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Passos N.190, Abril 2017

IMIGRANTES | EUROPA

A fábula alemã

por Paolo Perego

A abertura das fronteiras e o acolhimento dos refugiados: “Muitos de nós os adotaram”. Acontece na Alemanha

Fim de janeiro de 2016. Uma assembleia de cidadãos em Forst, seis mil habitantes no vale do Reno, entre Stuttgart e Frankfurt. Tema: a chegada, em fevereiro, de duzentos imigrantes sírios, afegãos e iraquianos, num centro de acolhimento. Bem no meio da cidade, entre as casas dos habitantes. A reunião pega fogo. Alguns, de extrema direita, não os querem. Mas na saída um grupinho não se importa. Passados alguns poucos dias nasce uma associação: “Netzwerk: Willkommen in Forst” (Bem-vindos a Forst).
Ali a Europa ainda sabe construir a Europa. E os habitantes se organizaram. Resultado? Cursos de língua alemã para diversos níveis, inclusive com professores não profissionais; uma oficina para reparar as velhas bicicletas doadas pelos cidadãos aos refugiados para eles se movimentarem pela cidade e pelos arredores; aulas de costura, para dar emprego a muitos que em seu país estavam empregados no setor. E também iniciativas esportivas, passeios, atividades para o tempo livre...
Tudo isso acontecia a poucos meses de um fato histórico. É difícil dizer o que realmente levou Ângela Merkel – a “superchanceler” alemã, no início de setembro de 2015 – a declarar que a Alemanha acolheria sem reservas os imigrantes que pedissem asilo para escapar da guerra em seus países. Um ano antes ocorreram episódios de violência neonazista. E havia milhares de homens, mulheres e crianças assassinados na Grécia, quando estavam em viagem pela Europa através da rota balcânica. Também uma União Europeia titubeante, com muitos países-membros fechando fronteiras e levantando muros ao longo das mesmas. Havia também ocorrido o fato com o pequeno Aylan, fotografado morto numa praia grega, europeia, fato que abriu os olhos de muitos para o que estava acontecendo no mar em frente à Turquia.

Na estação. De fato, entre o final de setembro e outubro de 2015, multidões de cidadãos alemães, com cartazes de “bem-vindos”, se encontraram nas plataformas da estação de Munique da Baviera esperando os trens carregados de vítimas que entravam no país. E assim em outras cidades, e em dezenas de pequenos povoados. Um acolhimento popular providencial, com as administrações vivendo um impasse frente à emergência.
O povo alemão havia acolhido, só em 2015, mais de um milhão de refugiados, 40% deles sírios. Em Berlim, as instituições logo entraram em crise. Mas no espaço de uma noite, voluntários abriram um local para as doações e assim saciaram a fome de centenas de pessoas. Muitos cidadãos acolheram em suas casas os refugiados naquela noite. E quando foram fechadas as cozinhas móveis, na cidade, por motivos higiênico-sanitários, o ônus de saciar a fome daquele povo foi assumido por algumas entidades representativas dos cozinheiros e dos restaurantes.
“Fábula do outono de 2015”, foi como se rotulou esse movimento. Em todo o país, escolas e ginásios de esporte foram transformados em centros de acolhimento, de ajuda médica e sanitária, de apoio nas exigências administrativas. Com a imaginação dos indivíduos geralmente superando todas as expectativas, como os que se ofereciam como motoristas ou babás, e os concertos, as cerimônias de boas-vindas, as festas... E se não há um final feliz é porque a emergência ainda não terminou. Só rosas e flores? Longe disso.
Desde o início muitos não estavam de acordo com a opção de Merkel. E mesmo a mídia, que no começo enfatizava a euforia pelo acolhimento, começou a destacar os problemas, alimentando a desilusão e aumentando o crédito da direita conservadora e dos movimentos xenófobos. “Basta”, foi a manchete de muitos, após as violências contra mulheres, em Colônia, na noite de São Silvestre de 2016.
No entanto, “o empenho do voluntariado é ainda tão forte como no verão de 2015”, comenta o secretário geral da Cáritas alemã, Georg Cremer. As razões estão no fato de que aquele empenho da primeira hora não era só ideológico ou politicamente correto – como para alguns políticos, que em pouco tempo recuaram. Para os voluntários, tratava-se de uma disponibilidade real, diante do sofrimento daquele povo. E para muitos foi uma oportunidade.

Acolhida. Como em Forst, nas palavras de uma mulher que assim descreve aquela experiência: “Muitos de nós adotaram os refugiados. A nossa família acolheu curdos – pai, mãe e dois filhos – que há quinze anos viviam fugindo da sua terra. Diferentes culturalmente, mas nasceu uma amizade que só nos enriqueceu. O que aconteceu nestes meses mudou o rosto da nossa cidade. E até as instituições colaboraram, oferecendo meios e dinheiro. Na inauguração de um centro recreativo estavam presentes aposentados, famílias, crianças. Refugiados e não refugiados. E havia só rostos alegres, enquanto o cozinheiro sírio oferecia a todos especiarias do seu país”.
Mas esta não é só a Alemanha: seu nome é Europa.
(Colaborou: Christoph Scholz)

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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