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Passos N.98, Outubro 2008

RUBRICAS

Cartas

pela redação

Experiência do cêntuplo
Caro Julián, dia 30 de julho faleceu o meu marido Alberto. Morreu à noite, acompanhado em seu último suspiro por Michele, Mauro, Marisa e Guido, Giovanni e Nora, minha irmã Chiara e Stefano, e por mim. Nossos filhos maiores estavam de férias, junto com os universitários, e Massimo, o terceiro, havia chegado, poucas horas antes, da Austrália, ainda a tempo de saudá-lo. Alberto era médico, estava bem consciente da sua doença, sabia que o seu era um caso perdido. Mas a experiência que se impôs aos meus olhos durante o longo período da sua doença – e, depois, cada vez mais claramente, nos últimos meses, com o agravamento do seu estado – foi a sua simples e indestrutível certeza sobre o destino bom que lhe estava reservado. “A gente precisa pedir tudo e agradecer por tudo”, me disse uma vez. Quando estivemos no túmulo de Dom Giussani, num intervalo da sua hospitalização, não hesitou em me dizer que se sentia protegido e que nessa proteção experimentava o cêntuplo. “E se um estropiado como eu vê o cêntuplo”, acrescentou, “quer dizer que o cêntuplo existe”. Seu apego a Dom Giussani, nesse período, foi profundo e total. “Sinto-o próximo – dizia-me ele – porque todas as vezes que estou num beco-sem-saída, ele me acode”. No sábado antes da sua morte disse expressamente a nossa filha Irene – que pelo telefone havia descrito a uma amiga o grave estado de saúde do pai – que ela era pessimista demais, que ele se sentia bem, e até estava admirado de sentir-se assim tão bem. Estava em paz (isso ele disse a Marisa, diante de Massimo, pois ela havia dito que, se estivesse naquele estado, estaria muito abatida). De vez em quando eu lia para ele o livrinho das horas; dos seus raros comentários, lembro-me de dois: “Circundai Sião, girai em torno dela, contai as suas torres”. Veja – disse-me ele – “também nós podemos ver e nos maravilharmos com o que Deus fez em nós; também nós vemos em nossos filhos e em nossa história os muros de Jerusalém, contamos todas as suas torres”. E no Benedictus disse que nós estávamos fazendo exatamente isso, isto é, servindo ao Senhor em santidade e justiça, diante d’Ele, todos os nossos dias. Até o fim ele se apegou tenazmente à vida, amou-nos ternamente e com plena determinação de estar conosco durante todo o tempo que Deus lhe concedesse. Toda a sua serenidade dos últimos dias estava enraizada no fato de que tudo lhe fora dado e, assim, não se lamentava de nada, porque havia usufruído de tudo. No último dia, por uma graça inesperada, pe. Franco lhe deu a extrema unção; embora agindo de modo aparentemente natural, confessou que via os sinais claros da salvação que Deus reserva aos seus. “Morte, onde está o teu aguilhão?”, disse várias vezes, como se dialogasse consigo mesmo, com uma pergunta profunda, firme, real. Entregou seu espírito a Deus sem sobressaltos, dizendo “sim” com todo o seu ser. Quantas vezes, nestes anos, antes de dormirmos, rezamos juntos com as palavras que Dom Giussani disse a pe. Giorgio durante sua doença: “Em tuas mãos, Senhor, confio o meu espírito. Deus de verdade, tu me redimiste. Confio-te o meu espírito”. E assim foi. Agradeço a Deus que, ao levar meu marido consigo, deu a mim e aos meus filhos um sinal poderoso da sua ternura redentora.
Lorenza,
Milão – Itália


No “Meetburger”
Em agosto aconteceu o evento mais insólito da minha vida: o Meeting. No início, era uma palavra abstrata, o nome de algo incompreensível para mim. Meus amigos do Movimento convidaram-me para trabalhar no encontro, explicando que era um grande evento cristão. Quando estava no avião, comecei a me perguntar: "Mas, onde estou indo?", "O que é esse Meeting?", e não sabia o que responder. Depois de alguns dias trabalhando no “Meetburger”, essas perguntas voltaram. A vida que me circundava naqueles dias me obrigava a responder àquelas perguntas e a resposta estava no meu relacionamento com Cristo. No início, foi uma luta: de um lado, o cansaço, do outro, a consciência de fazer parte de uma coisa grande. Um dia, estava muito cansada e saí para caminhar um pouco enquanto os outros trabalhavam. Quando voltei, vi que todos trabalhavam, mas ninguém estava fazendo o meu trabalho, então, tudo ficou atrasado. Pensei que cada um de nós era como os elos de uma corrente, ligados uns aos outros. Perguntei-me: "Qual é o centro dessa corrente? Quem a está fazendo? Quem reuniu essas pessoas (italianos e russos) nesta cozinha para fazer este trabalho juntas?". Então, entendi: Aquele que nos ama, que nos faz feliz, Cristo. Reconhecer isso me tocou muito. Pensando nas perguntas iniciais, uma só é a resposta: para mim, o Meeting é o reconhecimento da presença de Jesus na realidade, no presente, é o desejo de também ser protagonista, como as pessoas que trabalhavam comigo.
Tania,
Novosibirski – Rússia


