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Passos N.157, Abril 2014

VIDA DE CL / ACAMPAMENTO DE CARNAVAL

O “ardor” da minha alma

por Kika Antunes

Todo ano, o acampamento começa com uma proposta clara e nos pede um “seguir”. Para isto, temos sempre um tema que nos guia pelos quatro dias. Este ano tínhamos diante de nós esta frase de Dom Giussani: “Eu não quero viver inutilmente, essa é a minha obsessão”! Eu olhei esta frase e doídamente me perguntei: “Eu sei viver utilmente? Onde estão os sinais de que eu vivo utilmente? Eu não sei!” Ali, como na vida, somos todos chamados a olhar cada acontecimento como se fosse a primeira vez! É a pedagogia de D. Giuss! É o Cristo se oferecendo!
Quem já experimentou esta convivência no mato sabe que as circunstâncias são desafiadoras, mas também belas e marcantes e, desta vez, logo na primeira tarde, fomos surpreendidos com uma chuva torrencial, incontrolável! Quem nunca foi ao acampamento diria: estamos perdidos!
Imediatamente fomos conter a água, trabalho duro!
É verdade que, por pouco, não desconfiamos do Motivo pelo qual estávamos ali. Porém, toda aquela agitação e desafio não tiraram a minha certeza! Noutras épocas, talvez, já sentiria uma pequena derrota, mas não naquela tarde! Enquanto tentava conter a força da água e escorregava na terra, eu pensava: “Como estou feliz! Que força tenho, mesmo com a coluna doendo e todo limite deste meu corpo que grita sua fragilidade. Mas esta sou eu, Kika, quebrada e inteira! Eu estava cheia de Certeza, e ela me fortaleceu os braços! Mas esta não era a minha utilidade, porque afinal, logo, eu não seria mais necessária!
Seguiram-se os dias, o sol se fez mais forte e nos acariciou, nos confortou um pouco.
Na minha casa, na minha família, sempre fui considerada meio “mole” de coração, chorona, e por isso, sempre fiz o movimento contrário. Tentei ser forte! Mas mesmo assim me dói ver um homem sozinho, mendigando, silencioso na calçada! Isso não me foi tirado! A comoção é parte da minha natureza! Olho o homem e me dá vontade de pegar na sua mão, de saber o que deseja o seu coração, porque vagueia…
Pois bem, 45 anos se passaram e descubro que não é “mole” este meu coração. Ele arde! Ele arde pela chuva e pelo céu estrelado! Arde pelas batatas dentro da panela e pelos rostos atrás dos pratos! Arde ao ver a mãe chamar: – Franciscoooo!!! Arde o abraço dos filhos que não são nossos! Arde ao ver meus amigos manauaras vivendo “em casa” (eles vieram!!!). Arde porque o capitão da caminhadinha das crianças casou-se comigo e nossa filha carrega os bebês com amor. Ele arde por cada palavra doce e doída do sarau: “Venha Deus, venha. Mesmo que eu não mereça, venha”.
Arde ao ouvir o amigo cantar: “Seu amor é a grande esfera, seu amor me entende bem
”. Arde porque não consigo conquistar os amigos que quero. Arde por eu não ter palavras de conforto pra ninguém… Arde estar ali debaixo da tenda: ali é lindo e pouco, ali é úmido e quente, ali é vazio e pleno! Meu coração arde, esta é sua utilidade. Esta é a minha frágil força! E que bom que existe um lugar pra este ardor viver!!!

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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