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Passos N.197, Novembro 2017

RUBRICAS

Cartas

OS VOTOS DE LUNA: NUNCA FIQUEM TRANQUILOS
Caro Julián, a experiência da mostra sobre as Novas Gerações, no Meeting de Rímini (da qual fui curadora junto com outros amigos), foi fonte de muitos encontros e rica de surpresas muito significativas. Uma delas, é amizade com Luna, estudante de origem marroquina e de fé muçulmana, protagonista de um dos vídeos da Mostra. Veio ao Meeting para ser guia, conheceu a nós e a muitos jovens. Aqui está o que escreveu alguns dias atrás: “Passei a vida esperando, um dia, encontrar alguém de quem meu coração se sentisse próximo de alguma maneira. É difícil compreender o que pode ligar as pessoas que têm culturas, histórias e educação diferentes, mas, se buscada no fundo do coração, a resposta é fácil: a Amizade, com ‘A’ maiúsculo. A Amizade vai além das diferenças, mais que isso, as ultrapassa prepotentemente, simplesmente porque o coração humano, qualquer que seja o seu país de origem, bate do mesmo modo e quer a mesma coisa. É isso o que nos permite sermos amigos e nos compreendermos, e a coisa igualmente maravilhosa é que compreendi isso graças ao encontro que tivemos. Conhecer a mim mesma me permitiu ter uma maior consciência do próximo, a mesma consciência que vi nos olhos de vocês e ouvi através das suas palavras. O mundo de hoje normalmente nos leva a temer o encontro porque isso nos leva a nos questionarmos, a nos conhecermos nos nossos desejos mais íntimos e profundos. Nos olhos de vocês não vi esse medo, mas vi o desejo do confronto, e isso me marcou de tal modo que mudou o meu caminho, para melhor, naturalmente, Um jornalista, no Meeting, perguntou- me qual seria a solução para o jihad, mas a solução estava na frente dele: para responder a isso bastava que olhasse para o relacionamento que havia entre nós e todos os jovens que encontramos no Meeting. Será, então, que é a nossa religião que nos divide? Não. O que nos divide é não nos confrontarmos de coração aberto, de ser humano para ser humano, é permitir que o mundo anestesie os nossos desejos, não é a fé, ou a origem, ou a cor da pele. Enquanto os homens se olharem vendo a cor da pele e não o coração, não haverá diálogo. Muito obrigada por tudo, guardo cuidadosamente a experiência do Meeting no coração. Faço votos de que consigam tudo o que desejam, que nunca percam de vista as necessidades do coração de vocês e que nunca fiquem tranquilos, como Dom Giussani lhes disse”.
Giorgio, Milão (Itália)

DISARMING BEAUTY
PARA QUE PENETRE A MINHA VIDA
Mark, o responsável pela nossa comunidade de Ann Arbor, contou- me sobre um telefonema que recebeu de uma pessoa que mora a duas horas e meia daqui, em Holland, Michigan, e que encontrou o seu contato no site de CL dos Estados Unidos. Este senhor leu A beleza desarmada (Disarming Beauty) e ficou muito impressionado (a palavra que ele usou foi blowed over, “estarrecido”). Disse a Mark que gostaria de trabalhar o livro junto com outras coisas de modo que aquilo pudesse “penetrar mais na sua vida”. Por isso, perguntou em sua paróquia se havia a possibilidade de criar um grupo de leitura do livro, para trabalharem um capítulo por semana. Ou seja, ele quer fazer Escola de Comunidade por causa atração que sente, mas não sabe que existe, nem como se chama.
Benedetta, Ann Arbor (EUA)

TARDE ALTERNATIVA
“COMO FAÇO PARA CHEGAR À NOITE?”

Caríssimo Julián, vivo uma vida simples (pouco complexa) de mãe de crianças e adolescentes, esposa, enfermeira por meio período, e aconteceram uma infinidade de pequeníssimos fatos que me fizeram reconhecer, com estupor e comoção, Ele em ação. Numa tarde, voltei cansada do trabalho. Em casa havia uma algazarra! As crianças estavam agitadas, tudo fora do lugar e, sobretudo, muito barulho (todos pediam o impossível ao mesmo tempo). Eu que, assim que acordei naquela manhã havia cantado Al mattino e tinha pedido “Jesus, faça com eu Te pertença hoje”, fiquei um pouco perdida. “Senhor: como faço para chegar à noite?”. A partir daí, nasceu a vontade de viver e aproveitar tudo indo contra a passividade, e de pensar em algo belo para fazer por mim e pelas crianças. Então, comecei a escutar meus filhos. E decidimos dar uma volta de bicicleta. Foi surpreendente. Enquanto acelerava numa descida, as crianças gritavam: “Mamãe, mais devagar!”, mas eu não conseguia porque me parecia ter voltado a ser criança. Se pouco antes dizia: “Desculpa, Jesus, é assim que você trata quem pede para Lhe pertencer pela manhã?”, naquele momento fazia a experiência de como Ele toma conta de mim de modo perfeito. De noite, à mesa, não se falava em outra coisa.
Elisa, Lecco (Itália)