Familiaridade com Cristo
Em agosto participei da peregrinação de Cracóvia à Czestochowa, num percurso de quase 150 Km, junto com 1.200 jovens que formavam o grupo de Comunhão e Libertação. Para mim esta foi uma ocasião muito importante para compreender melhor o que significa a proximidade cotidiana de Cristo em nossas vidas, o que significa reconhecê-lo em qualquer situação. Meu desejo originalmente era o de agradecer Nossa Senhora e pedir pela minha vocação. Ao longo do caminho e das indicações feitas por aqueles que nos guiavam foi ficando mais clara a afeição de Nossa Senhora por nossas vidas e a beleza com que ela própria havia vivido sua vida. Após alguns dias de fadiga e lamento, começava a ficar muito mais sereno e satisfeito, as coisas começavam a ganhar um brilho mais intenso. A chegada ao Santuário de Jasna Góra foi o momento de maior comoção. Todos nos aproximávamos da praça, em silêncio, atrás do estandarte de Comunhão e Libertação. Quando finalmente chegamos, ainda em silêncio e ao som das palavras do Cardeal, que nos saudava, todos nos ajoelhamos e cantamos Non Nobis: “Não a nós Senhor, mas a Ti seja dada toda a glória”. Este era o juízo (por mais paradoxal que pareça ser) que parecia expressar de forma mais clara aquilo que eu desejava embora fosse por obediência que eu aderia a mais este gesto desde o princípio, não por consciência. Ainda me recordo do tempo passado no Santuário com uma afeição e familiaridade maiores do que tenho por minha própria casa. Ao final da peregrinação, um novo juízo me trouxe tranquilidade e alegria: a beleza que todos havíamos vivido naqueles dias de caminho não era possível devido a uma companhia de pessoas específicas vindas de partes específicas do globo, ou apenas devido a um contexto todo particular, irreprodutível em outras circunstâncias. Aquela beleza era o resultado do reconhecimento da presença de Cristo em nossas vidas durante aqueles dias, e uma atenção particular aos sacramentos. Não éramos pessoas geniais que participavam daquela beleza. Éramos pessoas absolutamente normais que ao sermos simples em seguir as indicações e em confiar nossas vidas a Cristo, e ao manter o coração aberto com um grande pedido, fizemos uma experiência de familiaridade e cotidianidade com Cristo que me traz grande alegria e segurança para passar pelos momentos turbulentos que a vida com certeza ainda irá me proporcionar. A peregrinação fica para mim como uma experiência para fazer memória, mas também como uma indicação de método.
Felipe,
São Paulo – SP


Para sempre
Estou em casa cuidando da minha filha de sete meses, depois de ter deixado a maior, de dois anos, na escola maternal; e enquanto rezo as preces matinais, reflito sobre o que eu e meu marido temos vivido nos últimos tempos. Éramos um casal sem filhos e, de repente, no espaço de alguns meses, aceitamos a guarda provisória de uma menina de três meses e eu engravidei da nossa primeira filha. O bebê que acolhemos foi imediatamente amado por nós e por nossas famílias, com aquele desejo de “para sempre” que todo relacionamento exige, inclusive na dor de, talvez, um dia ter que “deixá-la ir embora”. A chegada dessa menininha foi, para mim e meu marido, um novo encontro com Cristo, com Sua ternura e misericórdia. Ao observá-la, com suas exigências de amor e afeto, nos lembramos d’Aquele que a quis trazer à vida, confiou-a a nós e, para levar adiante o seu destino, escolheu-nos como instrumento do seu renascimento. Agora, chegou uma irmãzinha para fazer-lhe companhia. O milagre dessa nova vida também só pode ser visto por nós como sinal evidente do Seu amor: o Mistério não é mais algo distante, pois nos tocou, é cotidiano, está entre nós, respondeu ao nosso coração de modos e em tempos impensáveis. Estamos, pois, muito contentes e despidos de qualquer medo em relação ao futuro de nossas filhas, porque fizemos a experiência de que Ele está presente e nos acompanha.
Daniela,
Gênova – Itália


