Vai para os conteúdos

Passos N.93, Maio 2008

DESTAQUE / CARIDADE – OBRAS

“É fácil construir estradas, difícil é construir a companhia”

por Riccardo Piol

Testemunho de Alberto Piatti, Fundação Avsi

Alberto Piatti disse que “construir uma estrada na África ou na América Latina é fácil; o difícil é fazer companhia às pessoas”. Se ele não fosse construtor de estradas, escolas e bairros inteiros, seria difícil dar-lhe crédito até o fundo. Até porque dizer “é mais fácil construir moradias do que sustentar o coração do homem” parece mais um slogan de efeito do que uma frase apropriada para uma reunião de uma agência da ONU ou para um encontro com o governo africano. No entanto, Alberto Piatti, Secretário Geral da Fundação Avsi, para responder à pergunta sobre que contribuição as organizações não governamentais (ONG) de inspiração católica podem oferecer aos organismos internacionais, não partiu de projetos realizados em redor do mundo – e são muitos – ou dos atestados de reconhecimento obtidos de agências mundiais como o Alto Comissariado pelos Refugiados da ONU, a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância; nde) e tantos outros. Partiu, ao contrário, do encontro que teve com Bento XVI em dezembro por ocasião do Fórum das ONGs de Inspiração Católica. Porque “o Papa sublinhou mais uma vez que na ação concreta, nos projetos de cooperação internacional, assim como na presença dentro dos organismos mundiais – a chamada atividade de advocacy – não se pode agir a partir de consequências éticas mesmo que remotamente inspiradas no cristianismo”.

O Papa advertiu as ONGs sobre o perigo de agir segundo uma “lógica relativista”...
Ele nos disse: “Encorajo-vos a opor ao relativismo a grande criatividade da verdade sobre a inata dignidade do homem e dos direitos oriundos disso”. Sobretudo, nas ações locais, há sempre o risco de acreditar que, para responder às necessidades das pessoas, bastam boas estruturas e um grande suporte profissional, que no final das contas, levam apenas à construção de moradias.

E então?
Então, é como diz a Deus caritas est: apenas o profissionalismo adequado não é suficiente. Há um fundamento da ação profissional que está no reconhecimento daquilo que une a pessoa ao que ela tem diante de si, daquilo que responde ao seu próprio desejo e ao do outro.

Quer dizer, sem esse reconhecimento não é possível aquela “grande criatividade da verdade” da qual o Papa fala?
Se fosse só um problema de profissionalismo, no fim, cedo ou tarde, colocamos tudo na gaiola da nossa capacidade de resposta. O Papa diz na Spe salvi, quando fala de “progresso adicionável”: se para responder as necessidades fossem suficientes os conhecimentos técnicos e as estruturas, bastaria confiar no conhecimento acumulado...

Mas isso não basta porque as estruturas e as técnicas nunca exaurem as necessidades do homem.
No nº. 24 da Spe salvi, o Papa diz: “Tais estruturas são não só importantes, mas necessárias; todavia não podem nem devem impedir a liberdade do homem”. Este é o ponto. Aquilo que leva a construir para o bem do homem, o que torna possível uma resposta mais inteligente às necessidades e que melhora também a técnica, tem origem sempre a partir de um novo início da liberdade da pessoa. O Papa diz que “o tesouro moral da humanidade não está presente como estão presentes os instrumentos que se usam; ele existe como convite à liberdade e como possibilidade para a mesma”.

E como este “convite à liberdade” pode chegar aos organismos internacionais ou aos projetos de cooperação?
Afirmar a liberdade do homem quer dizer afirmar um modo diferente de tomar as coisas nas mãos. É um método diferente que não se coloca à margem: atinge inclusive o sistema com o qual a ONU distribui o dinheiro. Se, na África, os serviços de saúde de base são garantidos por 51% das iniciativas sociais privadas – chamadas faith based organizations – e não pelo Estado, é absurdo que a ONU tenha como único interlocutor os governos: é um estatalismo planetário. E, ao contrário, a subsidiariedade, dar crédito à liberdade do homem, é uma modalidade que tem dignidade civil e internacional. Tanto é verdade que o diretor geral da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan, está exatamente procurando dialogar com as faith based organizations.

Isso, então, significa que apoiar certas coisas, mesmo dentro dos organismos internacionais, não é uma luta contra moinhos de vento?
Certamente não é fácil, a mentalidade comum caminha em outra direção. Mas somente se se tem uma identidade e um método claro é possível realmente dialogar com os organismos internacionais. E pessoas dispostas a escutar o que temos a dizer e trabalhar junto, existem. Eu desejo que aqueles que ouvirem o Papa na ONU percebam a exaltação que ele faz do ser humano, da sua liberdade e do seu destino porque só assim todas as expressões que nascem da dinâmica do desejo do coração podem ser respeitadas e sustentadas.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página