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Passos N.86, Setembro 2007

CULTURA - Literatura / Hugh Benson

Paradoxos do Catolicismo

por Rafael Marcoccia

Grandes clássicos da Literatura católica mundial começam a ser publicados no Brasil graças à iniciativa da Editora Formatto, em São Paulo. A seguir, uma resenha sobre o livro Paradoxos do Catolicismo, do escritor inglês Robert Hugh Benson


Não há pessoa que não tenha percebido como a Igreja Católica é cheia de mistérios, paradoxos e de aparentes contradições. Como pode Cristo ser homem, se não nasceu de um pai humano? Se dele narram maravilhas que não podem ser atribuídas a um homem comum? Que é esse impulso que leva o homem a fazer sacrifícios em sua vida para salvá-la, que transforma as alegrias em complacências? Que torna leve o jugo da Cruz e que o leva a encontrar o centro além do próprio eu, a procurar o prazer na privação de todo bem estar? Que poder é esse que, muitas vezes, enche-nos de alegria antes de começarmos a obra? Que recompensa a nossa fadiga com desolação? Estas e outras questões são apresentadas no decorrer do livro Paradoxos do Catolicismo, de Robert Hugh Benson, e introduzem-nos no grande mistério da encarnação do Verbo e na sua Igreja. Nascido em 1871, Benson era filho do arcebispo anglicano de Cantebury, sede da Igreja da Inglaterra, e chegou a ser ordenado por seu pai. Mas, em 1903, se converte à fé católica, certo de ser a única verdadeira. No ano seguinte, é ordenado sacerdote. Faleceu em 1914.

De escrita simples e direta, o que facilita a compreensão de seus argumentos, Benson enfrenta os paradoxos um a um: Jesus Cristo, Deus e Homem; Igreja Católica, divina e humana; paz e guerra; riqueza e pobreza; santidade e pecado; alegria e dor; amor de Deus e amor dos homens; fé e razão; autoridade e liberdade; corporação e individualismo; mansidão e violência; vida e morte. Cada capítulo de seu livro corresponde a uma contradição aparente que pretende resolver.

Logo no primeiro capítulo, Benson nos oferece a chave de todos os paradoxos do catolicismo e da Igreja: a dupla natureza, a divina e a humana, que Cristo e a Igreja, “continuação e difusão da vida de Cristo”, possuem. “A Igreja Católica, este estranho conjunto de mistérios e lugares comuns, esta união da terra com o céu, somente será compreendida por aqueles que a aceitam como Divina e Humana”(p.16).

Todos os capítulos possuem a mesma estrutura. Em primeiro lugar, Benson extrai trechos do Evangelho que ilustram bem o paradoxo tratado e que servem de base para as acusações freqüentes que os pesquisadores/observadores “de fora” fazem à experiência católica. É a Igreja, que oferece sua “face para as bofetadas”. O autor acrescenta que geralmente são dois tipos de acusações, e na maioria das vezes diametralmente opostas. Para entendermos melhor, pensemos nas críticas que ouvimos a toda hora: se a Igreja fala algo que não agrade, falou demais; se não fala nada, está sendo omissa. “Sempre nos mostram estarmos errados” (p.59). E após as duas acusações do capítulo serem analisadas, Benson nos mostra como essas mesmas críticas eram feitas também a Jesus. Depois de todas as bofetadas, chega-se ao ponto alto: quando Benson oferece a “resposta católica”, que concilia as contradições. Uma resposta que considera os vários aspectos presentes na realidade, sem excluir nada; um olhar sobre os fatos, capaz de valorizar tudo, inclusive o ponto de encontro entre a humanidade e a divindade, que os críticos se recusam a ver na vida da Igreja Católica.

Mas o autor não tem medo das críticas feitas sobre paradoxos. Possui grande segurança para afirmar: “É óbvio que aqueles que vivem além dos muros da Cidade da Paz nada podem saber da vida que levam seus habitantes, nem da harmonia nem da consolação que só o catolicismo pode fornecer. (...) não devemos partir da idéia preconcebida de que elas [as acusações] sejam necessariamente falsas, porque pode muito se dar o caso de observadores, postos a certa distância, perceberem uns vislumbres de luz que passariam despercebidos aos devotos que vivem em paz dentro dos muros da cidade (...). E pode acontecer que essas acusações, clara e eficazmente rejeitadas, transformem-se em credenciais nossas” (p.28). De modo que “a Igreja é perseguida pela crítica e demonstramos que, à luz da razão, as mesmas acusações se transformam em credenciais e argumentos que sustentam seus direitos” (p.108).

Ao fim do livro, o autor nos oferece um presente: uma bela meditação das três horas de agonia de Cristo na cruz, a partir das últimas sete frases ditas por Ele. Enfim, Paradoxos do Catolicismo é o fruto da experiência e das reflexões de uma pessoa que levou a sério a própria fé, quis identificar suas razões e quis se posicionar frente aos mistérios que surgiam quanto mais avançava em suas investigações. Buscar as razões da fé católica foi a condição fundamental para Benson se converter e também para defendê-la em um mundo relativista.


Paradoxos do catolicismo
Robert H. Benson
132 págs. R$ 20,00
Editora Formatto
Tel.: (11) 5631-9373
E-mail: formatto@bol.com.br

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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