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Passos N.181, Junho 2016

ANO SANTO - CONFISSÃO

Um momento estupendo

por Alessandra Stoppa
Frei Emiliano Antenucci.
Frei Emiliano Antenucci.

Ele é um dos Missionários da Misericórdia instituídos pelo Papa para o Jubileu. Frei Emiliano Antenucci, jovem capuchinho, explica o que é – e o que não é – o sacramento da Confissão. E por que, ali se está frente a frente com Ele

“A Igreja, nesta transição histórica, é chamada a oferecer mais fortemente os sinais da presença e da proximidade de Deus”. Assim o Papa Francisco, na Páscoa do ano passado, havia explicado a razão de um Ano Santo dedicado à Misericórdia. Depois, na Bula de proclamação, anunciou: “Tenho a intenção de enviar os Missionários da Misericórdia. Serão um sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de Deus, para que entre em profundidade na riqueza desse mistério tão fundamental para a fé”.
Frei Emiliano Antenucci é um dos mais de mil Missionários queridos pelo Papa. Frade capuchinho, ordenado sacerdote em 2011, em Manoppello, naquele santuário do Rosto Santo onde trabalhava, durante o verão, como guia dos peregrinos. Trinta e seis anos, dinâmico, a sua vocação o levou a diversas cidades italianas, como Assis, Foligno, e Aquila (antes e depois do terremoto), e, agora, a Chieti, no convento de Mater Domini.
Durante um ano inteiro, viveu em eremitérios e mosteiros espalhados por toda a Itália, fazendo pesquisas sobre o silêncio. Assim, fundou o Curso sobre o Silêncio, que hoje acompanha muitos jovens na Itália, no Equador, no México e em outros países. “O que um frade tem a ver com o silêncio?”, ele sorri. “É que o silêncio é o maior mestre. Quando falo com os jovens, vejo muita infelicidade. Isso significa que não se está conseguindo escutar direito o que Deus quer nos dizer”. São Boaventura dizia que os frades são “operários do segundo barco”. Referia-se justamente à missão deles de pregar e confessar, apoiar a vida espiritual até dos párocos. “E enfatizava que não podemos nos perder na administração, na organização, em manter a estruturas. A coisa mais importante é cuidar das almas”, diz frei Emiliano.

O que o Papa pediu a vocês, ao enviá-los?
Antes de tudo, que fôssemos “o sinal vivo do amor do Pai”. Mas isso vale para todos os sacerdotes, todos são missionários da Misericórdia. Aliás, todos os cristãos o são, pois foram chamados a carregar o que é chamado de “o segundo nome do amor”, que é a misericórdia. Eu penso numa imagem precisa: no grito do coração de Cristo na cruz. A misericórdia é uma atitude do coração, em relação a si mesmo e a todos. Todos. Mas só podemos ser misericordiosos porque Deus tem misericórdia de nós.

A vossa missão é “celebrar o Sacramento da Reconciliação para o povo, para que o tempo de graça doado pelo Ano Santo permita aos muitos filhos afastados que reencontrem o caminho da casa paterna”. Mas também serem “anunciadores da alegria do perdão”.
Sim, somos chamados a confessar, com a possibilidade de absolver alguns dos pecados reservados à Santa Sé: a profanação das espécies eucarísticas, a violência física contra o Pontífice, a violação do sigilo sacramental por parte do confessor e a cumplicidade no pecado contra o sexto mandamento. E a absolvição do aborto, neste Ano Santo, é concedida a todos os sacerdotes. Além da confissão, nós, Missionários, somos chamados também a dar catequeses, a pregar a misericórdia através das “missões populares” organizadas pelas dioceses. Eu me sinto particularmente ajudado nessa missão, porque nós, capuchinhos, podemos contemplar nossos santos “especializados”, de São Leopoldo Mandic ao Santo Padre Pio.

O que eles lhes ensinam?
Antes de tudo, que confessar-se não é fazer uma lista negra. Nem é um passe-livre para poder receber a Eucaristia. É, antes, um caminho de conversão. Eu prefiro chamá-la de reconciliação: mais do que penitência ou confissão, é o nome que evoca o caráter fundamental desse Sacramento, que não consiste só na acusação dos pecados, mas no aumento da Graça. A confissão é o lugar onde se recebe a Graça. De fato, o Papa diz que o simples fato de ir se confessar é uma graça; é a graça do reconhecimento.

E “a própria vergonha é uma graça”, diz Francisco.
É verdade. O véu da vergonha se transforma em lágrimas de arrependimento e de alegria. Precisamos reconhecer que somos pecadores, para conhecer a misericórdia. Mas isso não quer dizer que Jesus se encarnou por causa do pecado: Jesus se encarnou porque nos ama. Isso é muito importante. Acho que com uma certa catequese do pecado sacrificamos muita gente, criamos uma espécie de “ascética da tristeza”. Ao invés, no princípio era a alegria, a luz, a Graça. Não o pecado e as trevas.

