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Passos N.148, Maio 2013

LIVRO GIUSSANI - A Nova equipe

Um evento real na vida do homem

por Luigi Giussani

Foi publicado, na Itália, um novo livro de Dom Giussani. Neste novo volume da série “L’Equipe”, são reunidos diálogos e encontros do fundador de CL com os universitários nos primeiros anos da década 1990. Aqui, publicamos um trecho de uma de suas palestras. Para nos ajudar a lembrar o que é a presença, e por que “coincide com o nosso eu”

“Esta é a geração que busca a vossa face, Deus de Israel”. Essa deveria ser a melhor definição desta nossa assembleia ou da nossa companhia: “Esta é a geração que busca a vossa face”. É isso que é recuperado, evocado no início do salmo: “Sois vós, ó Senhor, o meu Deus, desde a aurora ansioso vos busco, a minh’alma tem sede de vós” (Sal 63,2). A verdade dessas palavras: este é “o” problema, seu e de todos nós. “A minh’alma tem sede de vós”.

A LÂMINA DA LIBERDADE. Qual é o motivo da sombra que imediatamente desce sobre esse chamado, sobre as palavras “minha carne vos deseja, como terra deserta, sedenta e sem água”? Certamente, uma falta de conhecimento. Mas não é, em primeira instância, uma falta de conhecimento, porque se existem pessoas que ouviram uma avalanche, uma cascata de palavras, são vocês, somos nós. Por isso, não é um problema, em primeiro lugar, de falta de conhecimento, mas de liberdade. É a lâmina da liberdade! É neste desejo, “minha alma vos deseja”, é no fio sutil deste desejo, na verdade, na sinceridade deste desejo, é neste fio sutil que tudo se joga. A pessoa se joga, porque na liberdade o que está em jogo é a pessoa. O desígnio de Deus se realiza inexoravelmente, mas aquilo que entra em jogo é a pessoa, porque o Eterno não pode ser meu se não o desejo, a felicidade não poderá ser minha se não a desejo, a perfeição não poderá ser minha se não a desejo. Aquilo que entra em jogo é o mistério do Ser que reflete neste ser pequeno como um inseto, que é o homem: o reflexo do mistério de Deus, do mistério do Ser em nós se chama liberdade.
Mas depois voltaremos a isso. Quero tentar ser o mais claro possível nas passagens e nos pensamentos, embora aquilo que é meu limite é a persuasão da evidente dificuldade que a disposição de muitos de vocês têm em aprender, em compreender as palavras que devo usar. Desde a Equipe de 1976, cujo título era Da utopia à presença, (cf. L. Giussani. Dell’utopia alla presenza (1975-1978), Bur, Milão 2006, pp. 49-87), foi feito um caminho que nos leva agora a penetrar e limpar a palavra presença: é preciso penetrá-la e limpá-la. Porque é presença a CUSL (Cooperativa Universitaria Studio e Lavoro - Cooperativa Universitária Estudo e Trabalho), é presença a banquinha de acolhida aos estudantes que montamos nos dias de matrícula, é presença a Escola de Comunidade, é presença o testemunho; mas é preciso limpar a presença de toda essa expressividade, porque a presença está na pessoa, só e exclusivamente na pessoa, em você. Quantas vezes dissemos isso! A imagem extrema é ainda a mais clara: se todos traíssem, se todos fugissem, se todos fossem embora, o que eu poderia fazer a não ser permanecer? Pequeno como sou, incoerente como sou, incapaz como sou, mas eu permaneço! E o que define a pessoa como ator ou protagonista de uma presença é a clareza da consciência, é a clareza da fé, é a clareza da consciência que se chama fé, a clareza da consciência que por natureza se chama inteligência, porque a fé é o aspecto último da inteligência, a inteligência que alcança o seu horizonte último, que identifica o seu destino, identifica aquilo de que tudo consiste, identifica a verdade das coisas, identifica onde está o gosto e o bem, identifica a grande presença, aquela grande presença que permite a manipulação que transfigura as coisas, pela qual as coisas se tornam belas, as coisas se tornam justas, as coisas se tornam boas e tudo se organiza na paz.

