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Passos N.191, Maio 2017

DESTAQUE | PAPA FRANCISCO

De onde renasce a esperança?

por Papa Francisco

O mundo está em conflito. Ataques terroristas na Europa, tensões de guerra entre potências mundiais, e, no Brasil, uma crise política que parece sem fim, com acusações de corrupção por todo lado, além da violência com números alarmantes. Cada um de nós, sobrecarregados, também, com os problemas e as dificuldades pessoais, que às vezes parecem insuperáveis, pode viver um cansaço que se traduz numa falta de estima e numa desconfiança pelas questões sociais. Há esperança de sairmos desta situação bloqueada, que nos deixa insatisfeitos e desiludidos? Como afirmava Dom Giussani, o cristianismo não resolve nossos problemas, mas nos ajuda a ficar na posição mais justa para resolvê-los. Assim, quando a Igreja nos indica o Tempo da Páscoa, o Tempo da Ressurreição de Cristo, que se estende por sete semanas até a Festa de Pentecostes, chama a atenção para a alegria que deve dominar a vida do cristão. Temos diante de nós um testemunho vivo do que significa olhar para o futuro com esperança, não esquecendo os problemas ou se escondendo, como vimos em sua recente viagem ao Egito. Por isso, colocamos em evidência alguns trechos do PAPA FRANCISCO, que com sua certeza desarmante nos ajuda no caminho de fé cotidiano. São mensagens da primeira semana após a Páscoa.

“Jesus trouxe ao mundo uma esperança nova e fê-lo como a semente: fez-se pequeno, como um grão de trigo; deixou a sua glória celeste para vir entre nós: “caiu na terra”. Mas ainda não era suficiente. Para produzir fruto Jesus viveu o amor até ao fim, deixando-se despedaçar pela morte como uma semente se deixa romper embaixo da terra”.

“Assim, na Páscoa, Jesus transformou, assumindo sobre si mesmo, o nosso pecado em perdão. Mas, ouvi bem como é a transformação que a Páscoa realiza: Jesus transformou o nosso pecado em perdão, a nossa morte em ressurreição, o nosso medo em confiança. Eis porque na cruz nasceu e renasce sempre a nossa esperança; eis porque com Jesus toda a escuridão pode ser transformada em luz, as derrotas em vitórias, as desilusões em esperanças. Todas: sim, todas. A esperança supera tudo, porque nasce do amor de Jesus que se fez grão de trigo na terra e morreu para dar vida e daquela vida plena de amor vem a esperança”.

“Quem é voraz nunca se sacia. E Jesus diz isto de maneira direta: “Quem ama a própria vida perde-a” (Jo 12, 25). És voraz, procuras obter muitas coisas mas... perderás tudo, inclusive a tua vida, isto é: quem ama a si próprio e vive pelos seus interesses só se enche de si mesmo e perde. Ao contrário, quem aceita, é disponível e serve, vive da maneira de Deus: então é vencedor, salva-se a si mesmo e aos outros; torna-se semente de esperança para o mundo. É bom ajudar os outros, servir os outros... Talvez cansemo-nos! Mas a vida é assim e o coração enche-se de alegria e esperança. Isto é amor e esperança juntos: servir e doar”.

“Certamente, este amor verdadeiro passa através da cruz, do sacrifício, como para Jesus. A cruz é a passagem obrigatória, mas não é a meta, é uma passagem: a meta é a glória, como nos mostra a Páscoa. E aqui ajuda-nos outra imagem muito bonita, que Jesus deixou aos discípulos durante a Última Ceia. Diz: “Quando a mulher está para dar à luz, sofre porque veio a sua hora. Mas, depois que deu à luz a criança, já não se lembra da aflição, por causa da alegria que sente de ter nascido um homem no mundo” (Jo 16, 21). Eis então: doar a vida, não possuí-la. Assim fazem as mães: dão a vida, sofrem, mas depois alegram-se, se sentem felizes porque deram à luz outra vida. Dá alegria; o amor dá à luz a vida e até um sentido à dor. O amor é o motor que impele a nossa esperança. Repito: o amor é o motor que impele a nossa esperança”.

