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Passos N.173, Setembro 2015

LEITURA

O poder das Misericórdias

por Mariana Gomes de Matos

Texto disponível na revista impressaDe autoria de padre Antonio Puca, religioso da ordem de São Camilo, As Santas Casas de Misericórdia: De Florença a São Paulo, a epopeia da caridade é relato com importantes reflexões sobre o desenvolvimento destas seculares instituições de saúde caritativas

A Igreja concretiza obras de assistência médica desde os primeiros séculos de sua existência. Muito se sabe do que foi feito neste sentido em contexto europeu; mas não tanto em contexto latino-americano, ao menos não comparado àquele. Este fato não foi indiferente ao padre e professor italiano Antonio Puca, pertencente à ordem dos camilianos (cujo fundador, São Camilo de Lellis, foi um dos pioneiros da arte de cuidar dos doentes).
Formado em Psicologia pela Sapienza e atual professor Titular de Bioética no Camillianum (Pontifícia Universidade Lateranense) de Roma, padre Antonio Puca foi suscitado, em uma recente visita acadêmica ao Brasil, a investigar as origens das Santas Casas de misericórdia, que, apesar de não tão conhecidas no continente europeu (salvo na Itália e em Portugal), foram amplamente difundidas no país. Surge assim sua obra mais recente: As Santas Casas de Misericórdia: De Florença a São Paulo, a epopeia da caridade.
Como indicado pelo próprio título, sua pesquisa se inicia em Florença, na Itália, onde se encontram os primeiros registros da Irmandade da Misericórdia, fundada por São Pedro Mártir em 1244. A confraria segue sua vocação cristã e popular, assistindo e acompanhando nos hospitais as vítimas de acidentes, retirando cadáveres das ruas e acompanhando os órfãos, principalmente nos tempos de pestilências. Semelhante modelo será seguido pela Santa Casa de misericórdia de Lisboa, fundada pela Rainha Leonor de Lancaster em 1498. A colonização traz a confraria para a América Latina e, portanto, para o Brasil, a fim de primeiro assistir aos enfermos colonos e indígenas, para posteriormente cuidar das mais variadas camadas da população brasileira, servindo também como importante centro de ensino da medicina e da enfermagem, sobretudo na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Apesar de algumas diferenças pontuais, foram recorrentes na história das Santas Casas (cuja missão é essencialmente pré-política) as tentativas de intervenção do estado na sua gestão, como também os cortes de investimentos sobre elas, mostrando-se assim que a história da caridade é também uma história imbuída de dor, da pretensão do homem e do estado “de querer guiar a vida do homem do berço ao túmulo”. Deste modo, ao tratar das charities existentes na America do Norte, (onde, através dos estudos de Florence Nightingale, mostra-se a passagem da assistência caritativa à assistência pública), Puca propõe algumas digressões pertinentes ao tema, tal qual a diferença entre a caridade e a filantropia, assim como a intercessão entre caridade e justiça, nem sempre evidente aos homens.
Enfim, Puca amplia o seu campo de estudo expondo algumas obras de caridade existentes em vários países nos dias atuais, dentre as quais o Meeting Point International, que trata de mulheres aidéticas em Uganda, e a Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo, ambas experiências de caridade inspiradas pelo carisma de Comunhão e Libertação. Com isso, pretende mostrar pessoas que viveram e vivem o cristianismo e a caridade “em sua verdadeira essência, não como um esforço ético generoso, mas de gratidão”.
As Santas Casas de Misericórdia: De Florença a São Paulo, a epopeia da caridade é uma obra majoritariamente descritiva que não pretende exaurir o seu tema, sugerindo o aprofundamento de objetos de estudo para aqueles que atuam no campo da saúde ou inclusive da história. Ao mesmo tempo, trata-se de um livro acessível à todos, constituindo uma leitura inspiradora e fecunda, sobretudo levando em conta a vinda do Ano Santo da Misericórdia, em dezembro deste mesmo ano.

 
 

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