UMA ATRAÇÃO VENCEDORA
Quatro anos atrás eu fazia parte da igreja evangélica (protestante), e conheci o Movimento através de Milena, por meio de um curso que fiz. Frequentava as coisas, mas no início era tudo muito estranho, pois acreditava que os católicos iriam direto para o inferno pelas práticas que fazem. Mas, quando fui às primeiras Férias de Carnaval percebi o quanto as pessoas eram diferentes, a missa era diferente, havia algo diferente, daí comecei a pensar: “Não é possível que esse povo vá para o inferno”. Mesmo cheia de bloqueios continuei caminhando com essa turminha. Comecei a fazer caritativa, Escola de Comunidade, participar das convivências, e quando me dei conta estava em tudo. Com o tempo comecei a estar mais inteira nas propostas, pois tudo que vivenciava me preenchia, fazia sentido, começava a abrir minha mente, até que cheguei ao ponto de deixar de frequentar a outra igreja e passei a ir mais ao Movimento. Porém, não era simples dizer para as pessoas que eu fazia parte de uma comunidade católica. Sempre foi difícil. Uma das coisas que me chamou atenção no CL foi a abertura das pessoas para recepcionar as outras, e depois a forma como faziam a caritativa. Na outra igreja esse gesto era chamado de evangelismo, que é falar de Jesus para as pessoas necessitadas e por um discurso fazê-las aceitarem Jesus. Mas perceber algo diferente nas pessoas ao irem visitar os pacientes do Hospital Irmã Dulce, para mim era surreal. Era bonito de ver. E hoje eu sou apaixonada pelo lugar no qual fazemos caritativa. Encontrar com os pacientes uma vez ao mês é como encontrar os meus pais, que moram em outra cidade, fico feliz e ansiosa. Um dia fui conhecer Dom Guido, Bispo de Paulo Afonso, pois é um padre muito familiar por aqui, e estando numa roda de diálogo com ele e mais três pessoas eu senti algo diferente. Parecia que era outra dimensão. Havia uma Presença ali. Era bonito e saí de lá pensando “eu quero isso para mim”. E foi exatamente nesse dia que voltei para casa certa de que eu queria esse caminho. E me perguntava: “se esse lugar faz vibrar meu coração e eu tenho certeza disso, por que não devo estar 100% nele? Por que não me aprofundar sem medos? Por que não dizer sim a esse caminho?”. E assim decidi continuar caminhando. Depois desse dia as coisas mudaram. Tudo era diferente. Eu havia decidido estar nesse lugar com todo meu Eu. E hoje eu tenho a certeza de que fiz a melhor escolha. Outra coisa bonita que me aconteceu, ao ler o texto da Escola de Comunidade, foi sentir uma vontade enorme de me confessar (nunca acreditei nesse ato, pois na minha vivência de fé pedíamos perdão a Deus e pronto). Então, dentro desse novo desejo, aproveitei a presença do nosso amigo Pe. Inácio e confessei. Era me desarmar diante da Presença. E assim me senti livre, me senti convertida. Emocionava-me muito pensar que encontrei um lugar que me atraiu sem descartar nada de mim. E mesmo depois de tantos bloqueios, me perceber aberta a esse caminho é fascinante.
Andreia Tavares, Salvador (BA)