Posição racional
Caríssimo Julián, chegou ao fim um ano de Escola de comunidade. Um ano cheio de graças, que me pareceu até muito simples reconhecê-Lo e surpreendê-Lo em ação, no relacionamento com minha mulher Cristina, com as crianças, no trabalho. Antes de tudo, não posso deixar de reconhecer que pela primeira vez me apeguei à Escola de comunidade durante um ano inteiro, sem faltar ao compromisso, nem mesmo quando estava muito cansado e talvez fosse difícil seguir tudo; porém, depois eu pedia ajuda a Cristina e recorria às anotações para recuperar as lições perdidas. Também consegui ler, não digo com frequência, mas seguramente muito mais do que costumava fazer, e sobretudo me surpreendi sentindo um certo mal-estar por ter ficado algum tempo diante da televisão, ao invés de me dedicar à leitura; compreendi que era um tempo perdido. Neste ano aconteceram os retiros do Advento e da Quaresma, os Exercícios, o concerto de Alfredo em Nápoles, os Zerbini... e em tudo isso a Sua constante presença, a graça de poder reconhecê-Lo, visto que Ele está em tudo. Dia após dia, poder viver todas as situações com uma posição diferente, radicalmente diferente daquela que durante vinte anos me “bloqueou”, mesmo vivendo no Movimento, foi como se tivesse começado a respirar, foi finalmente possível dizer “Como Deus é grande”, depois de sempre só conseguir ver como o mundo é bonito! Concluo contando-lhe como foram, para mim, as férias com Eugenio, porque a dificuldade inicial (Cristina com problema na coluna, que praticamente a impedia de andar, a impossibilidade de estar com os amigos, porque eu sempre estava envolvido com um filho, etc.) era inicialmente um escândalo, que me dava até vontade de voltar para casa. Ao invés disso, permaneci firme e foi possível experimentar que a única posição racional é a de um “sim”, a única coisa exigida é entregar-se, ainda que essa entrega gere de imediato um desconforto, ameaçando levar-nos a pensar que não era possível...; mas aí Ele entra pessoalmente no jogo, por meio de uma companhia, e tudo muda.
Ezio

