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Passos N.88, Novembro 2007

EXPERIÊNCIA - Peru

Reconstruir a vida após o terremoto

por Giovanni Paccosi

Mais de quinhentos mortos. E duzentos mil desabrigados. O drama da metade de agosto mobilizou um povo. Que agora também pede a nossa ajuda


Quarta-feira, 15 de agosto às 18h40: como muitas outras vezes, nessa região que está no limite das placas continentais, a terra começa a tremer. Porém, desta vez em toda Lima, metrópole com quase dez milhões de habitantes, e o medo começa a crescer. O abalo, de fato, ao invés de terminar em poucos segundos, continua e, pouco a pouco, fica mais intenso. De um momento para outro milhões e milhões de pessoas sentem-se reféns do terremoto, que faz ondular as casas e os corações. Durará mais de dois minutos e a terra parece água que se move sob os pés enquanto grandes clarões cortam o céu. Finalmente, o tremor cessa, mas muitos bairros ficam no escuro, os telefones não funcionam e todos se dão conta de que é um milagre estarem vivos.


Desejo de gratuidade

Depois, a televisão e as emissoras de rádio começam a divulgar os dados da tragédia: Lima parece quase ilesa mas, mais ao sul, nas cidadezinhas costeiras de Cincha, Pisco, Ica e proximidades não há mais nenhuma casa de pé. Os mortos são mais de quinhentos; os desabrigados, pelo menos 200 mil. O presidente Alan García Pérez faz um pronunciamento na televisão interpretando o sentimento de um povo inteiro dizendo que, na tragédia, deveriam agradecer a Deus onipotente por ter poupado Lima.

Dois breves (e intermináveis) minutos e nada ficou como antes. Não é possível retomar as coisas como antes, um povo inteiro se pergunta sobre o valor verdadeiro da vida. A primeira coisa que emerge é o senso religioso, seja na oração espontânea que brotou nos momentos terríveis do abalo, em que todos éramos tão pequenos e pareceu tão ridícula a sensação de segurança cotidiana, ou mais tarde, quando essa precariedade evidente tornou-se reflexão consciente sobre a absoluta gratuidade da vida, sobre o valor das pessoas que amamos e sobre a responsabilidade dos gestos que fazemos, sobre o peso eterno do presente. Depois, um segundo milagre: imediatamente, milhões de pessoas se mobilizaram para ajudar, como podiam, aqueles que perderam tudo. Em todos os lugares, um fervor de iniciativas em favor dos “irmãos do Sul”. Em toda Lima não havia paróquia, escola, universidade, ou centro comercial que não se tornasse centro de recolhimento das ajudas espontâneas. Nos pueblos jovenes (as favelas de Lima), era comovente ver as pessoas, que vivem em barracos miseráveis, organizarem coleta de roupas e alimentos, dando do pouco que possuem, no ímpeto de compartilhar. A consciência do milagre de estar sãos e salvos fez despertar mais potentemente o desejo da gratuidade, de dar o próprio tempo, as próprias energias, de dar a si mesmos, antes mesmo do que as coisas.

No domingo depois do terremoto, as igrejas estavam cheias como se fosse Natal, as pessoas queriam se confessar, havia em muitos um desejo novo de levar a sério o próprio destino, de redescobrir a fé, de amar mais intensamente.

Na vida da pequena comunidade de CL, essa circunstância tornou-se fonte de diversas iniciativas. Nas primeiras semanas, diante da urgência, adultos e universitários coletaram alimentos, roupas e cobertas, instalando um centro de coleta na Universidade Católica Sedes Sapientiae e colaboraram com a Cáritas na expedição e distribuição dos materiais. Os funcionários das ONG’s Avsi e Cesal, que desde o primeiro momento estiveram presentes nas áreas atingidas pelo terremoto, apresentaram projetos de reconstrução em Chincha e Pisco, e o grupo de universitários está organizando um campo de trabalho para os meses de fevereiro e março de 2008. O Movimento está distribuindo, agora, um panfleto sobre as razões de um empenho sem “vencimento”, e prepara um grande encontro do qual participarão o presidente da Cáritas, Dom Irizar, e outros protagonistas do pós-terremoto. Testemunhos que tornem mais fácil reconhecer que na experiência cristã mesmo as circunstâncias de morte se transformam em ocasião para experimentar a caridade como lei da vida. “Que vale o mundo em relação à vida e que vale a vida senão para ser doada?” (Claudel)

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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