Ele parte de Latina para Roma, de trem, todos os dias, há alguns meses. Na capital trabalha como garçom. Tem 35 anos, e está casado com Valéria desde 2003. É quando começa a contar o que faz naquele trem, Mário, que abre para si um mundo. “Preciso partir para um encontro. Com um sacerdote, padre Giuseppe. Conheci-o quando cheguei à cidade de Latina. No pior período da minha vida, era 2005”. Os problemas chegaram no primeiro ano de casamento. “A gente se amava. E combinamos de ir com calma na questão de ter filhos”. Mas havia o desejo de tê-los, eis a questão. “Diagnosticaram em mim um problema: era quase impossível ser pai”. Começa a terapia invasiva e dolorosa. “Por fora, eu fingia que não era nada. Mas por dentro aquela coisa me matava. Eu odiava tudo. E queria deixar Valéria...”.
Num sábado à tarde estava ajudando uma amiga com os meninos da catequese. “Eu ia, mas a fé não me dizia nada”. Lá estava o padre Giuseppe. “Estou aqui por acaso”, lhe diz Mário. Mas depois continuaram a se ver, para um almoço, para uma cerveja depois do jantar. “Comecei a falar com ele, de homem para homem. Ele me olhava nos olhos. E nunca tentava me consolar”.
Uma tarde, em meio à fumaça dos cigarros, Mário fica bravo. “Eu falava de Valéria. Ele me pergunta se era possível parar de amar. E eu: Sim. E ele: Mas você sabe o que é o amor?. Atração, sentimento, emoções, falei por falar”. Não, disse ele. Amor é dedicação total até a morte. Veja Jesus com os seus. O que ele podia saber disso? Um padre? Mas eu continuava a pensar no assunto. Até que o vi”.
Ele, com a mala pronta, mas a mulher continuava a se dedicar a ele, a beijá-lo antes de que saísse, de manhã. Aquelas palavras eram carne: “Tinha razão o padre. Ele deve me revelar o segredo da vida, eu dizia a mim mesmo. Comecei a estar sempre com ele: jantar, férias... Eu o acompanhava sempre que podia”.
Mário renasce. Bateu no fundo do poço. Se abriu a partir de uma pergunta. Viu uma resposta. E renasceu. Mesmo quando a realidade volta a bater duro. “Perdi o emprego. A primeira vez de uma série”. Contador, trabalhava como empregado comercial. “Eu estava preocupado, mas não desesperado. Corri atrás até conseguir um outro trabalho. E o padre sempre ali, ao lado”.
Mário o acompanha também ao Meeting de 2007. E fica impressionado com os voluntários. “Ninguém me havia convidado para a Escola de Comunidade. Mas pedi para ir. Eu queria para mim aquilo que tornava ele e aquelas pessoas tão especiais”. Também Valéria, que jamais fora uma mulher de fé, começa a acompanhá-lo. “Nosso relacionamento tem um novo impulso. Finalmente nós respirávamos”. Parte também para uma ação caritativa com os jovens do colegial, no sábado: Angelus e tarde de estudo. “Com alguns deles crescia a afeição. Frequentemente vinham à nossa casa. Talvez era assim que podíamos ser pais”.
Passa um ano. As terapias, dolorosas, continuam. “Era 2 de junho de 2009, em Lanciano, durante um final de semana com os amigos em Abruzzo”. Onde se venera o milagre de uma hóstia transformada em carne nas mãos de um monge que duvidava da Eucaristia. “Jesus se fez presente entre os seus dedos. E eu? Mas tu podes tudo, eu te peço tudo!, rezei. E eu não tinha na cabeça a coisa dos filhos...”.
Nove meses depois, nasce Sofia. “Pedi tudo, naquele dia. E não me foi poupado nada”. Ambos ficam desempregados, no final de 2010, com ela grávida do segundo filho, Rafael, e ele com muitas dívidas a pagar. “Com dificuldade conseguíamos fazer as compras. Não tive medo de pedir aos amigos, aos pais. Roupa, fraldas, e até um trabalho para Valéria, depois do parto. Ela foi trabalhar como faxineira. Com uma dignidade que era um espetáculo”.
“Espalhei currículo por toda a Itália. Nesse período, desde março trabalho como garçom. Foi empurrado pela necessidade, mas é para mim. Garçom é servir o que existe. A gente não decide, como nas coisas da vida. Quem entra, entra”. Ele e Valéria foram entrevistados por um telejornal: uma reportagem sobre a crise. “O jornalista nos perguntou como fazíamos, qual era o segredo”. Mário lhe mostrou a frase de um folheto pregado na cozinha: “A nossa vida pertence a um Outro, estava escrito. A esse Outro eu pedi tudo. E consegui tudo”.
Post scriptum. Um dia depois do telejornal, Mário foi para a terceira entrevista com o diretor de uma empresa, para um cargo como responsável comercial. No final, o homem lhe pergunta: “Mas você é o cara do telejornal?”. “Comecei a rir. E ele: Sua mulher e seus filhos eu já os conheço. Não me resta se não apostar em você. Ora, vejam só. Eu pedi tudo. E agora já tenho tudo”.
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