“A todos fará bem parar diante do Crucifixo – todos vós tendes um em casa – olhar para ele e dizer-lhe: ‘Contigo nada está perdido. Contigo posso esperar sempre. Tu és a minha esperança’”.


“A Igreja não cessa de dizer às nossas derrotas, aos nossos corações fechados e temerosos: “Parem, o Senhor ressuscitou”. Mas se o Senhor ressuscitou, como existem essas situações? Tantas desgraças, doenças, tráfico de pessoas, guerras, destruições, mutilações, vinganças, ódio? Mas onde está o Senhor?”

“Isto não é imaginação, a Ressurreição de Cristo não é uma festa com muitas flores. É bonito, mas não é só isto, é mais: é o mistério da pedra descartada que acaba por ser o fundamento da nossa existência. Cristo ressuscitou, eis o que significa”.

“Nesta cultura do descartável na qual o que não serve é usado e deitado fora, o que não serve é descartado, aquela pedra – Jesus – foi descartada e é fonte de vida. E também nós, pedrinhas pelo chão, nesta terra de dor, de tragédias, com a fé no Cristo Ressuscitado ganhamos um sentido no meio de tanta calamidade. O sentido de olhar para além, o sentido de dizer: “Olha não há muros mas horizontes, há vida, alegria, a cruz com esta ambivalência. Olha para a frente, não te feches. Tu pedrinha, tens um sentido na vida porque és uma pedrinha junto daquela pedra, a pedra que a malvadez do pecado descartou”. Que nos diz a Igreja hoje diante de tantas tragédias? Isto, simplesmente. A pedra descartada não resulta deveras descartada. As pedrinhas que acreditam e se apegam àquela pedra não são descartadas, ganham um sentido e com este sentimento a Igreja repete do fundo do coração: Cristo ressuscitou”.


“Ele morreu, foi sepultado, ressuscitou e apareceu. Ou seja, Jesus está vivo! É este o cerne da mensagem cristã”.

“Morreu, mas ressuscitou. Porque a fé brota da ressurreição. Aceitar que Cristo morreu, e morreu crucificado, não constitui um gesto de fé, mas um acontecimento histórico. Ao contrário, crer que ressuscitou, sim. A nossa fé nasce na manhã de Páscoa”.

“Em Paulo tudo era perfeito, ele sabia tudo – neste quadro de vida perfeito, certo dia acontece algo que era absolutamente imprevisível: o encontro com Jesus Ressuscitado no caminho de Damasco. Ali não havia apenas um homem caído no chão: havia uma pessoa arrebatada por um acontecimento que teria invertido o sentido da sua vida. E o perseguidor tornou-se apóstolo, mas porquê? Porque eu vi Jesus vivo! Vi Jesus Cristo Ressuscitado! Eis o fundamento da fé de Paulo, assim como da fé dos demais apóstolos, da fé da Igreja, da nossa própria fé”.

“Como é bom pensar que o cristianismo é essencialmente isto! Não é tanto a nossa busca em relação a Deus – na verdade, uma procura tão vacilante – como sobretudo a busca de Deus em relação a nós. Jesus alcançou-nos, arrebatou-nos, conquistou-nos para nunca mais nos deixar. O cristianismo é graça, é surpresa, e por este motivo pressupõe um coração capaz de admiração. Um coração fechado, um coração racionalista, é incapaz de admiração, e não consegue entender o que é o cristianismo, porque o cristianismo é graça, e a graça só se sente, e além disso só se encontra, no enlevo do encontro”.

“Ser cristão significa não começar a partir da morte, mas do amor de Deus por nós, que derrotou a nossa acérrima inimiga. Deus é maior do que o nada, e é suficiente uma vela acesa para vencer a noite mais escura. Fazendo eco aos profetas, Paulo clama: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão” (v. 55). Nestes dias de Páscoa, conservemos este brado no coração. E se nos perguntarem o porquê do nosso sorriso concedido e da nossa partilha paciente, então poderemos responder que Jesus ainda está aqui, que Ele permanece vivo entre nós, que Jesus está ao nosso lado aqui na praça: vivo e ressuscitado!”

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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