Vai para os conteúdos

Passos N.176, Dezembro 2015

COLETA/1

O maravilhamento dos recém-chegados

por Liziane Bitencourt Rodrigues

Ação completa dez anos no Brasil atraindo novos voluntários e ganhando espaço nas redes sociais. Um gesto humilde, que se revela totalmente correspondente pela alegria que provoca, e que ajuda a construir a cultura do encontro e da partilha

Ela viu um pedido inusitado no grupo “Você precisa de quê?”, em uma rede social. “As pessoas pedem de cama para doar até fralda, e apareceu um pedido que achei curioso: voluntários para o Dia Nacional da Coleta de Alimentos, no dia 7/11. Eu já sentia vontade de fazer algum trabalho voluntário, só não sabia bem o que. Neste dia decidi que participaria. Faltavam umas três semanas para a Coleta”, conta Denise, de Brasília. “Marquei que iria à tarde, porque sábado não costumo acordar cedo. Chegou o dia, eu tinha saído na noite anterior, acordei tarde, estava bem cansada, mas senti vontade de ir. Eu me programei para isso. Acordei já me preparando e fui para o mercado da Asa Norte. No estacionamento um dos voluntários veio me abordar. Eu disse: ‘calma, cheguei para te ajudar’. Já comecei me divertindo daí. Ela sorriu, me explicou onde estava o restante da equipe. As pessoas me receberam muito bem. Disseram: ‘nossa, você veio mesmo!’ Deram as instruções e o colete e eu me senti preparada para fazer aquilo apesar de nunca ter feito”.
A jovem se impressionou que a maioria dos clientes parava para escutar e reagia positivamente à proposta de doação de alimentos, alguns, mesmo com pressa, se dispunham a ajudar, e poucos não estavam dispostos a ouvir. “Vi momento em que os pais tentavam ensinar a solidariedade aproveitando a situação. As vezes que subi para ir ao banheiro acompanhava o acúmulo das doações e ficava muito feliz de ver aquilo. Fiquei empolgada. Era como se a gente tivesse uma missão e era gostosa a sensação de ver que o número de doações ia aumentando, que as caixas iam sendo fechadas com alimentos e empilhadas. Lembrei um pouco do que eu sinto em relação a doar sangue. Quem doa sangue tem de esperar quatro meses para doar novamente. Se você gosta, acaba criando como que um relógio biológico que te lembra: ‘está na hora de doar de novo’. Senti isso na véspera e no dia da Coleta, porque pensava ‘tenho que ir lá’”.
Valeu a pena? Denise diz que sim e já se programa para 5 de novembro de 2016, data do próximo Dia Nacional da Coleta de Alimentos. “Ao final eu estava muito cansada, mas me senti preenchida, com uma sensação de fazer parte de algo bom, de uma fraternidade. Gostei das pessoas que conheci ali. É uma sensação de conexão e pertencimento muito legal. Depois de ter participado fiquei acompanhando as postagens em páginas do Facebook, vi que foi feito o trabalho em várias cidades e pretendo no ano que vem participar de novo, talvez o dia inteiro. A Cátia, que fez o pedido de voluntários pela rede social, ao se despedir agradeceu por eu ter ido, porque não a conhecia nem àquele trabalho, e me dispus.”

Outros estreantes. A Coleta de 2015 também foi a primeira da princesa Elza, personagem do filme Frozen. Tatiana, que deu vida à personagem, estava na reunião do grupo Pastoreio Jovem, do qual participa, quando ouviu a provocação para que houvesse um “mascote” durante o dia de arrecadações. “Decidimos participar como voluntários, e não só doar alimentos. Quando sugeriram que alguém se fantasiasse, lembrei que já tinha me vestido de Elza e disse que poderia fazer novamente. A experiência foi mágica. Saí do supermercado totalmente renovada. Se eu fiz o bem para as pessoas, elas não fazem ideia do bem que elas fizeram a mim. Foi uma experiência linda, encantadora em todos os sentidos. Pude realmente sentir na pele de uma forma diferente toda doação ao próximo. Estava muito tímida no começo, mas desde a hora que cheguei vestida de Elza toda essa timidez desmoronou”, diz Tatiana, também de Brasília.
No mercado ao lado do que ela estava, Marcelo também estreou como voluntário. Aceitou o convite feito por uma colega de trabalho que conhecia há pouco mais de um mês. Dispôs-se a ir pela manhã, mas acabou voltando novamente à tarde para o mesmo local de arrecadação. “Voltei porque tinha conhecido o formato da ação, pela manhã, e por acreditar na possibilidade de poder ajudar mais efetivamente. Foi gratificante e em 2016 estarei novamente.”
Em Belém (PA) a novidade chegou por meio de pais e estudantes do ensino fundamental. Márcio, o coordenador da ação na capital paraense propôs a alguns pais de colegas de suas filhas que ajudassem como voluntários. Empolgados, eles trataram de espalhar a ideia para a direção e, em poucas horas, a escola havia decidido assumir, sozinha, um mercado (ver p. 14).
Na maior cidade catarinense tudo era novo no Dia Nacional da Coleta de Alimentos 2015. Foi a primeira vez da ação em Joinville, puxada por três amigos, Silvani, Kleber e Mirian, que haviam participado em Curitiba (PR) no ano anterior. Fora eles, todos os outros 60 voluntários de
Joinville conheceram a Coleta enquanto ela acontecia por meio do trabalho deles próprios em dois supermercados da cidade. Nem bem ela encerrou, chegou a proposta dos gerentes de ampliarem a arrecadação para mais duas lojas das redes participantes no próximo ano.

