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Passos N.191, Maio 2017

SOCIEDADE | JUVENTUDE

O risco de viver

por Erivelton Geraldo Nepomuceno

A depressão e o suicídio estão à nossa volta. Paradoxalmente, apesar de mais conectados, os jovens têm sido vítima da solidão. Recentemente, este tema tem sido abordado em seriado na internet, programas de televisão, e causam preocupação na sociedade. Conversamos com Dr. Sérgio Ishara, Psiquiatra e professor na USP de Ribeirão Preto (SP).

Há sinais que a família, educadores e os próprios jovens podem perceber?
De maneira geral o isolamento e a presença de sintomas depressivos, como tristeza, desânimo, ansiedade, problemas de sono e alimentação podem ser um sinal de alerta, mas o mais importante seria verificar a presença de relacionamentos significativos, objetivos de vida e capacidade de aproveitamento da vida cotidiana.

Como se dá a transição de um jovem ativo e alegre para um jovem depressivo?
É preciso cuidado com as aparências, muitas vezes mesmo alguém que parece ativo e alegre pode estar numa condição de fragilidade psicológica e sofrimento, por isso a importância de um relacionamento efetivamente próximo com o jovem, que permita um acompanhamento e um diálogo consistente.
De qualquer forma, eventos estressantes, como frustrações e perdas, costumam ser elementos importantes para o desencadeamento de quadros depressivos. Porém, os eventos estressantes atuam mais quando atingem pessoas vulneráveis e fragilizadas. Desta forma, embora o problema possa tornar-se visível de uma hora para outra, em geral existe um longo percurso até o desenvolvimento de sintomas.

O que fazer para prevenir?
A resposta é muito ampla porque em princípio tudo o que promove a vida pode ajudar. Neste sentido, podemos destacar o cuidado com os relacionamentos familiares e as amizades como algo particularmente importante.
É necessário que o jovem aprenda a amar a vida, e isto é muito mais do que apreciar “coisas boas”. Trata-se de desenvolver uma capacidade de atenção, apreço e interação por tudo o que acontece. Neste sentido, torna-se fundamental uma aprender a lidar com situações adversas, compreendendo que as dificuldades e o sofrimento não são o “lado ruim da vida”, como se costuma pensar. Para tanto, deve-se valorizar a capacidade de “estar vivo”, ou seja, a possibilidade de acontecer em meio a qualquer circunstância, podendo avaliar os fatos em uma perspectiva de percurso humano, não de modo ingênuo ou futurista, do tipo “está ruim agora, mas vai melhorar”, mas num horizonte de descobertas de sentido e valor em tudo o que acontece na vida. Para aprender isto é necessário um trabalho educativo.

Como arriscar, seguindo o método de Dom Giussani, nessas situações. Qual é o risco que se deve correr para resgatar esses jovens?
O risco de viver! A contribuição de Giussani foi extraordinária porque viveu o método que formulou, experimentou ele mesmo a consistência do próprio “coração” como elemento capaz de permitir avaliar e estar dentro da vida cotidiana. Ele redescobria continuamente, de forma vibrante, uma positividade na realidade. Vivendo o método que formulou, tornou-se um mestre. Isto todos nós precisamos: pessoas que documentem, no dia a dia, que é possível viver a vida com tudo que acontece e se tornem testemunhas da possibilidade de apego à vida.
Neste sentido, no meu trabalho, convivo com pessoas que já tentaram suicídio e aprendo muito com elas porque estão redescobrindo o caminho de viver. Elas mostram como a essência da pessoa humana nunca se perde e por isso, quando encontram ajuda, podem retomar a busca pela vida, expressa em desejos como, por exemplo, voltar a cuidar da casa, rever as lembranças de sua própria história e cuidar de suas dolorosas feridas. Alguém poderia indagar, se existe algo de especial nisso. Eu penso que são pessoas acontecendo, nas quais, em alguns momentos, é possível entrever até um brilho no olhar e, desse modo, aprendo muito com elas.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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