É possível viver assim
No Natal passado, eu queria presentear minha sogra com um Cd muito específico, Cânticos, preces, súplicas à Senhora dos Jardins dos Céus, mas fui surpreendida por ela já o ter. Por curiosidade, resolvi ouvir o tal Cd na sua casa, em um momento de tranquilidade incomum, para quem tem três filhos pequenos como eu. Ao fim da audição tudo aquilo me causou um maravilhamento: seja por causa das músicas, seja pela delicadeza e o primor do que ali estava escrito e confeccionado no encarte dessa obra. E eu me perguntava: o que faz uma cantora como Maria Bethânia fazer isso? O que realmente a moveu? E eu, grata por aquele “encontro”, rezei por ela. E não acreditei e nem imaginei que esse fato teria algum outro desdobramento. Então, aconteceu algo inesperado e totalmente “brilhante”. Sou produtora na área da música regional e trabalho quase que exclusivamente para o violeiro Chico Lobo. Por isso eu jamais imaginaria ser convidada para trabalhar como produtora “local”, na assessoria de uma equipe de gravação de DVD, principalmente no de Maria Bethânia! Mas fui! E toda essa produção foi marcada por pequenas coincidências e igualmente por uma grande liberdade. Desde cruzar o caminho da Bethânia, que passou na minha frente no momento em que chegávamos simultaneamente aos bastidores do teatro, até eu começar a rezar um terço, durante a sua passagem de som, decisiva. Rezei por ela, pela tensão gerada com a notícia de que tudo poderia ser cancelado – mesmo tendo toda uma equipe de mais de 25 pessoas (de SP, RJ e MG) já a postos (e com grande parte dela tendo já trabalhado ao longo da madrugada) –, se assim o decidisse a dona do show, na passagem de som! Enfim, rezei pelo sentido de tudo aquilo. Foi curioso. Todos – mais de 100 pessoas nos bastidores –, tensos, preocupados, silenciosos ou fechados em conversas com suas próprias células de equipe. E eu ali leve, livre, feliz, com meu tercinho em mãos, com a certeza, estranhíssima, de que se eu estava ali a gravação ia acontecer e tudo o que acontecesse seria bom! Creio que experimentei, de relance, o que a Nossa Senhora sentiu quando disse aos servos que enchessem as talhas de água e fizessem tudo o quanto Ele os dissesse: uma confiança impressionante! Bom, a gravação aconteceu nos dois dias, como deveria ser. Todos os problemas de última hora (e foram muitos), bem resolvidos. E eu com uma certeza enorme que se agigantava dentro de mim de que não havia sido “colocada” ali, por acaso. Eu não sabia o que era exatamente. Mas isso só se tranquilizou no último dia, após o fim do espetáculo. Maria Bethânia já fazia sinal à sua produtora pessoal para não permitir a entrada de mais ninguém. Justamente nesse momento eu cheguei. Ia falar com ela, pela primeira vez na vida! E inclusive, vestida exatamente do jeito que já haviam me dito que ela não gostava: toda de negro. Esse era o uniforme da minha equipe que devia trabalhar “invisível” no escuro. Cheguei com um livro na mão onde havia uma dedicatória, para ela, escrita momentos antes, quando fui assistir a uma assembleia do Movimento. Assim, diante da grande cantora, eu (a “invisível” toda de negro, em um momento “trágico-cômico”), sorri confiante e entrei em seu camarim. Confesso, me peguei de repente desconcertada (e no íntimo até surpreendida), com a extrema simpatia demonstrada pela artista a mim que não era sua conhecida. E percebi que naquele momento Maria Bethânia recebia de presente o livro É possível viver assim? do “rosto bom do Mistério” que passava ali, naquele momento, através de mim! Ela sorriu, folheou e em algum momento depois leria a seguinte dedicatória: “É belo viver porque viver é recomeçar a cada instante (Cesare Pavese). Começar é sempre possível quando corresponde ao coração. Desejo que a leitura desse livro possa ser um farol amigo”. Depois de breves palavras, saí do seu camarim com uma exultação dentro de mim que brotava da certeza de que agora eu sabia qual tinha sido o meu verdadeiro trabalho. E que eu, por pura graça, o tinha cumprido! Cumprido algo grande, maior do que eu (e que não cabia a mim saber seu desfecho futuro). Superava, inclusive, todo o meu estilo pessoal, pois nunca fui de falar com artista. Superava-me e me dava em troca uma enorme alegria e a certeza de que vale a pena viver os encontros da vida assim! Isso ainda reforçou em mim a certeza de que a realidade é nossa amiga. Mesmo quando indica (aparentemente e paradoxalmente), o contrário! Pois o seu tecido é feito por um Outro! E Ele é meu amigo! Por isso a realidade pode ser enfrentada, vivida, não mais como desconhecida ou inimiga, pois em tudo está presente essa infinita bondade, a Presença que quer me encontrar, quer se relacionar comigo.
Ângela,
Belo Horizonte – MG


Voltar para casa
Só a partir deste ano passei a fazer parte do grupo dos colegiais. Eu vivia a minha vida como se ela fosse inútil, algo que a gente podia desperdiçar. Antes das férias de julho fazia dois anos que eu não participava da missa; não acreditava em Deus; eu me achava mais forte, mais poderoso do que Ele. Era um daqueles que pensam assim: “Onde está Deus nos momentos de dificuldade, nas adversidades da vida?”. Mas depois das férias percebi que Deus é o centro da vida, a coisa mais importante que existe, nos dá a liberdade, faz parte integrante do meu ser. E pensar que antes eu achava que os colegiais eram uns idiotas que se reuniam para cantar canções bobas e discutir sobre algo que achava que só eu tinha: liberdade. Mas agora sei o que é a verdadeira liberdade. Antes talvez eu estava “largado”, inclusive porque em minha família ninguém dá bola para a religião, e aí ninguém me estimulava a encontrar a minha liberdade. Mas estou certo de que com as pessoas maravilhosas que conheci, isso não voltará a acontecer. Elas são a parte mais significativa da minha mudança. Portanto, agora posso dizer: “Estou em casa!”.
Antonio,
Palermo – Itália