Na Audiência a CL, um ano atrás, Francisco disse: “O lugar privilegiado do encontro é o carinho da misericórdia de Jesus Cristo em relação ao meu pecado”.
Sim! E isso exige de nós uma resposta livre. Pensemos no que disse Léon Bloy, escritor francês: “Uma santa pode cair na lama e uma prostituta pode ascender à luz”. Essa é a experiência que todos nós fazemos, frente ao dom da misericórdia. A parábola do Filho Pródigo não tem um final feliz, porque é deixada a nós a escolha: prosseguir numa caminhada de santidade ou de trevas. É uma questão de liberdade. Não sabemos como termina a história, para onde vai o filho mais velho ou o que vai fazer o filho mais novo. Cabe a nós o final. “E o anjo foi embora”, como é dito após a narrativa do Anúncio à Virgem Maria. O Senhor nos dá a Graça, os dons, nos faz ver o bem e o mal: “Eu o coloquei sobre o Monte”, agora a escolha é sua. E isso nos permite também lembrar que a confissão não é uma sessão de psicanálise: o sacerdote nos dá a Graça e Deus; o psicanalista, não.

O que ajuda a viver a Confissão com consciência?
A mim, muito me ajudam as três passagens formuladas pelo cardeal Carlo Maria Martini: a confessio laudis, a confessio vitae, a confessio fidei. Antes de tudo, a confessio laudis: antes de me confessar, preciso agradecer ao Senhor por todos os dons que recebi: a vida, a vocação, a casa – muitos não a têm –, a saúde, o estudo ou o trabalho, os amigos... Tudo. Tudo é dom. Portanto, ter um coração agradecido. Aliás, o pecado fundamental é justamente ser “desmemoriado”. Não se lembrar do amor de Deus. O pecado não é transgredir uma lei, mas trair o Amado e o amor que me quer bem. Depois, a confessio vitae. O ato de confessar a um sacerdote – que é um homem como eu, pecador e frágil como eu – todas as minhas contradições, a minha miséria: miseria mia, misericordia Tua, dizia Santo Agostinho. O que me impressiona é que frequentemente nós confessamos pecados já confessados. Não falo daqueles nos quais recaímos sempre, mas daqueles cometidos e já perdoados. Isso ocorre porque nós mesmos não nos perdoamos. O drama é interior. Mas, sobretudo, não acreditamos no perdão de Deus. Mas esse perdão não é um sentimento!

Poderia explicar melhor?
Para Deus, perdoar é esquecer: para Ele, aquilo que foi perdoado você jamais o cometeu. Mas, para nós, essa misericórdia é um escândalo.

A confessio fidei refere-se a isso?
Sim, estar certo, pela fé, de que a misericórdia de Deus é maior do que a minha miséria. Eu não sei se amanhã o sol vai aparecer, mas sei que a misericórdia surgirá antes do sol. O ponto é crescer nessa certeza: Deus nos cobre com o seu manto infinito de misericórdia, maior do que todas as nossas misérias, que Ele joga no fundo do oceano.

O que está aprendendo com este Ano da Misericórdia e com a missão que lhes foi confiada?
Aprendi com o Papa uma prioridade: “Sejam acolhedores. Digam ao outro: você é amado por Deus. E se não for possível dar a absolvição, dê-lhe uma bênção”. Muitas pessoas se afastam da Igreja por falta de acolhimento. Então, também para mim, a primeira coisa é me colocar na atitude de escuta. Em respeito ao outro, ajudá-lo não é “dar-lhe alguma coisa”, não é isso. Lembro agora um ensinamento estupendo do pe. Oreste Benzi: “O pobre não é quem não tem nada, mas sim quem não é nada”. Por isso, somos todos pobres. A coisa mais verdadeira é comunicar ao outro: “Você é importante para Deus, você é importante para mim. Você vale o sangue de Jesus. É uma obra de arte, preciosa aos olhos de Deus”. A primeira virtude de um confessor não é olhar os pecados, mas os olhos do pecador. Foi o que escreveu também São Francisco, numa carta aos fiéis: “Não pretenda que os outros sejam cristãos melhores”. E, depois, numa carta a um ministro diz: “Mesmo que um frade peque mil vezes, você o acolha mil vezes”.

