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Passos N.181, Junho 2016

EVENTOS

A novidade da qual não se escapa

por Paola Ronconi

Dos quadros de Millet a Hunger Games. Depois, os refugiados, "A Beleza desarmada", a prisão. Relato do Meeting Lisboa, o encontro português que foi “uma ajuda para todo o país”, como afirmou o Presidente da República

Nas semanas anteriores, a ansiedade era grande. Para Aura Miguel, vaticanista da Rádio Renascença, e presidente do Meeting Lisboa, conseguir encaixar tudo (encontros, hospedagem, exposições, espetáculos...) no Centro Cultural de Belém, velho bairro da capital, de 15 a 17 de abril, parecia uma obra monumental: muitas coisas para organizar e poucas forças. Mas aos poucos, todas as peças do quebra-cabeça foram se encaixando como que "por uma mão misteriosa e paterna". Tanto que a primeira palavra que vem à mente de Aura, logo que o Meeting se encerrou, foi "a desproporção entre o nosso limite e aquilo que o Senhor faz". Mas o desafio foi justamente "entrar" no título dos três dias de encontro: "E tu, que novidade trazes?".

A pergunta do juiz. Receber, a poucos dias da semana do Meeting, a notícia de que o recém-eleito Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, estaria presente na inauguração (com tudo o que uma visita como essa comporta) foi algo que fez o coração disparar. E o Chefe de Estado, uma vez ali, em vez dos quinze minutos previstos, quis ver tudo e todos: a exposição sobre as obras de Millet dedicadas ao trabalho, aquela dos jovens colegiais sobre a saga de Hunger Games, os voluntários, as crianças... Aliás, tinha sido excluída do giro do presidente a mostra dos jovens universitários sobre o tema do Meeting de Lisboa: feita de vídeo e peças teatrais, teria sido complicado e demorado explicá-la a ele. Mas, diante da porta onde estava afixada a pergunta-título do Meeting, perguntou: "E ali dentro? O que há?". E lá se foram mais explicações. "A pergunta que vocês colocam foi formulada muitas vezes na história", atacou o presidente, já no palco. "Portugal é resultado de um encontro de culturas e de civilizações. Vivemos numa sociedade com frequência tentada pelo egoísmo, onde cada um pensa em si mesmo. Mas a realização de si acontece com os outros. Nós nos realizamos ao servir os outros". Por isso veio ao Meeting "atento a qualquer coisa que traga um chamado à compreensão, à abertura e à inclusão do outro. Qualquer um que seja portador dessa mensagem está ajudando a construir as pessoas e o país. Essa é a contribuição que vocês podem dar".
Depois da abertura, a primeira mesa-redonda foi sobre a misericórdia, partindo das condições da atualidade, como a dos refugiados e a dos encarcerados. Falaram Catarina Bettencourt, da organização "Ajuda à Igreja que sofre", e Nicola Boscoletto, da Cooperativa Giotto, que atua no presídio de Pádua, na Itália.
E foi Boscoletto quem contou a história de um presidiário brasileiro, que já havia fugido dezenas de vezes de cadeias e penitenciárias. No final, o juiz, já desconsolado, escolheu para ele a APAC de Itaúna/MG, um presídio com projetos de reinserção social. Depois de dois anos, quando lhe perguntaram por que ainda não tinha fugido, a resposta foi: "Do amor ninguém foge". Essas palavras serão o tema do Meeting de Lisboa 2017.

O presente de Carla. Como não ver uma peça do quebra-cabeça dos três dias de Lisboa na jornada do Papa Francisco em Lesbos, na Grécia, dia 16 de abril? Foi o que destacou Julián Carrón no dia seguinte, no encontro de apresentação de seu livro A beleza desarmada com o historiador Rui Ramos, da Universidade de Lisboa: o Papa nos mostra "que a fé é uma energia capaz de enfrentar todos os desafios" e a novidade que o outro nos traz precisa ser totalmente abraçada. Ramos declarou-se muito impressionado com a ideia de "testemunho e presença", acrescentando que se trata de um livro que "interpela a todos, inclusive aos não cristãos". E a alguém, depois do encontro, ele confidenciou ter ficado muito surpreso ao ouvir um sacerdote falar de liberdade tanto quanto "dessa presença" de Jesus.
"O fato é que essa presença acontecia justamente ali, naquele palco. E meu pai a viu", conta Catarina, uma das organizadoras do Meeting. "Eu sempre procurei um gancho para convidá-lo. Mas este ano não havia nenhum personagem que pudesse atrair a sensibilidade dele. Vou domingo, me disse. E eu: No domingo só vai haver a missa e o encontro com Carrón... Moral da história: ele saiu do encontro com lágrimas nos olhos, dispensando qualquer comentário. Algo aconteceu enquanto aqueles dois falavam no palco".
Na noite de sábado morreu Carla Agria, membro da comunidade de CL em Lisboa, três semanas após ficar sabendo que tinha câncer. "Eu estarei no evento durante os três dias", disse ela à amiga Aura antes do início do Meeting. "Acho que ela levou o Meeting Lisboa ao céu", diz a jornalista. "Isso, para mim, é a irrupção do Mistério, que significa que tudo é d’Ele. Mas, então, eu digo para mim mesma: por que se preocupar tanto, quando é tão simples obedecer?".

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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