Percurso da fé
Oi, Julián, estou frequentando a Escola de comunidade há alguns meses, depois de 25 anos passados distante da Igreja e da fé, afastado por causas que Giussani bem identifica: para muitos, a relação entre nós e o divino não passa de palavras, apesar de alguns “sinais” concretos espalhados pelo caminho. Esses “sinais” eram peças de um quebra-cabeça que eu não conseguia montar; e assim minha vida corria no mais completo agnosticismo; eu estava convencido de que a razão explica tudo, de que por meio dela a gente pode controlar e dominar a vida, até à morte de minha filha, em janeiro. Aí as peças (“sinais”) de repente se encaixaram; o véu que me impedia de reconhecê-las pelo que eram (= expressão do Mistério no real) rasgou-se de alto a baixo. Do sorriso de uma criança encontrada na rua ao meu casamento, à minha amizade com pessoas do Movimento, ao nascimento de minha filha, à morte da outra. Tornou-se impossível não reconhecer nesse evento a ação do Mistério. O instinto me empurraria para o desespero, para a revolta, para a resignação, talvez até mesmo para a blasfêmia. A razão, ao invés, finalmente compôs o quebra-cabeça e vi que o Mistério que envolve a vida e se manifesta nela me impôs enfrentar o evento como homem, sustentando minha mulher e nossas famílias, redescobrindo valores e intimidades que, por considerá-los óbvios, corremos o risco de perder, apesar de tê-los sempre ao alcance das mãos. E a razão queria que eu aprofundasse as intuições e os pensamentos desencadeados por esse evento. Minha liberdade, enfim, me levou a recomeçar o jogo aos 36 anos de idade e passei a frequentar a Escola de comunidade...; ninguém me obrigou a nada, para mim foi uma natural consequência de ter usado, talvez, finalmente a razão de modo correto, mas eu podia também não fazê-lo... a minha vida de qualquer forma prosseguiria. Foi uma escolha livre, ditada pela razão e pela consciência de que ela estava me levando para uma direção que eu sempre quis evitar, por preguiça, distração, soberba: a fé. Não sei rezar, não sei cantar; a duras penas recito o Pai-nosso e a Ave-Maria, não conheço os Evangelhos, mas tudo o que senti e vivi nestes meses de Escola de comunidade e Exercícios foi extraordinário. Aos olhos da razão, antes que da emoção, é isso que me convence da bondade da minha – livre – escolha. Hoje, graças a isso, iniciei uma trajetória de fé que me fez retomar o contato com Jesus, a realidade, os homens e o infinito.
Dario

Olhares fascinantes
Caros amigos, o Meeting de Rímini terminou há pouco, mas logo concluí ser necessário guardar no coração a experiência feita nesses dias, ao trabalhar como voluntário no centro de imprensa. No início, foi um motivo de orgulho: com o nosso (o meu!) trabalho, contribuímos para a realização desse grande Meeting, nos tornamos também protagonistas. Mas depois veio a questão: protagonista do quê? Percebi assim que, se o mendigo é protagonista da história, o que me deixou contente (e atento) nesses dias foi o estar envolvido na busca da verdade para a minha vida, ao acompanhar os encontros realizados. Vi e ouvi pessoas que vivem como homens verdadeiros e que nos testemunham que “é possível viver assim”. Essa verdade eu a captei, não só nas palavras, mas também nos olhares. O olhar de Franco e de seus amigos, presos mas livres, porque se tornaram protagonistas da própria vida, graças ao trabalho e à amizade dos que os ajudaram a compreender que nem as coisas mais feias têm a última palavra sobre nós: esse desejo de infinito que existe dentro de nós ninguém pode cancelar ou aprisionar. E, depois, o olhar de Vicky na gigantografia, que sempre nos acompanhou, dizendo-nos que, na doença, também somos objetos de uma misericórdia e, por isso, podemos ser misericordiosos com os outros. E fiquei fascinado com o olhar de Solzenitsin, que aparece na foto como símbolo da exposição e que se mostrou muito vivo e esperto em sua última entrevista. É o olhar de quem sondou toda a realidade, em suas chagas mais terríveis, buscando em todas as coisas a verdade para continuar sendo homem. Fomos abraçados por olhares fascinantes: Rose, Cleuza e Marcos, Shodo Habukawa, Margherite e tantos outros que levaram ao Meeting suas experiências de pessoas que mudaram a realidade terrena porque se voltaram para o Infinito. Fiquei impressionado com o modo como fui olhado: por minha mulher, que me saudava desejando-me feliz jornada, enquanto ela própria ia desempenhar a sua função; por Laura, que estava atenta ao que eu fazia, porque queria aprender; por Eugenio e pelos amigos que recebiam os nossos “comunicados”, que se tornaram mais amigos por causa do Ângelus da manhã e o Réquiem por Francisco, um dos nossos que este ano não esteve presente, por ter sido chamado pelo Pai. Cada um de nós, nesses dias, foi tocado pelo olhar de alguém que, em sua beleza humana, representou o brilho da verdade.
Angelo,
Termoli – Itália

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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