Um “velho” sempre novo. Com microfone na mão, ele anuncia o nome dos outros mercados de Brasília em que o gesto está ocorrendo simultaneamente. Propaganda da concorrência? “Não! Estamos todos juntos nisso”, diz Givanildo, gerente do supermercado que participou de todas as edições da coleta em Brasília. Givanildo não é iniciante no gesto, mas seu ânimo parece sempre novo. Acompanha os voluntários do início ao fim e cuida para que não falte água e lanche para eles ao longo do dia. Aos funcionários que encontra pelos corredores pergunta se já fizeram a sua doação pessoal. Ele mesmo faz todos os anos uma doação generosa. Por que, além de permitir a arrecadação voluntária e dar uma cota em nome do supermercado, Givanildo também resolve doar do próprio bolso? “Porque é bom fazer parte de um projeto que beneficia quem precisa. O mundo está carente de gentileza, de solidariedade. O retorno maior às vezes não é o financeiro. O Dia da Coleta é o nosso compromisso anual com a solidariedade. Quem mais cresce é quem toma a iniciativa. Doar um pacote de arroz é fácil! A doação maior é a dos coordenadores e nos voluntários que fazem acontecer”, avalia o gerente que se define como “um amarelinho sem uniforme”, se referindo à cor dos coletes usados pelos voluntários durante a arrecadação.

Um desejo infinito. Para Tadeu, de Petrópolis, este ano o gesto estava carregado de perguntas: “Antes de começar a Coleta eu não conseguia me ver tranquilo frente aos desafios que deveriam ser enfrentados nesse ano, principalmente a difícil situação econômica do país e os altos índices de inflação. Por outro lado, eu não queria limitar o meu olhar unicamente para esse ponto, fazendo-me esquecer de toda a beleza vivida nas edições anteriores”. As palavras do Papa Francisco no encontro com os colaboradores da Fundação Banco Alimentar, em outubro deste ano, o ajudaram a enfrentar o desafio: “Não podemos realizar um milagre como fez Jesus (referente à multiplicação de pães), todavia devemos fazer algo, diante da emergência da fome, algo humilde, e que tem também a força de um milagre. (...) Continuai com confiança esta obra, realizando a cultura do encontro e da partilha.” Assim, também para os petropolitanos o Dia da Coleta foi muito intenso nos dois mercados que assumiram. “Abordei uma senhora que disse estar cansada de pessoas pedindo doações. Levei a sério a reclamação dela, mas vi que meu desejo ia além dessa revolta. Um pouco mais tarde, uma senhora me escutou e me agradeceu por estar ali. De fato nosso desejo é de Infinito!”, afirma Tadeu.

Obrigado Brasil! Neste ano, o Dia Nacional da Coleta de Alimentos arrecadou 157 toneladas em 51 cidades brasileiras. A campanha chegou à décima edição contando com mais de 6 mil voluntários, que passaram o dia em 246 supermercados, pedindo doações. As cidades que concentraram o maior número de arrecadações foram São Paulo, com mais de 24 toneladas, Florianópolis, com mais de 10 toneladas, Belo Horizonte, com mais de 8 toneladas, Brasília, com mais de 7 toneladas, e Sorocaba, com quase 7 toneladas. Após o gesto, os alimentos doados por quem foi aos supermercados foram entregues aos Bancos de Alimentos parceiros nas cidades participantes, que farão a distribuição às entidades cadastradas.
Acompanhe outras informações sobre a ação, como o total arrecadado por cidade participante, e a entrega dos alimentos em www.coletadealimentos.com.br e na página da Coleta no Facebook (https://www.facebook.com/coletadealimentos).

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página