Os participantes do Fórum da CdO receberam a visita do Arcebispo de São Paulo, Cardeal Dom Odilo Scherer, que falou sobre como a Igreja se coloca diante dessa mudança de época
Dom Odilo começa sua fala destacando que os cristãos vivem nesse mundo em transformação, misturados com ele e com a sua lógica, e não protegidos em uma bolha. Mas encaram tudo a partir da luz da fé. Mantendo a proposta de Fórum, o arcebispo também partiu das perguntas. “Será que a nossa lógica é exatamente a mesma? Que papel desempenhamos nós, cristãos, dentro deste mundo? ”, indagou.
Uma das questões fundamentais para a Igreja, enfatizada na Conferência de Aparecida, lembrou o Cardeal, é que “Vivemos não uma época de mudanças, pois sempre há mudanças, mas ao que tudo indica vivemos uma mudança de época. Uma guinada de rumo nos padrões do trabalho, do emprego, da remuneração, das relações entre capital e trabalho, das relações sociais. Com essa mudança vem, sobretudo, a preocupação com o emprego, o salário, a educação, e a subsistência”.
“Vocês, enquanto profissionais cristãos, profissionais que têm fé, estão exercendo justamente o seu papel de leigos, a partir do seu espaço, do seu trabalho, da sua profissão, da sua especialização, da sua percepção e da sua inserção no mundo. E assim podem não só refletir, mas também ajudar a ver para onde as coisas vão.Vamos simplesmente deixar que as coisas nos levem para onde querem levar, sem ajudarmos a oferecer um rumo, ou vamos intervir da nossa maneira, ajudando o mundo, ajudando a história, ajudando a sociedade a tomar um rumo?”, provocou Dom Odilo.
Segundo o Cardeal, a palavra mais lúcida da Igreja sobre isso está na Encíclica Caritas in Veritate, do Papa Bento XVI, na qual o Papa retoma a reflexão da relação capital-trabalho, seus novos desdobramentos em vista das novas tecnologias, das novas situações, das novas relações entre os povos, das novas situações da pobreza, que continua e não se supera, e das políticas econômicas e financeiras do mundo.
Considerando as rápidas transformações tecnológicas que afetam a economia, a sociedade e o meio ambiente, o Cardeal enfatizou que ninguém sabe exatamente como vai ser a questão da relação capital-trabalho, porque a verdade é que o capital tende a se autodefender e se autopromover, tentando abocanhar melhores vantagens. Todo o mundo tem de estar preparado para dar o próximo passo, mas ainda não sabemos bem onde pisar. “Então, o que permanece de sólido nisso?”.
“Em primeiro lugar, a pessoa humana. E aqui está o princípio fundamental da Doutrina Social da Igreja, que o Papa Emérito Bento XVI e o Papa Francisco recordam em vários momentos dos seus pontificados. A pessoa é mais importante que o capital e que o trabalho. Capital e trabalho estão em função da pessoa, e por isso da dignidade da pessoa”, disse.
E continuou lembrando que em segundo lugar, estão as relações de respeito aos princípios de justiça. "O Papa tem dito recentemente que um critério fundamental para pensar a justiça hoje não é simplesmente dar a cada um o que lhe pertence, porque qual é o horizonte que define o que lhe pertence? Mas dar a cada um o que lhe é devido, a partir da sua dignidade, a partir da sua existência como pessoa”.
Lembrou, ainda, que o Papa Francisco traduz isto no critério da fraternidade, um critério que deve ser levado em conta na justiça, que deverá entrar também na economia e nas relações de trabalho; para depois entrar nas relações políticas e até nas relações internacionais. Falando sobre a fraternidade, o Cardeal retomou o Concílio Vaticano II: “Nós somos uma única família, de modo que o bem de um deve ser o bem para os outros, deve ser o bem de todos, o que é mal para um não pode ser bom para outro”.
Para Dom Odilo, todos estes princípios (a dignidade da pessoa, a justiça e a fraternidade; o bem comum) são princípios fundamentais, que não podem ser negados nem, de má fé ou de maneira interesseira, manipulados ou distorcidos no seu verdadeiro significado. Lembrou-nos que é importante que nós estejamos atentos ao que se passa, para sermos também nós participantes e protagonistas na construção desta história. "Então coragem! Coragem para pensar juntos, ajudar juntos”, enfatizou.
Retomando a Encíclica Laudato Sì, do Papa Francisco, Dom Odilo finalizou sua fala lembrando os impactos do avanço tecnológico sobre o meio ambiente. “Coloca-se aqui o que em moral é tão comum: nem tudo o que me é possível me é lícito; nem tudo o que a ciência permite fazer me é lícito; nem todas as possibilidades que a tecnologia oferece devem ser usadas imediatamente. Isto é um critério ético e moral que não pode ser esquecido. São questões complicadas não na compreensão, mas na aplicação, porque sempre estamos diante de escolhas que podem trazer melhores vantagens ou lucros, mas que causam a perda de empregos e a miséria de muitas famílias, além dos efeitos sobre o meio ambiente”.
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