Para o senhor, que experiência é a confissão? Em especial, a objetividade da qual é instrumento: o agir in persona Christi.
Para mim, acolher as obras-primas que Deus fez, cada pessoa, é uma experiência estupenda. E sei que, quando confesso, não sou eu que falo. É um Outro que fala em mim. Tenho memória fotográfica dos rostos, mas as coisas que digo eu não me lembro depois. Naquele momento é o Espírito Santo que fala. É uma experiência que faço também do outro lado: por exemplo, estava indo confessar-me com um monge beneditino, com uma forte pergunta sobre o que é, de fato, a oração; começamos, e ele se pôs a falar sobre a oração..., sem que eu lhe dissesse nada. Ali, a gente faz a experiência de que é Deus quem fala com a gente. Mas justamente por isso é importante se preparar para a confissão, não ir “a frio”, como acontece tantas vezes. E é importante invocar antes o Espírito Santo: seja para nós mesmos, para que nos dê a graça de reconhecer os nossos pecados, seja para o confessor, para que lhe dê a graça e as palavras para nós.

O Papa diz que o mistério da misericórdia de Jesus é que ele “vai além da lei e perdoa acariciando as feridas do pecado, como um confessor”.
Jesus não julga com a lei, porque a lei maior é o amor. Ao invés, nós sempre carregamos conosco o medo de Deus, de que Deus nos condene, nos castigue. E essa é uma responsabilidade também de como “comunicamos” Deus na Igreja. Deus não fica a olhar as nossas loucuras de pecado: Deus é louco por nós. Encarnou-se prescindindo dos nossos pecados, nos ama prescindindo do que nós fazemos. Porque nos ama como filhos. E isso se torna também um método de catequese. Falar do cristianismo como mortificação, como diminuição de vida... Pelo contrário! É um aumento de vida. Foi isso que nos ensinou dom Giussani, não?

O que significa, para um confessor, ser misericordioso?
A misericórdia não é “benfeitoria”. O confessor precisa ajudar a pessoa a tomar consciência do Encontro que está vivendo. Não é uma conversa entre amigos: o outro não está se encontrando com frei Emiliano, mas com Jesus. E, quando a gente encontra Jesus, tem temor e tremor, e ao mesmo tempo está cheio de estupor e maravilha, como uma criança. Do estupor nasce um novo modo de viver. Então, o confessor não deve ser curioso, como nos lembrou o Papa, mas também não ficar mudo: deve doar palavras que sejam medicamento. Que sejam consolo e esperança. Nós precisamos nos dar conta das palavras que dizemos.

O Papa aproxima a misericórdia da palavra justiça, e diz: “Pecadores, sim; corruptos, não”.
Ser misericordioso não significa cobrir os escândalos com um silêncio cúmplice. O Papa diz isso também no seio da Igreja. Nós cobrimos, cobrimos... Mas depois vêm fortes dores. A corrupção, nós todos a vivemos quando nos acostumamos com o pecado: mergulhamos nele, ao ponto de não nos darmos conta do mal. É preciso vigiar, jamais sentir-se acomodado. Estar atentos e vigiar, deixar-se despertar pela vida quotidiana.

Como confessor, como vive a relação entre verdade e caridade?
Nesse sentido, nossa missão como sacerdotes é também a de educar. Ou seja: conduzir o outro docemente à verdade de si mesmo. Conduzir “para fora de si”: do amor sui, o amor próprio, para o amor Dei. Significa libertá-lo de si mesmo: da falsa imagem de si, dos bloqueios que carrega, e também liberar os dons, os carismas que tem. Nós, sacerdotes, não devemos ser administradores do sagrado, mas educadores. Devemos santificar e discernir, mas também educar as almas. Eu tive a graça de ter ficado um tempo na Cartuxa de Serra San Bruno, por onde havia passado André Louf, um dos maiores mestres do discernimento, que dizia: “É preciso estar ao lado de uma alma em tudo, mas sempre um passo atrás, para que em cada encruzilhada ela possa escolher”. Livremente. E depois, creio que precisamos excluir do nosso vocabulário de confessores a palavra rigidez.

O que quer dizer?
A rigidez cria soldados. Deus nos quer como filhos, não como soldados: um soldado obedece, mas talvez o seu coração, não; o filho é dócil e obedece por amor. Porque se sente amado.

O que sentiu quando foi escolhido como Missionário da Misericórdia?
Não sei quais foram os critérios de escolha, mas sei que Deus se lembra sempre de nós, e, de vez em quando, também os nossos “superiores” se lembram de nós. Fora a brincadeira, toda missão é um dom e um mistério de Deus. Acolhi o mandato com o Amém de Maria, que se torna disponível ao projeto de amor que Deus reservou para mim. Creio que Deus não escolhe quem é capaz, pois é Ele que nos torna capazes, com a força do Espírito Santo. Maria nos ajude em tudo isso e nos faça descobrir todo dia o Rosto do Filho nos rostos dos filhos, que precisam do amor do Pai.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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