A presença está toda contida na pessoa, nasce e consiste na pessoa e a pessoa é inteligência da realidade até tocar o horizonte último. A inteligência natural não conseguiria tocar seu horizonte último, não sabe o que é. Somente por causa de algo que aconteceu, que aconteceu em nós, através de uma palavra e uma mensagem, um anúncio, essa inteligência toca – toca! – o horizonte último, o reconhece e o toca. Precisamos nos lembrar de que, se isso pode ser dito em relação a cada um de nós, é porque fomos chamados, eleitos, escolhidos. E o ato, o acontecimento decisivo e supremo da existência humana é um evento: a coisa mais decisiva da vida, da existência humana, é um evento que se chama Batismo. Essa eleição, essa escolha aconteceu em um fato físico, que tocou você também fisicamente, que se chama Batismo. Por isso, a presença nasce e consiste no protagonismo da pessoa batizada.

INTELIGÊNCIA NOVA. Não há nada mais estranho à hierarquia de valores, de interesses, de estima, de gostos, de desejos que enchem, que inundam o dia de vocês, do que a palavra Batismo. Não há nada mais radicalmente decisivo do que a palavra Batismo. É um fato que, como qualquer fato, é banalíssimo, tem um aspecto banalíssimo. O fato de Cristo andar pelos campos, ou falar na praça, de um ponto de vista imediato seria a coisa mais banal que poderíamos imaginar. O fato de você estar aí sentado, é uma coisa banalíssima. O fato de Cristo ter se sentado no meio de certa companhia há dois mil anos atrás, é uma coisa banalíssima. Assim, o fato que investiu e tocou você através do Batismo tem um aspecto absolutamente banal e, como dizer, inconsistente, como certas flores, por exemplo, como um sopro: basta um sopro para diminuir sua consistência. No entanto, nossa personalidade tira dali a força de uma inteligência nova – a inteligência que percebe o horizonte último das coisas – e a energia de uma afetividade que, por enquanto, é inconcebível para a grande maioria de vocês, mas sem a qual vocês não amariam suas esposas e filhos e muito menos vocês mesmos. A origem dessa inteligência, dessa afetividade, está naquele gesto, naquele evento, naquele algo que aconteceu a você, que é descritível em sua exterioridade e que se chama Batismo.

“CRISTO EM MIM, AQUI, AGORA”. Uma amiga nossa me escreve: “Nestes anos sempre pedi muitas coisas”. Mesmo quem é lapso na fé, mesmo quem crê como os romanos que acreditavam nos altares de seus penates [na antiga Roma, espíritos protetores], de seus antepassados, montados num canto da casa, pede: todos pedem, de uma maneira ou de outra, por uma necessidade ou outra. Não só os marinheiros durante a tempestade fazem promessas! “Nestes anos sempre pedi muitas coisas, algumas até boas, mas nunca pedi aquilo que já tinha me acontecido”. Deparamo-nos com frases das quais não podemos mais fugir, frases absolutas, de valor absoluto. Esta é uma: “Nunca pedi aquilo que já tinha me acontecido!”. Somos seiscentas pessoas aqui. Não quero fazer estatística, mas digo que de seiscentos, quase seiscentos nunca pediram aquilo que já lhes aconteceu. O que isso significa? Ela explica logo depois: nunca pedi “que vivesse na carne (a carne é o café da manhã, o comer, o beber, o velar, o dormir) aquilo a que Deus me chamou. Nunca pedi o reacontecer de Cristo em mim, aqui, agora”. Enquanto você abraça sua namorada, aqui, agora, nunca pediu o reacontecer de Cristo em você, aqui, agora; ou enquanto está estudando. “Quer dizer, nunca pedi a vocação”. A vocação é, de fato, a vida humana investida pelo mistério batismal, pela escolha através da qual um relacionamento novo com o mistério do Ser, com o mistério de Deus, se realizou em você. “Não pedi a vocação porque sei que Ele pode levar a sério o pedido e talvez responda, e, então, não dá mais para brincar. Hoje, pela primeira vez fiz esse pedido conscientemente”. Estava no final de um Retiro do Grupo Adulto. Gostaria de poder parar aqui, porque aquilo que não se mostra na adesão ao abismo profundo quando ele se abre diante de nós, não se mostra nem depois. “Sempre pedi muitas coisas, algumas até boas, mas nunca pedi aquilo que já tinha me acontecido, quer dizer, que vivesse na carne [o hic et nunc] aquilo a que Deus me chamou, nunca pedi o reacontecer de Cristo em mim aqui, agora”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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