Vai para os conteúdos

Passos N.84, Julho 2007

RUBRICAS

Cartas

pela Redação

Um encontro que muda a vida
Caros amigos, depois de alguns anos em que consegui ficar tranqüilo, sufocando o desejo de felicidade do meu coração, de repente, em um segundo de distração, este desejo explodiu com toda a sua potência e, com isso, a sensação de impotência e solidão de quem não consegue encontrar a solução. Não consigo mais ficar tranqüilo, e como é difícil levar a sério as perguntas do coração, como é difícil confiar-se a um Outro! Achava que, para estar tranqüilo, bastava não se colocar perguntas. No entanto, eis-me aqui, com as mesmas perguntas que durante anos carreguei e que hoje estão dramaticamente mais fortes. É neste ponto que a minha vida muda inesperadamente. Assim que comecei a me levar a sério, passei a ver com olhar diferente os amigos, e descobri-os como fundamentais na minha vida. Até a importância da Escola de Comunidade mudou; não é mais algo para fazer na quinta-feira à noite, mas é uma verificação da minha experiência, do caminho da minha vida. Nestes meses, fiz experiência de uma amizade diferente, de uma afeição entendida como querer aquilo que é bom para você. Ser amado desse modo me faz olhar de maneira diferente esses amigos, até ontem desconhecidos e tidos como pouco importantes e inúteis para minha vida, e me faz procurá-los todos os dias. E todas as vezes em que penso que antes era melhor, que no fundo não estava tão mal, basta que eu os ouça pelo telefone para que meu coração grite mais forte o seu desejo. E como é bonito acordar meia hora mais cedo para rezar o Angelus juntos.
Fabio,
Martinsicuro – Itália


O abraço de Bento XVI
Cecília de São Paulo nos enviou esta carta que recebeu de sua amiga Grace.
Ver Bento XVI me permitiu realizar uma profissão de fé. Eu nunca havia me dado conta da maternidade da Igreja dessa forma. Quando fui ao encontro das famílias com João Paulo II, pensava muito no carisma dele e amava o seu sorriso. Já sabia o que me esperava. No encontro com Bento XVI, não me sentia assim, pois não havia toda essa empatia. Eu simplesmente pensava que estava me deslocando para ver o Papa e ponto final. Quando de repente aquele homem chegou e passou diante dos meus olhos, senti uma emoção indescritível, porque percebi que sou muito amada. A Igreja não desampara seus filhos: João Paulo II foi ao encontro do Pai e Bento XVI o sucedeu, sem que nós, em nenhum momento, ficássemos órfãos. Conforme o papamóvel passava, percebia o abraço e o "sim" daquele homem e me dava conta de que nada havia mudado, porque eu não estava sozinha e tinha para onde olhar. Meu coração batia rápido enquanto em minha memória vinham os nomes de todas as pessoas que me são caras. Um grito enorme enchia meu coração: "Senhor, cuide de mim, da minha família, de todos esses amigos". Tenho vivido algumas dificuldades (quem de nós não as tem?) e as coloquei diante daquele homem enquanto ele acenava para a multidão. Num dado momento, as coisas ficaram pequenas, porque senti a força que emanava do Senhor, encarnada naquela frágil criatura. Semana passada a Rose me contava de alguém que lhe havia escrito uma carta comentando a força da pessoa dela, ao mesmo tempo em que ressaltava sua imensa fragilidade, que só descansa no abraço de Deus. Aquilo me deu mais uma vez muito conforto, porque a Rose é uma das âncoras em que "amarro o meu barco" e, se ela é também frágil e descansa no Senhor, me coloco ao lado dela, pois fica tudo mais simples assim. Ver Bento XVI me fez sonhar com o paraíso, imaginar como é o abraço de Deus e o afago de Maria. Aos amigos de CL todo o meu amor e gratidão, porque ao lado de cada um deles percorro a estrada que nos levará ao encontro com o Destino.
Grace,
Brasília – DF


Pedir a santidade
Caro padre Julián, escrevo para agradecer por esses Exercícios, porque mudaram a perspectiva que eu tinha em relação a um problema difícil que minha família está vivendo. Há seis meses, nasceu Giuditta, nossa segunda filha, e, depois de poucos dias, os médicos diagnosticaram uma cardiopatia congênita pela qual deveria ser operada do coração. Inicialmente, eu e minha mulher começamos a rezar pedindo que nossa filha fosse curada, mas, de repente, dei-me conta de que este pedido não me bastava. Tinha a necessidade de que a vida de minha filha fosse realizada completamente, intuía que a falta não era só de integridade física. Começamos, então, a pedir também por sua santidade, mas, com o tempo, apresentou-se a mesma sensação de insatisfação à qual não sabia dar razão e, portanto, solução. O que me faltava ainda? No fundo, não fazia nada de errado... Quando, nos Exercícios, você disse que podíamos fazer tudo parando em nossas reações, permanecendo de algum modo passivos no centro do eu, entendi que era isso que me faltava. Não sentia o "calafrio da dependência" minha ao Mistério. Pedia a cura e a realização da vida de minha filha reagindo simplesmente àquela circunstância que suscitava, em vez de primeiro reconhecer a minha dependência ao Mistério, cujo sinal era a minha desproporção e impotência diante da situação de Giuditta. Oferecer essa circunstância não é uma passividade, mas é reconhecer que Cristo é a substância de tudo, inclusive do bem que quero a minha filha e da sua doença. Por isso torna-se razoável também pedir o milagre da sua cura.
Giorgio