O MISERICORDIOSO AMPARO DE DEUS!
Foi no início de outubro do ano passado que meu filho, 19 anos, movido por um desejo de independência se envolvera num grave acidente ao volante. Tinha me avisado que sairia de carro para a faculdade e depois participaria de uma comemoração com seus amigos. Aconteceu que me telefonou à 1h30 da manhã contando-me sobre o acidente, e imediatamente eu e sua mãe fomos até o local. Chegando lá ficamos surpresos, pois ele não estava sozinho no carro; havia também outros quatro, todos menores de idade, os quais já tinham sido socorridos por suas famílias. Felizmente todos tiveram ferimentos leves. De madrugada naquelas ruas desertas a cena parecia um pesadelo. Era dramático. Fiquei pensando como o carro era pequeno para aqueles 5 meninos, como eles não se machucaram tanto? Não acreditava que o acidente fora com um carro de luxo (“BMW”). Fui surpreendido pelo relato da senhora, condutora do carro, que me falou de seu filho também de 19 anos: “Agradeça o milagre por seu filho e amigos estarem bem, pois com o meu (e também seu amigo) o acidente fora-lhes fatal”. Deus quis poupar esses meninos, mas compreendo que quis dar-lhes também uma grande chamada de atenção. Depois, aconteceu que nossa seguradora recusou-se a dar encaminhamento ao processo de indenização de ambos os carros tendo em vista a grave característica do acidente. Assim, o processo tomou outro rumo, pois a vítima passou a me exigir o devido ressarcimento das enormes despesas referente àquele luxuoso carro. Com tudo que estava acontecendo eu fazia experiência de uma grande desproporção e sentia que o que Deus queria era a minha fidelidade. À noite, de joelhos, passei a pedir que o Senhor me mostrasse e também à minha família, o que queria de nós com esse enorme prejuízo. Senti que precisava compartilhar com alguém e procurei alguns amigos de CL. Todos me ajudaram, seja esclarecendo ou dizendo o que determinava a lei nestes casos. Estes amigos e advogados me disseram que era mesmo legítima a cobrança por parte da outra seguradora e que, na impossibilidade de cobrir os prejuízos, poderia ser executado até um de nossos patrimônios, como o outro pequeno imóvel. Eu passei a compreender que Deus queria que vivêssemos uma experiência de grande desprendimento material, não sabia por quê. Confesso, ainda, que eu estava relutante em escrever uma “carta defesa” à qual tinha direito. Achava que não tinha mais jeito. Solicitei ao nosso advogado que a escrevesse e ele redigiu-a muito bem. Ainda assustado, eu tinha começado a me conformar com a situação e também a ficar mais em paz! Comecei a rever testemunhos vividos tempos atrás e me lembrei de uma assembleia com Pe. Carrón na qual uma pessoa conta que perdera sua casa no último terremoto ocorrido na Itália. Perdera a casa, mas demonstrava que seu “eu” não ficara destruído. Impressionante! Também o relato de Míriam, aquela jovem menina que diante dos permanentes conflitos na Síria, testemunha uma fé cheia de esperança e de fidelidade. Então pensei: quero aprender também com estes testemunhos, “quero entregar-Lhe tudo isto, Senhor, pois sei que não nos abandona de forma alguma”. Naturalmente, em menores proporções, senti como se tivesse me sido feito um pedido de fidelidade, como o de Abraão ao seu filho. Foi então que numa tarde, buscando meu outro filho no colégio, atendi o celular e uma pessoa se identificando como técnico da seguradora me informou que tinham reconsiderado meu caso de sinistro e tinham decidido efetuar a indenização de ambos os carros. Parei, pois levei um susto e não acreditava no que acabara de ouvir, chorei agradecendo esta manifestação de Sua evidente presença. Posso lhes dizer que esta história, apesar de tudo, teve um desenrolar ainda mais fascinante, pois no mês seguinte fomos convidados para a missa de 1 ano por ocasião do falecimento do filho da senhora do “BMW”. Ela pediu que fôssemos com nosso filho, nos recebeu na entrada e o abraçou. Estava conformada e comovida, pois tinha um semblante de paz. Com o abraço parecia que estava abraçando alguém já conhecido há mais tempo. Deus nos pede a cada instante a nossa fidelidade, pois somos incapazes de compreendê-lo. Quão grande é o amparo que Ele nos dá e quão infinita é a sua misericórdia!
Mauro, Fortaleza (CE)

PEREGRINAÇÃO
AS DESCOBERTAS DURANTE O CAMINHO DE SANTIAGO

Conhecemos o Movimento há dois anos e meio e nossa adesão foi imediata: encontramos uma casa onde não era preciso pedir “permissão” para entrar. Para nós, um casal de aposentados, foi o início de uma vida plena, tornada tal pelo nosso novo modo de viver o cristianismo, vendo o rosto de Cristo no rosto das pessoas. Rejuvenescemos por dentro, cada vez mais apaixonados pela vida que Deus desejou para nós, em todas as circunstâncias. No início de setembro, fizemos uma viagem com Mario, nosso filho de 36 anos que não anda e não enxerga, para percorrer o Caminho de Santiago. Era um desejo dele e nosso e imediatamente três de nossos amigos disseram: “Nós também vamos”. Chegamos a Santiago depois de ter percorrido 135 km com Mario na cadeira de rodas para pedir ajuda e agradecer pelo bem recebido. Mas o sentido do caminho é aquilo que se descobre durante a caminhada. A beleza de compartilhar com amigos e desconhecidos o percurso e os espaços dos albergues como quartos, banheiros, cozinhas, varal. Reconhecermo-nos nos olhares das pessoas que encontramos e com quem conversamos superando as dificuldades de idioma. Os jovens que já carregavam o peso das próprias mochilas e se ofereciam para ajudar a empurrar a cadeira de rodas nos trechos íngremes. A eliminação do supérfluo e a valorização daquilo de que dispúnhamos, perceber que precisávamos de poucas coisas e de muita humanidade. No final de cada dia, sempre nos sentíamos felizes pelas dificuldades superadas, gratos a Deus por nos oferecer todos os dias provas que nos desafiavam, certos da sua ajuda. Ele sempre caminhou conosco. Voltamos mais fortes, prontos para tomar uma decisão sobre o futuro do nosso filho. Nestes dias, a leitura de Passos nos fez repensar na palestra de Monsenhor Pizzaballa, no Meeting de Rímini, quando fez referência à parábola dos talentos e a necessidade de usar os que recebemos, mesmo que isso comporte um risco. Esta reflexão contribuiu para a decisão de nos lançarmos em primeira pessoa em um desafio que vai requerer muito empenho nos próximos anos. Voltamos a ser adultos com esta experiência, é cedo para sermos velhos.
Maria Pia e Roberto



 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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