sim: eu estava perdoando. A justiça é dizer sim a Ele. Porque se olho esta amizade e perdoo, a minha vida é mais vida”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página