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Passos N.155, Fevereiro 2014

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A HISTÓRIA. A rosa e o bilhete de trem

Certa noite, ela vai jantar fora com amigos para festejar um aniversário. O ponto de encontro é em frente ao restaurante. Conversam enquanto esperam os retardatários. Um rapaz se aproxima, com um maço de rosas na mão. Daqueles que, normalmente, nos incomodam insistentemente pedindo uns trocados. Alguns do grupo evitam o rapaz e, um pouco sarcásticos, tentam convencê-lo a ir atrás dos casais de namorados em outra região da cidade. Susanna, estudante de Arquitetura em Milão, olha-o no rosto. Percebe que é muito jovem. E tem uma bela expressão sorridente. “Quantos anos você tem? De onde vem?”, lhe pergunta a jovem.
Tem dezenove anos, é de Bangladesh, chegou em Milão quinze dias antes, vindo de Roma. Não fala bem o italiano e, além disso, gagueja. “Por que você faz esse trabalho? Não pode procurar algum outro que lhe agrade mais?”.

Os dois começam a conversar. No seu país, era salva-vidas e barman, e na Itália ninguém lhe dá emprego porque não tem diploma. “Por que você não estuda?”. “Custa caro”, ele diz. “Nem sempre... Espere!”. Susanna pega o celular, liga para uma amiga que dá aulas em uma escola pública e pergunta o que é necessário para se matricular. “Peça para ele ir à Escola Portofranco, onde eu trabalho. E vamos ver o que é possível fazer”. É quinta-feira. O encontro fica marcado para a próxima segunda. “Como você se chama?”. “Rubel”, diz ele. “Então, Rubel...”. Susanna pega um bilhete de trem e escreve o endereço do Centro de Ajuda ao Estudo. Trocam os números de telefone e se despedem. “No jantar, eu já tinha me esquecido dele”, diz ela, depois.

No fim da noite, Rubel “reaparece”, enquanto Susanna conta à amiga Kika, no carro, sobre o seu dia e sobre aquele vendedor de rosas com quem parou para conversar enquanto os outros o evitavam. “Mas, Susy, isso não é normal! Olhar para ele assim...”. Tratá-lo como um homem. Amá-lo, no fundo. Ninguém faz isso. “Como não?”, pensa ela: “Como Jesus tratava aqueles que Ele encontrava? Apaixonava-se pelo seu destino, tanto que eles mudavam de vida”. Porque, no fundo, o cristianismo, “o ser tomado por Jesus”, não é para os bons... É algo humano, torna mais verdadeiro o olhar. “É Ele que acontece. Porque eu, quase nem mesmo tenho consciência disso”.

Na segunda-feira, Susanna vê uma chamada perdida de Rubel no celular. Ocupada com mil coisas, não retorna a ligação. Mas lembra que era o dia marcado para o encontro na escola. “Liguei para meu tio, que trabalha lá, e pedi para esperá-lo”. Depois, a mente volta para as coisas cotidianas. E passam-se dois dias... Susanna está caminhando e encontra outro vendedor de rosas. “Rubel! Será que ele foi?”. Pega o telefone e liga para ele. “Oi, lembra de mim? E então? Como foi?”. Rubel tinha ido a Portofranco: “Obrigado, Susanna! Em fevereiro começo um curso no Instituto Profissionalizante para Cozinheiros”. E até fevereiro? Ele, rindo, diz: “Vou vender rosas. E sombrinhas, se chover”.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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