O perdão
Esta manhã, Grace Hazyo, refugiada de Burundi, veio à minha casa e me perguntou o que significava amar os inimigos e perdoar, como dizemos no Pai Nosso. Seus pais e irmãos foram massacrados, e ela fugiu a pé até Ruanda e, de lá, veio até a Uganda. Esta pergunta, para ela, tem uma relevância vital, uma vez que a comunidade burundense representa, na Uganda, todo o ódio e o desejo de vingança que reina no país. Para se fazer entender, contou um episódio que aconteceu em Burundi. O diretor de uma escola dividiu os alunos em hutu e tutsi e colocou os tutsi em uma grande cabana. Depois chamou os rebeldes, que atearam fogo a ela. Alguns dos alunos conseguiram fugir. Num domingo, o padre explicava o Evangelho que diz que se deve perdoar e amar os inimigos. Quando saiu para cumprimentar as pessoas, um rapaz se aproximou dele e perguntou: "O senhor disse que devemos perdoar, que devemos amar aqueles que nos fizeram mal?". Sim, respondeu o padre e, então, o rapaz descobriu o braço, coberto com uma jaqueta, que estava cheio de feridas. Disse-lhe: "O que o senhor diz diante disso?". O padre respondeu: "Eu expliquei o Evangelho, mas eu sou como você, cheio de ódio porque o mal que fizeram a você também foi feito contra os meus". Depois, dirigindo-se aos presentes, disse: "Há alguém entre vocês que pode responder a este rapaz? Porque eu não posso". A Grace, respondi mais ou menos assim: "Quando mataram seus pais, os assassinos injetaram em você o seu veneno de ódio e vingança. Este veneno permanece e consome o coração e o fígado e torna as pessoas infelizes. Você também, pensando nessas coisas, adquiriu uma úlcera grave, está triste, não confia nos outros. E é inútil fazer um esforço para perdoar, porque é impossível. O que você precisa é de um remédio que elimine o veneno. É só por um encontro profundo e contínuo com Jesus Cristo e um amor intenso a Ele que você pode ter no coração uma alegria tão grande e uma beleza tão atraente, que não poderá deixar de desejar aos seus pais e irmãos, que estão mortos, e também àqueles que os mataram o mesmo remédio. A minha amizade e a da comunidade lhe foram dadas para isso". Seu rosto se iluminou, e ela exclamou: "Entendi!". Isso me lembra que, quando fui convidado pelo doutor Giovanni Galli para pregar o Retiro de Quaresma sobre o perdão, no ano seguinte ao genocídio em Nyanza, enquanto falava, via os rostos muito tensos. Parei de repente e disse: "Não peço que vocês perdoem, porque é impossível para vocês, mas peço que sigam uma proposta de uma profunda amizade em Cristo. Se fizerem isso, poderão fazer a experiência de um tal gosto pela vida que não poderão não desejar para todos, inclusive àqueles que mataram seus pais e irmãos, o mesmo gosto".
Padre Tiboni,
Kampala – Uganda


Início de ano argentino
Caro Julián, gostaríamos de contar a nossa experiência na organização do gesto de início de ano dos Colegiais. Nossos responsáveis propuseram que nos colocássemos a pergunta: "O que eu quero para minha vida neste ano?". Por esse motivo, retomamos a amizade dos jovens da Rosa Branca (Movimento alemão anti-nazista; nde) e organizamos uma Mostra, confrontando a nossa experiência com a deles e exigindo de nós mesmos que fizéssemos como eles fizeram, o que significa lançarmo-nos completamente. Demos a essa Mostra o título do livro da Escola de Comunidade: O caminho para a verdade é uma experiência. Na Mostra, não nos referimos apenas à amizade da Rosa Branca, mas também usamos imagens e textos que nos ajudaram a reconhecer o nosso caminho, ilustrando aquilo que realmente despertava o nosso coração. Por exemplo, pudemos constatar como a frase de Hans Scholl: "O importante é ser um para o outro luz mútua", resumia não só a história da Rosa Branca, mas também a nossa porque se o estar juntos não nos muda, então não vale a pena continuar com a nossa amizade. Partindo daí, demo-nos conta de que, se essa experiência era boa para nós, podia ser também para os nossos amigos. Nós os convidamos com a disposição de levá-los a sério do mesmo modo como gostaríamos que fizessem conosco, e dispostos a nos lançarmos desse modo não só com eles, mas também em casa e na escola. A frase colocada no panfleto com o qual divulgamos a Mostra foi: "A primeira autoridade é o próprio coração". Nós a escolhemos porque suscitou em nós um grande fascínio, o mesmo que tocou nossos amigos, a ponto de, quando apresentamos a Mostra em Puerto Franco, o público ter sido mais numeroso do que esperávamos. Terminamos dizendo que o que estávamos propondo era uma amizade e que não se tratava de algo destinado a terminar ali, mas de um caminho que podia continuar. Alguns deles começaram a participar da Escola de Comunidade e da caritativa.
Emilia, Eugenia, Melisa, Juan Pablo e Pedro,
Santa Fé – Argentina


