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Passos N.86, Setembro 2007

RUBRICAS

Cartas

pela Redação

Reencontro
Caro padre Carrón, voltei dos Exercícios da Fraternidade com a certeza de fazer parte (de novo) de um fato que acontece. Reencontrei, nas suas palavras sobre a audiência do Papa, na praça de São Pedro, as minhas próprias palavras, a mesma comoção. Bem ali, num instante de pura graça, compreendi o que diferencia aqueles que encontraram Cristo e não mais o largaram daqueles que, depois do encontro, voltaram para casa. A diferença está no reconhecê-Lo e não importa se do galho de uma árvore, detrás de uma coluna ou submerso na selva de guarda-chuvas. Num instante, pude avistá-Lo e reconhecê-Lo. Olhei Cristo e me senti envolvida pelo seu olhar: uma felicidade e uma comoção quase insustentáveis. Ele não parou de me olhar. Leio-o com clareza, repercorrendo os anos de minha vida. A primeira vez que o fez, remonta 30 anos atrás (tinha 15 anos), com a experiência do Movimento e o encontro com Dom Giussani. Depois de uma primeira juventude transcorrida nesse abraço, quando a minha resposta chegava a conceber o dom total, me afastei batendo a porta. Agora eu sei: foi um ato de soberba porque, já que não era capaz de dar tudo, também não estava disponível para ficar. Deixei o Movimento e dei (quase) tudo o que tinha caracterizado o pertencer para minha companheira de escola (livros, principalmente); mas ela os conservou e me presenteou com dois deles (Mater Ecclesia e O anúncio feito a Maria) nos meus 50 anos. Estava certa de que, cedo ou tarde, voltaria. O meu verdadeiro coração recomeçou a bater quando me chegou a notícia da morte de Dom Giussani e, logo depois, a de João Paulo II. O abraço de Dom Giussani me retomou, chamando-me de novo, não tanto a sua antiga amizade (que foi tão importante na minha juventude), mas impelindo-me a reencontrar, a reconhecer Cristo. Num percurso quase febril, retomei o Evangelho, os Atos dos Apóstolos e, ao final, compreendi. Compreendi que já O havia encontrado e que teria podido reencontrá-Lo no mesmo lugar, na mesma realidade humana, naquelas pessoas, naquela Igreja que me havia acolhido e ensinado, tanto tempo antes. Não foi fácil voltar ao Movimento depois de tantos anos de distância. Mas, a promessa do abraço de Cristo feita por Dom Giussani confirmou-se no acolhimento incondicional e afetuoso do Movimento em Cagliari.
Silvana,
Cagliari – Itália



O dom do matrimônio
Escrevo para contar um pouquinho da grande e misteriosa experiência que a doença de Rodolfo me chamou a viver. O matrimônio é uma tarefa e a doença de meu marido é, para mim, a sua mais alta observância; a promessa feita, a seu tempo, se tornou carne e poder vivê-la no cotidiano me parece um privilégio. Meu marido, depois de um ano e meio em coma e, portanto, de silêncio absoluto, começou a falar, a repetir, a responder às perguntas: isto há já vinte meses. Grande alegria, grande maravilha e infinita gratidão a Dom Gius, a quem havíamos pedido a graça! Mas, o milagre continua: há dez dias, entrando no quarto que, em nossa casa, aparelhamos para ele, vi-o pensativo e lhe perguntei: “Rodolfo, em que pensa?” Esperava por uma resposta do tipo: “Em minha dor, em minha longa enfermidade” ou outra coisa do gênero referente à sua doença; ao contrário, ele me disse: “Penso: A minha alma engrandece o Senhor”. Deus, te agradeço por esta grande fé de meu marido, te agradeço por esta Tua presença viva no meio de nós, por todos nós.
Anna,
Milão – Itália



