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Passos N.160, Julho 2014

SOCIEDADE/ Política - Eleições Europeias

CL, a europa e o “novo início” de Padre Carrón

por Paola Bergamini

Por ocasião do lançamento do Documento de CL sobre as eleições europeias, o filósofo Massimo Borghesi escreveu um artigo em que explica a leitura que padre Julián Carrón, presidente da Fraternidade de CL, faz da crise e da contribuição fundamental do cristianismo à cultura atual e à conjuntura europeia. A seguir, trechos do artigo

O Ocidente moderno fundamenta a liberdade sobre o relativismo dos valores, sobre direitos subjetivos, sobre o princípio da não discriminação. É o sonho moderno de liberdade como autodeterminação, que se revela desvinculada da razão e de qualquer reconhecimento de princípios objetivos, naturais ou racionais.
O interesse de ”Europa 2014”, nasce do fato de que a resposta à crise atual não é confiada a um “caminho curto”, puramente reativo, mas a um “ caminho longo “, que não nega a exigência de liberdade, mas a reconduz ao relacionamento com a alteridade.
Com respeito a este caminho, padre Carrón faz uma série de observações. O primeiro é o esclarecimento do que está no centro da Evangelii Gaudium: a constatação de que, no mundo católico, a batalha pela defesa dos valores tornou-se tão prioritária que parece ser mais importante que a comunicação da novidade de Cristo, do testemunho de sua humanidade. Esta troca da causa pela consequência se documenta na promoção de um cristianismo cristianista (expressão do pensador francês Rémi Brague, que designa aqueles que aderem aos valores e princípios cristãos, mas não fazem a experiência do encontro com Cristo), privado da graça. É essa inversão que explica, e esta é a segunda observação, porque a ênfase recai, de forma unilateral, sobre as estruturas, as leis, desconsiderando a dimensão dos costumes, da cultura, sem os quais até as melhores leis não pode resistir, na democracia, às mudanças associadas à variabilidade da mentalidade dominante.
Com isso, e é a terceira observação, não se trata de refugiar- se num limbo confortável – a fuga espiritualista do mundo – ou de opor o Acontecimento cristão à lei, mas de entender que, na unidade de uma vocação, temos que fazer uma distinção de campos. “Quem está envolvido na arena pública, na cultura ou na política, tem o dever, como cristão, de se opor aos desvios antropológicos atuais. Mas esta é uma tarefa que não pode envolver toda a Igreja, como tal, pois essa tem a obrigação, também hoje, de encontrar a todas as pessoas, independentemente da sua ideologia ou filiação política, para testemunhar a atração de Jesus”.
Padre Carrón salienta que o compromisso dos cristãos na política e nas esferas onde se decide o bem comum é necessário. Ainda mais, através do modelo da doutrina social da Igreja, indica os modos de convivência social que a experiência cristã comprovou. E hoje, mais do que nunca, isso é importante. Não pode, no entanto, assumir que a partir de sua ação, ainda que justa, possa surgir mecanicamente a renovação ideal e espiritual da cidade dos homens. Isso nasce “do que vem em primeiro lugar”, de uma nova humanidade gerada pelo amor de Cristo.
Este “o que vem em primeiro lugar” é, de acordo com Carrón, a contribuição que o movimento de CL – mantendo- se fiel à sua vocação – pode oferecer, com total humildade, na consciência absoluta de suas limitações.
No contexto europeu, isso significa que o encontro entre o cristianismo e a modernidade pode ser feito hoje, como viram Ratzinger e Jürgen Habermas em seu famoso diálogo, em 2004, começando com uma dupla autocrítica, a do cristianismo moderno e a da própria modernidade. A modernidade “reflexiva”, consciente dos seus limites, pode encontrar-se com um cristianismo libertado das ambições teológicas e políticas herdadas da Idade Média.
É por isso que em Carrón a crítica do Iluminismo “kantiano cristianista” não leva a uma crítica do Iluminismo e da modernidade. Pelo contrário, à luz do Concílio Vaticano II, a modernidadee o princípio da liberdade religiosa, consagrada na Dignitatis humanae, são reconhecidos em toda a sua importância. Essa liberdade religiosa, patrística e moderna, é necessária para a Europa e as suas instituições. É condição essencial para que o cristianismo possa ser comunicado e encontrado, para que a liberdade possa, em sua relação com a alteridade, ser inclusiva, não mais excludente como é hoje.

Trechos retirados e adaptados ao português do artigo “Cl, l’Europa e il ‘nuovo inizio’ di Carrón”publicado no site IlSussidiario.net, 23 de maio de 2014.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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