Um olhar novo
Caro padre Julián, lembro-me, ainda hoje, das circunstâncias nas quais, há vinte anos, encontrei o Movimento: o meu estado de ânimo, os rostos das pessoas. O que me converteu, na época, foi exatamente o olhar com o qual aquelas pessoas me olharam, aceitaram tudo de mim: eu não precisava ser diferente daquilo que era, sentia-me, pela primeira vez, livre. Quando terminei a universidade, cheia de entusiasmo, quis me inscrever na Fraternidade. Mas havia uma coisa que se aninhava em meu coração como uma traça: o medo de que Cristo quisesse "muito" de mim. Todo o centro da minha afetividade devia ser Ele. Mas eu estava dividida entre os meus queridos, que tinha medo de perder, e entre as tantas coisas a fazer, das quais faziam parte os compromissos com o Movimento. Com o tempo, o fascínio e aquela familiaridade com Cristo que experimentava na companhia se gastou. Uma distância abissal dividia o meu coração das pessoas mais caras a mim: o que experimentava era um "obstáculo" nos relacionamentos mais significativos para mim, quase como se nada me ligasse a eles, a não ser as coisas a fazer. Aquele temor que se instalara no fundo do meu coração e que nunca quis enfrentar, de algum modo, tinha vindo à tona. Mas não era Cristo que tinha me afastado das pessoas queridas, era o meu distanciamento dEle que fez com que eu as perdesse. E me aconteceu mais uma vez de experimentar seu olhar sobre mim, pelo olhar de rostos bem precisos: Andrea, Mariella, Donato... A essa altura, ficou evidente que a minha "única" necessidade era Ele. E um grito dentro de mim se fez claro: "Faz de modo, ó Cristo, que não passe um instante do meu dia no qual eu possa eliminar-te para que, onde eu estiver, possa te encontrar". Se trabalho, se descanso, se cuido de meus filhos ou se faço "as coisas do Movimento", estou paradoxalmente mais ligada a todas essas coisas e as faço com um entusiasmo nunca experimentado antes. Levanto de manhã e é claro para mim que Cristo nunca me separará de ninguém: a única coisa que importa é mendigá-lo todos os dias com todo o meu coração. Agora entendo por que você diz que a primeira companhia é o eu: só eu posso pedi-lo e, reconhecendo a minha necessidade, reconhecê-lo.
Angela,
Muggiò – Itália


A beleza do cristianismo
Desta vez eu não tive a oportunidade de ver o Papa pessoalmente em sua primeira visita ao Brasil, pois o trabalho não permitiu. Porém fiquei muito feliz com a visita do Santo Padre. Fiquei feliz, vibrei com cada encontro que eu acompanhei pela televisão, pela maravilha de cada palestra, pela forma como ele esteve diante das pessoas esbanjando alegria com o nosso povo. Para mim, foi novamente a possibilidade de deixar-se maravilhar pela beleza do cristianismo, deixar-se ferir pela pessoa do Papa, sinal visível de Cristo para nós. Outra coisa que me deixou muito marcado foi ver uma entrevista de Dom Filippo no Jornal Nacional. Ele estava tão feliz que tinha um sorriso de criança,
de criança quando está diante do pai, cheio de alegria e coragem. Ver o testemunho de alguns amigos que retornaram de São Paulo maravilhados (padre Paulo, Varela e Valéria) é realmente uma grande ajuda para a vida concreta, para o desejo de testemunhar em todos os lugares a coisa bonita que nos aconteceu e que marcou toda a nossa vida, que nos faz viver ainda mais decididos a seguir o Movimento e rumo a Cristo, nosso Destino.
Walter,
Rio de Janeiro – RJ


Assembléia em São Paulo
No dia 22 de abril a comunidade de São Paulo realizou uma assembléia de Escola de Comunidade (EdC) sobre o trabalho do livro Passos de experiência cristã. Naquele dia esteve entre os presente Robi Ronza, um italiano que foi aluno de Dom Giussani e escreveu há muito anos um livro sobre a história de CL. Ao voltar para casa escreveu a seguinte mensagem aos amigos que o levaram na assembléia.
Escrevo para contar-lhes que foi uma belíssima experiência passar aquela manhã com vocês. Eu estou entre aqueles que quando lê a EdC sentem ecoar no ouvido a voz de Dom Giussani.O texto do livro consiste, come sabem, na transcrição das primeiras palestras que aconteciam em uma sala no centro de Milão, na rua S.Antonio 5. Ouvir esses mesmos trechos em português, a milhares de quilômetros da Itália; e ter ouvido os vossos comentários sobre esses textos com tanta precisão, fazendo a comparação com a vida, e, ainda, ver o desejo das pessoas que se colocavam, tudo isso me marcou muito. Agradeço a vocês pela amigável acolhida.
Roberto,
Milão – Itália

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página