Esplêndida surpresa
Publicamos a carta escrita a um amigo, na volta dos Exercícios dos Jovens Trabalhadores, na Itália.
Caro Stefano, queria agradecer-lhe por esta esplêndida experiência que vivemos juntos, nestes dois dias que, parece-me, passaram muito rapidamente. Aproximei-me deste Movimento com um pouco de medo e com a “suspeita” de achar-me diante de algo fechado e difícil de compreender; e, no entanto, que esplêndida surpresa foi encontrar tantas pessoas maravilhosas que, em uníssono, procuram e pedem, desejam a “beleza” de Jesus de uma maneira tão natural e profunda, humana e verdadeira. Nos momentos de oração comum, de reflexão sobre as esplêndidas palavras de padre Eugenio, senti, de maneira inequívoca, a presença de algo de elevado, de potente, de belo, de misterioso. Gostaria de saber descrever melhor aquilo que sinto, porém leio no seu olhar que é uma coisa que também você experimenta e, portanto, compreende bem. Gostaria apenas de poder transmitir a quem me circunda aquilo que experimentei para fazer entender a todos que não estamos mais sozinhos, que devemos viver intensamente aspirando à beleza de Jesus e, assim como dizia padre Eugenio, enfrentar a jornada com o espírito do menino que toca a “campainha” drin... drin... drin...
Davide


Reconhecer a beleza
Caro padre Carrón, fui com a comunidade de Carpegna visitar a cidade de Sansepolcro. À tarde, fomos a Prefeitura onde estão expostas algumas obras do pintor Piero della Francesca e estivemos na sala principal, onde se encontra o famoso afresco A Ressurreição de Cristo. Nosso amigo da comunidade de Sansepolcro, enquanto nos explicava o afresco, destacou que essa não é uma obra religiosa, mas política, porque foi encomendada pela Prefeitura e realizada na sala do Conselho. Terminada a visita, eu dizia aos amigos: “Pensem, no século XV os políticos não se escandalizavam e nem faziam objeção a discutir coisas públicas no Conselho Comunal tendo, na mesma sala, o rosto magnífico do Cristo Ressuscitado! Hoje, advogado e professor pedem que se retire o crucifixo da sala onde trabalham! Que caminho de distanciamento de nosso Senhor, nestes séculos!” Alguns dias depois, relatava essa reflexão, num almoço, em casa, em que também estava meu cunhado, homem desde sempre comunista, declaradamente anticlerical, com um grande coração, que disse: “Vejam, passaram-se séculos até se alcançar a civilização. Agora, nesta sociedade multi-étnica, começa-se a entender que esses símbolos não servem mais, deve-se respeitar os demais e viver a fé em seu próprio coração”. Preparava-me para responder quando, para minha grande surpresa, meu filho Pietro, de 11 anos, se antecipou: “Tio, o que quer dizer? Na minha classe existe um crucifixo, e você quer dizer que, se chegasse um chinês, eu, por respeito a ele, deveria retirá-lo?” O tio respondeu vagamente e a discussão terminou. À noite, antes que ele fosse se deitar, disse a Pedro: “Obrigada por ter me defendido!”, ao que ele respondeu: “Mamãe, não a defendi, eu disse a verdade!”. Observando esse fato, me veio à mente a famosa frase de Jesus: “Se não te tornares como criança, não entrarás jamais”, ou a aflita chamada de Dom Giussani, nos Exercícios da Fraternidade de 1982, quando descrevia Jesus e chamava a atenção ao olhar e à concepção da criança, repleta da presença da mãe. Então, pus-me a pedir para reconhecer a Sua Presença entre nós hoje, de estar vigilante, de modo que não aconteça, como recordava no Natal, citando Pasolini, que “A beleza passa e nós não a vemos”. E, dessa forma, nunca vivemos o hoje, o presente nunca é hoje,
e o Senhor vem e encontra a sala vazia. Creio que este seja o trabalho do eu dentro do dom do Espírito.
Sandra,
Ancona – Itália



O dom do Espírito
Há um mês, numa assembléia do instituto, houve um debate que tinha, como tema, os relacionamentos entre o Islã e o Ocidente. Os oradores eram um representante da comunidade islâmica local e duas estudantes da escola. Como previsto por muitos dos meus colegas, as intervenções entre as estudantes, o representante islâmico e de alguns colegas começaram a inflamar-se. Cada um deles, especialmente meus colegas, falavam a partir do próprio interesse. Discutiam-se temas, como: o crucifixo na escola, o véu para as mulheres, os homens-bomba. Vendo essa cena, em minha mente, fazia um juízo negativo sobre o debate e reprovava meus colegas, mas tudo isso apenas na minha cabeça. Faz parte do meu caráter permanecer calado, não me expor em público. Aproximava-se o final do encontro quando, inesperadamente, decidi tomar o microfone e falar. Comecei dizendo que aquilo, mais do que um debate, era um falar para a parede e que, se queríamos começar um diálogo, deveríamos partir da nossa experiência e das nossas exigências humanas porque a religião é a plenitude da experiência humana. Dito isso, retornei ao meu lugar colocando-me esta pergunta: “Como fiz para falar diante de meus colegas?” Depois, lendo as páginas da Escola de Comunidade que falam do dom do Espírito, compreendi que foi Ele que me acompanhou naquele momento. Compreendi que o Espírito é um dom, uma surpresa completa, porque antes de pegar o microfone não havia feito nenhuma invocação por santos e menos ainda pelo Espírito Santo. “A força do homem é um Outro, a certeza do homem é um Outro”. Aquela certeza de levar Cristo para aquele diálogo não terminou ali porque um rapaz, impressionado por minhas palavras, quando me viu passar pela rua, veio até mim, parou, agradecendo-me pela minha posição, mais verdadeira e realista do que todas
as outras!
Marco,
Ancona – Itália



Jornais no bar
Caríssimo Julián, eis a carta que nos entregou, faz alguns dias, a garçonete do bar onde, toda manhã, depois da oração das Laudes, tomamos o café da manhã. Este bar fica bem em frente da Faculdade de Medicina e pode imaginar como, durante a campanha eleitoral, nós o tomamos de assalto. Todos os dias, entre um café e uma discussão, deixávamos panfletos de juízo, programas eleitorais, etc. Até chegar o último dia da campanha eleitoral quando, naquele bar, deixamos pelo menos uma centena de cópias do nosso jornalzinho universitário, Binóculo. A garçonete, que se chama Marta e é cubana, sempre me impressionou por sua simplicidade, mas, depois que escreveu esta carta, realmente me comoveu
e começou a “reencorajar-me”.
“Rapazinhos meus, o que querem que eu prepare? Um café? Um cappuccino? Não. Desta vez quero dizer-lhes outra coisa. Sábado de manhã, encontrei no bar o jornal Binóculo e, lendo-o, percebi logo quem o havia escrito, seguramente pessoas que vão ‘além’. É fantástico saber que, em uma sociedade como esta, onde reinam a superficialidade, a hipocrisia e a aparência, onde todos olham, mas ninguém vê ou não quer ver ou, infelizmente, prefere esconder-se atrás da droga e do álcool, numa sociedade onde a guerra e a violência enchem as páginas dos jornais, encoraja saber que existem rapazes como vocês. Sem ‘binóculo’, são capazes de ver e de não ficar indiferentes aos problemas, a tantas incógnitas e preocupações que dizem respeito, principalmente, ao futuro de tantas pessoas, a abrir os olhos e procurar resolver os problemas, não fingindo que são nada. São todos muito bonitos, mas, a sua beleza está dentro. Espero que deixem sempre aberta a sua lista para terem mais inscritos que os ajudem a embelezar tanta feiura e dar um futuro melhor a esta geração e as outras que virão. Lutem pelo que crêem ser justo e não parem diante da primeira dificuldade. Não me resta outra coisa a não ser desejar-lhes boa sorte e dar meus cumprimentos aos seus pais. Não me engano quando digo que gostaria que minha filha fosse como vocês. Admiro-os e os tenho
em apreço”.
Pietro,
Chieti – Itália



Apaixonados pelo trabalho
Cassiano, do Rio de Janeiro, nos enviou este e-mail que recebeu de sua amiga Marcella.
Ontem, enquanto almoçava com as meninas do laboratório, comentei que, para fazermos as coisas, temos que fazer apaixonados. Então, uma delas me disse: “eu não sou apaixonada por nada”. Eu pensei: Mas que droga! E rapidamente veio aquela já conhecida gratidão por ter encontrado o Movimento. Porque tenho percebido que sem a Beleza (com “B” maiúsculo, porque é a Beleza que se fez carne, como diz Dom Gius), sem essa Beleza que nos impulsiona à beleza de toda a realidade, a vida é inútil e não conseguimos nos apaixonar por nada! Numa capa antiga de Passos, em que há um quadro do Van Gogh, há uma frase que diz “o trabalho, para um cristão, é o aspecto mais concreto, mais árido e concreto,mais fatigante e concreto do próprio amor a Cristo”. Quando li Cartas a Theo, vi que Van Gogh tinha uma profunda admiração por camponeses e por isso amava pintá-los (por isso amava as pinturas de Millet). Sabe por que Van Gogh os amava? Falava que Deus era evidente na simplicidade e religiosidade daquele povo: “Ele se confia a seu Deus, que vê seu trabalho e que o protege, assim como a sua mulher e suas crianças”. “Jamais ouvi um bom sermão sobre a resignação e sequer jamais imaginei que um fosse bom, salvo esse quadro de Mauve e a obra de Millet. É bem a resignação, mas a verdadeira (...), eles estão lá pacientes, submissos, prontos, resignados, calmos. Num instante terão que puxar por mais um trecho a pesada balsa, a faina chega ao fim. Um pequeno momento de pausa. Eles ofegam, estão cobertos de suor, mas não murmuram nada, não protestam nada, não reclamam de nada. Há muito tempo eles estão acostumados, acostumados há anos. Eles estão resignados a viver mais um pouco e trabalhar mais. Vejo nesse quadro uma filosofia notavelmente elevada, prática e silenciosa; ele parece dizer: saber sofrer sem reclamar, esta é a única coisa prática, aí está a grande ciência, a lição a aprender, a solução do problema da vida. Parece-me que este quadro de Mauve seria um dos raros quadros diante dos quais Millet se deteria longamente murmurando: este pintor tem alma”. Não achei o quadro de Mauve, mas o Angelus de Millet ou O semeador de Van Gogh expressam a mesma coisa. “Acredito que nada nos coloca com tanta intensidade na realidade como um verdadeiro amor. E quem vive na realidade estará no mau caminho? Penso que não”. Temos que aprender isso tudo que Van Gogh disse, para nos apaixonarmos cada vez mais pelo que fazemos.Quando a faculdade estiver dura, devemos pensar na beleza deste quadro!
Marcella,
Rio de Janeiro – RJ



Escola de Comunidade no trabalho
Conheci o Movimento no ano de 1988. Naquele ano, eu havia entrado para a faculdade de Enfermagem e participei da comunidade por cinco anos. Como Cristo é insistente e me ama de fato, após 10 anos, Ele se utiliza de uma festa de aniversário na qual estavam presentes pessoas do Movimento, para fazer com que eu reencontrasse essa realidade e hoje, há mais ou menos três meses, pela graça de Deus, estamos realizando a Escola de Comunidade (EdC) no ambiente de trabalho. É maravilhoso perceber que é Cristo que nos conduz, e que o que acontece não é por nós, mas por um Outro. Foi o que aconteceu conosco, pois somos três pessoas do Movimento, trabalhando no mesmo local, porém, com horários e atividades diferentes. Mas, como para Ele nada é impossível, mesmo com toda dificuldade, conseguimos um horário que fosse comum a todos e começamos a nos encontrar às quartas-feiras logo após o almoço. E a beleza do acontecimento é perceber que no ambiente de trabalho, no corre-corre das atividades, existem pessoas com o mesmo desejo, com a mesma busca pelo sentido da vida. Nós não estamos sós, e esse momento nos ajuda a não nos deixarmos levar pela confusão diária. Como esse gesto está sendo importante para minha vida e dá responsabilidade para com a vida do outro, para com os colegas de trabalho que se reúnem conosco. Cada vez que a faço, eu não me sinto só, vêm à minha mente os rostos de todos, em especial os da minha Fraternidade. No início, sentia-me insegura se estávamos fazendo a condução correta, e, para minha surpresa, ao abrir a revista
Passos de abril, encontro a descrição, como método, da postura para a realização da EdC. Agradeci a Deus por esse presente. Continuo pedindo a Ele que aumente a minha fé, que me conserve na amizade dessa companhia e nesse trabalho pessoal que é necessário para a minha vida. E o que
me fortalece é crer
que tudo é realizado por Ele.
Elinir,
Manaus – AM



