Faziam quase 40 graus, com um teor de umidade muito elevado, e a viagem de Maputo ao Bilene – que não deveria demorar mais do que 3 horas de carro – estendeu-se quase ao dobro do tempo, não poupando os passageiros (mais e menos jovens), amontoados num transporte alugado, que se viram obrigados a várias paradas, devido a problemas mecânicos e “policiais”… Mas a chegada ao destino, naquela sufocante tarde de 9 de janeiro, trouxe consigo imediato alívio, e aquela tensão feliz de quem tem o coração cheio de espera, fundada na certeza de uma promessa que não decepciona.
E por isso nem o calor e os mosquitos, nem a pontual falta de eletricidade, nem a chuva que desabou sobre o Bilene durante quase 3 dias, nem nenhum limite material ou humano puderam travar o conteúdo daquele encontro. Foram 5 dias vividos em companhia, num grupo de quase 40 pessoas, divididas em grupos de tarefas (intitulados Maputo, Lisboa, Kampala, Milão), com um programa simples mas preciso: tempo de oração e estudo, tempo de jogos, tempo de passeios e convívio, tempo de descanso. Em todos eles a mesma possibilidade: estar disponíveis ao que as férias trazem, diante do Mistério de que é feita a nossa existência, para se deixar tocar pela amorosa e pessoalíssima iniciativa de Deus em relação a cada um, porque – como repetiu a ugandense Rose Busingye, que este ano veio nos visitar – “Jesus não veio para um grupo, veio para o coração de cada homem”. A partir do estudo da carta de Julián Carrón à Fraternidade após o Sínodo dos Bispos, e da presença luminosa e contagiante da Rose, que transporta nos gestos e no olhar a comoção de quem se vê olhada por Aquele que a faz e ama infinitamente, a simplicidade de um encontro de amigos ganhou a desproporcionada potência de um Encontro com Aquele que dá gosto à vida toda. E por isso, no momento de despedida da Rose, explodiu um canto cheio de gratidão, expressão da certeza palpável de que “a minha força e o meu canto és Tu”: tu, Rose; tu, companheiro de caminho; Tu, doce Jesus.
“As férias do Bilene são para mim sempre um ponto de retomada. Mas estas tiveram um significado particular pela presença da Rose, que me irradiou a vibração da beleza da fé, pois, pela convivência com ela durante aqueles dias, verifiquei o quão é maravilhosa a companhia, o encontro com alguém cuja vida é dominada pela memória de Cristo e como Ele age na pessoa. A amizade que vivi com a Rose naqueles dias parecia secular e é secular pela sua origem: Cristo. Por isso não me canso de agradecer a esta Companhia que me ajuda a cada instante a descobrir o caminho, a retomar a adesão a Cristo como caminho da realização da minha humanidade.
Beny
“Tenho 17 anos e faço parte de CL em Moçambique. Este ano as férias do Bilene foram mais do que umas simples férias, talvez porque neste ano eu tenha me preparado para esse momento, ou talvez pela presença da Rose, que trouxe uma mensagem de Cristo bem diferente da que eu estava habituada: com o testemunho dela pude perceber que a vida não se resume em olhar para as coisas com um simples olhar, mas sim a querer ir mais além daquilo que se vê. Enquanto não entendermos que somos feitos por Alguém nada terá sentido; temos uma grande necessidade de confiar em alguém que nos quer bem sempre, e esse Alguém é Cristo.”
Yara, Maputo
“Estou no movimento há um ano e meio e estou grato por pertencer a esta família. Estas foram as minhas primeiras férias no Bilene com o Movimento. Fiquei muito tocado pelo modo diverso de estarmos juntos, pois comparando com as férias que tenho quando estou com outros amigos, percebi que com eles faço coisas que não são dignas do meu ‘eu’, enquanto que com esta maravilhosa família encontrei de certa forma tudo em uma ordem tal, de modo que era possível sentir a presença de um espírito motivador e capaz de dar um brilho a tudo. Olhando para eles cheguei a pensar nas palavras de São Paulo: Não Sou eu quem Vivo, mas Cristo que vive em mim.
Foi despertado em mim o desejo de conviver com os outros irmãos, e isso me deu a oportunidade de mais uma vez encontrar Cristo nos pequenos detalhes da vida como a beleza, a imensidão da lagoa, as brincadeiras partilhadas, a simpatia e, sobretudo, a simplicidade de cada um que partilhava estas férias comigo.”
Michel Jorge, Maputo
“Durante as férias do Bilene aprendi que devo colocar em primeiro lugar a minha pessoa, e valorizar cada conquista que eu tiver alcançado, porque as minhas conquistas não são óbvias, são dadas por alguém, que e Deus. Aprendi também que os fracassos são fruto da minha imaturidade e que deles devo tirar uma lição de vida, para poder progredir com segurança. Aprendi ainda que a mudança provêm de atitudes positivas, e que a fé é a luz que me ajuda a caminhar. E se, por algum momento da minha vida, deixo esta luz se apagar, e sinal de que coloquei Cristo em segundo plano. A solução seria parar e recomeçar de um outro jeito.
Tive um percurso repleto de recuos e desistências, razão pela qual hoje sinto o reflexo disso. Passei a vida recomeçando e hoje olho para trás e vejo que nada pude construir, fui sempre imatura. Apesar de tudo, procuro “viver intensamente o real”, pois a certeza de que Deus está sempre pronto para quem recomeça com fé, alivia-me a caminhada.
Sei que não estou sozinha nesta caminhada. Vejo que Deus colocou ao meu lado pessoas para me ajudar. A minha presença no Movimento e sinal da ação do espírito de Deus na minha vida. Agradeço a todos, em particular a Atanásia, que desde a infância caminhou comigo, e igualmente ao Sr. Domingos, que acendeu em mim a luz do Movimento. Que Deus abençoe a todos.”
Vitória
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón