Vai para os conteúdos

Passos N.175, Novembro 2015

PEREGRINAÇÃO

"Basta-te a minha graça"

por Giovanna Ottoni

Data: 3 de outubro de 2015, Peregrinação à Aparecida. E bem grande: “Basta-te a minha graça”! Assim começou a peregrinação para mim! Com esse convite e com essas palavras que laçaram meu coração! Imediatamente com alegria pensei: “Oba! Eu vou!”. A espera de chegar o dia foi como já começar a caminhar: ir encontrando os amigos e ficar sabendo que eles iriam também! Chamar outros amigos! Contar no meu trabalho e perguntar se alguém gostaria de fazer algum pedido para eu levar a Nossa Senhora! E escutar: “Nossa! Vocês vão caminhar tudo isso? A noite toda?”, “Reze pelas nossas crianças!”, “Reze por mim!”... Era como já “cantar e caminhar”!

Cantar de gratidão por este gesto que eu percebia cada vez mais não ser óbvio: 150 pessoas caminhando juntas, 60 durante toda a madrugada, após uma semana de trabalho e podendo escolher fazer tantas outras coisas. Por que ir? Por que eu vou? Em vez de dormir, por que caminhar durante toda a noite? Foi este o primeiro pensamento quando olhei para os meus amigos e para quem eu não conhecia, à 1h30 da manhã, começando o percurso em Guaratinguetá.

“Todos dormem, e nós caminhamos”. A que somos chamados? “Noite, caminho e meta”. As três palavras que padre Julián de la Morena nos havia dito antes de sair ressoavam junto com o barulho dos nossos pés pisando a terra. Como até de noite é possível reconhecer os sinais? Como reconhecer o nascimento e a ressurreição de Cristo assim como aconteceram, dizia Julián, no meio da noite? No meio do silêncio que nos propuseram, fomos guiados pela cruz. Meu desejo foi olhá-la como uma memória da nossa meta!

E olhar aquela cruz que ia sendo carregada com tanta afeição por rostos amigos, fazia estremecer meu coração. Eu pensava de novo: “Todos dormem, nós estamos aqui”. Por quê? Também nos momentos de muito sono, nos minutos que tivemos de descanso a cada quase dez quilômetros caminhados, nascia esse assombro. Lembro-me da pergunta que nos foi feita no trajeto: “A que eu seria capaz de dar toda a minha vida?”. De fato, um assombro! Quando ouvi, tive a impressão de, até então, correr o risco de estar dormindo como todos. Como é possível viver sem se fazer essa pergunta? Na minha agitação toda, tê-la presente foi uma provocação que de tão correspondente pareceu me acalmar: só para tentar responder essa pergunta valia cada passo dado.

Eu tinha planejado conversar com muitos amigos durante a peregrinação, queria encontrar com vários que há tempos eu não falava e não sabia como estavam! Mas o que eu vi aquela madrugada foi algo muito maior e muito mais verdadeiro do que simplesmente encontrar, conversar e saber as novidades. A experiência que fiz foi de “ter tudo”, de não faltar nada: ter os amigos, ter o caminho, ter a meta. Um tudo. Uma vida mais vida dentro daquela companhia guiada, abraçada por aquela cruz, cheia de esperança por aquela meta.

Na chegada a Potim, padre Nelson nos esperava de madrugada entusiasmado, com sua capela aberta para ali rezarmos o primeiro Angelus do dia. Em seguida fomos surpreendidos com um café da manhã preparado por alguns paroquianos que também nos aguardavam, prontos para nos servir. Ali encontraríamos o restante dos amigos que caminhariam os 2 quilômetros finais até o santuário; cada detalhe cheio de ternura e de sinais da Sua Presença.

A missa foi celebrada por padre Paulo Romão, do Rio de Janeiro, na Paróquia Senhor Bom Jesus de Potim. Antes da celebração houve uma breve introdução feita por Marco Montrasi (Bracco), o responsável nacional do Movimento. Ele nos ajudou a nos colocarmos na postura justa para seguir em romaria, afirmando que “cada um tem muitas coisas para pedir, para resolver, mas a primeira ajuda que precisamos pedir é que possa acontecer algo que desperte de novo esse ‘eu’, se não fica tudo escuro. Por causa disso preciso de Cristo, porque ninguém me despertou como Ele”. Depois fez a leitura da mensagem que padre Carrón enviou aos jovens que haviam feito uma peregrinação a Czestochowa, na Polônia. Ali falava-se da vida como caminho: “Temos algo decisivo para pedir: que as nossas vidas nunca parem, porque tomadas por Cristo ressuscitado. Peçamos a Nossa Senhora essa familiaridade com Cristo para testemunhar em qualquer ambiente a novidade que Ele introduziu na nossa vida”.

No último trecho caminhávamos tendo à frente a Basílica. Rezamos o terço, cantamos, ficamos em silêncio. Ao final, eu estava diante de Nossa Senhora Aparecida com o coração agradecido, amado, surpreso pela alegria de um Outro mundo nesse mundo: “Basta-te a minha Graça”, basta-te porque, com Cristo, já temos tudo. Quanta misericórdia e liberdade para cantar e caminhar. Para voltar ao cotidiano amando mais o mundo inteiro.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página