O sentido da Igreja
Na volta da peregrinação feita a pé por 12 horas de Macerata a Loreto, na Itália, uma amiga escreveu:
Oi Maurizio, gostaria de agradecer pelo convite para participar de algo que faz parte da sua vida e que, para mim, é bastante desconhecido, mesmo tendo vários amigos de CL. Depois, obrigada porque, não obstante as dores nas pernas que já ontem se prenunciavam e que hoje estouraram, estou muito contente por aquilo que vi e ouvi. Tocou-me aquele rio de gente, o clima de recolhimento e participação na oração, aquelas pessoas, voluntários que, durante todo o percurso no decorrer da noite, ficaram em pé segurando os alto-falantes, a participação das pessoas das cidades que atravessávamos, a qualquer hora da noite. Embora não conhecesse ninguém, vivi o “sentido da Igreja”. Não digo que faria isso todos os meses, talvez nem todos os anos, mas o farei novamente.
Irmã M. Gloria,
Itália



A experiência da caritativa
Comecei a fazer caritativa há dois anos. Todo sábado à tarde, eu e alguns amigos vamos fazer companhia a idosos. Todas as vezes em que vamos, eles nos agradecem por ir encontrá-los porque, quando estamos com eles, se divertem; nós os escutamos, contamos o que fizemos durante o dia, e eles nos falam sobre suas vidas. Com o passar do tempo, eu comecei a me afeiçoar àquelas pessoas, algumas em particular; por isso, quando vou até lá, aos sábados, com meus amigos, passamos por todos os quartos para cumprimentar a todos e paramos um pouco para conversar com eles. Para mim, é uma experiência muito bonita porque todas as vezes em que vou encontrá-los fico mais feliz, mesmo percebendo que diante de seus problemas, como as doenças ou a morte, não posso fazer nada, sou impotente. De fato, aquilo que entendi indo até lá é que eu não posso resolver seus problemas, não posso torná-los mais contentes, só um Outro pode fazer isso, eu não posso saber do que precisam, só Cristo o sabe. Mas, então, poderia perguntar: o que eu ganho com isso? Eu poderia ir ao centro passear com meus amigos ao invés de ficar com eles. Porém, estando com eles, entendi que Cristo tem a ver com a minha vida e está em todas as circunstâncias, mesmo nas mais impensáveis, como numa conversa com uma senhora sobre o tempo. Estar com essas pessoas me fez entender que Cristo está sempre presente na nossa vida e está presente de um
modo concreto.
Giulia,
Itália



Tomados pela mão
Freqüentemente a gente se encontra, se reúne, confraterniza por causa de um evento ou por simples casualidade. Eu descobri o pensamento de Dom Giussani logo depois de um evento. Teria preferido a casualidade ou uma simples coincidência mas, no entanto, não foi assim que aconteceu. O evento: a perda do meu filho único, Davide. Quem fez esse estrago se chama “leucemia”, e é uma doença que não tem respeito por ninguém, nem pelas crianças. Nos momentos de solidão, desespero e dor, algumas pessoas desconhecidas até pouco tempo atrás, nos tomaram pela mão, sustentando-nos e adotando a nossa causa. Demonstraram-se pessoas de “valor”, dom raro nessa sociedade onde os valores já são uma lembrança remota. Convidavam-nos com uma certa parcimônia para participar das reuniões de Escola de Comunidade, falando-nos quase como uma família. Pouco a pouco construiu-se uma ligação verdadeira, chamada “Amizade”. Amizade: uma palavra que assume um significado imponente em uma situação desse tipo, onde todos se afastam de nós porque com nossa dor somos imagem de um mundo imperfeito, onde se evidencia a impotência e a fragilidade do homem. Esses amigos conseguiram fazer com que a razão prevalecesse sobre a postura niilista que tínhamos, demonstrando-nos a importância da vida. O caminho que começamos nos fez conhecer uma realidade diferente daquela que conhecíamos. Aqui, pessoas conversam, discutem, se ajudam sem pedir nada em troca. Gostaria de agradecer a Dom Giussani por ter formado uma família tão bela da qual quem quiser pode fazer parte, sem fazer caso das diferenças. Todos iguais, todos filhos de um único “Pai”.
O pai de Davide,
Catania – Itália

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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