Vai para os conteúdos

Passos N.84, Julho 2007

IGREJA - América Latina / Celam

O evento de Aparecida

por Dom Filippo Santoro

A V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (Celam) em Aparecida, realizada em maio último, tem tudo para se tornar um marco na história da Igreja no continente. A seguir, uma apresentação de seus resultados e um testemunho sobre sua beleza


A V Conferência foi um grande evento do Espírito, no qual os Bispos, delegados das conferências episcopais e convidados pela Santa Sé, viveram um momento de intensa comunhão e se interrogaram sobre os grandes desafios do nosso tempo para a Igreja Católica do continente. Todos tinham uma grande responsabilidade em ouvir a voz do Senhor e a voz do nosso tempo. Mesmo com posições distintas, percebia-se o desejo de um trabalho comum, que era, sem dúvida, fruto da ação do Espírito Santo. Este clima de unidade e de fé começava pela liturgia celebrada todos os dias com dignidade e beleza na Basílica, seja no momento da eucaristia, seja na celebração das horas.

Junto com a liturgia, outro elemento que marcou a V Conferência foi a presença de Nossa Senhora Aparecida. Era impossível celebrar diante da “Mãe de Deus e nossa” sem se deixar tocar pela proximidade de Jesus. Através de Nossa Senhora, era evidente a solicitude da Virgem que acompanhava os filhos no trabalho de indicar os rumos da Igreja na América Latina e no Caribe. No final do evento, os Bispos passaram diante da imagem de Nossa Senhora para agradecer àquela que acompanhou e iluminou as mentes e os corações durante o desenvolvimento dos trabalhos.

Um outro elemento importante foi a presença dos peregrinos. Eles estavam lá, principalmente nos finais de semana, cinqüenta, oitenta e até cento e vinte mil, e davam testemunho de uma fé simples, cordial, profunda, cheia de sofrimento e sacrifício, e, ao mesmo tempo, de serenidade e de paz. Ficávamos todos tocados por aquele testemunho e de como acolhiam com muita alegria os Bispos. Era impossível, em todas as reflexões, não ter presente a fé desse povo cristão que foi o efetivo ponto de partida para analisar os problemas do nosso tempo: globalização, pobreza, fome, corrupção, violência, etc.

Nessa perspectiva de fé, foi retomada a questão metodológica do ver, julgar e agir; exatamente a partir dos olhos e do coração de discípulos. O ver é o ver de discípulos, o julgar é o julgar de pessoas tocadas pela presença de Cristo, o agir é o agir de pessoas movidas pela presença do Espírito. De fato, diante do método tradicional, esta é uma novidade porque a origem do interesse pela realidade é oferecida claramente não por um ver sociológico, mas pela fé, vivida no povo de Deus em comunhão com os pastores, presbíteros, diáconos, religiosos, religiosas, fiéis leigos e a grande multidão dos peregrinos.

Antes que sobre questões analíticas de cunho cultural ou social, os nossos olhos se fixaram sobre o tesouro que as entranhas e os corações desse povo carrega: a fé no Filho de Deus que continua hoje suscitando uma esperança indestrutível. Foi dito, com toda clareza e entusiasmo, que o discípulo nasce pela irrupção do Espírito e pelo encontro com essa esperança que, ao longo dos dias, se torna certeza. Acontece para nós, hoje, exatamente como aconteceu aos discípulos com Jesus ao longo do mar da Galiléia os quais seguiam o Senhor porque Ele despertava a sua humanidade desejosa e lhe oferecia uma resposta mais forte do que todas as contradições. Estando com Ele, percebiam a proximidade do destino, ou seja, de uma resposta total. E, assim, as pessoas, maravilhadas, começavam a segui-lo. E Jesus os educava e os enviava a todo lugar. Esta é a perspectiva de Aparecida que vale para nós todos. O núcleo da mensagem da V Conferência Geral dos Bispos da América Latina é a alegria de ser discípulos e o repartir de Cristo. Uma experiência humana na qual a pessoa descobre ser acolhida, levada a sério em suas exigências e amada de uma forma desconhecida nos processos da nossa sociedade. Aparecida comunica uma mensagem muito simples: partir de Cristo e voltar à experiência elementar de ser discípulo e missionário.

A pista de leitura para essa abordagem simples e intensa é oferecida pelo Discurso Inaugural da V Conferência pronunciado por Bento XVI, que iluminou todo o desenvolvimento deste grande acontecimento da vida da Igreja. O Papa retomou a opção preferencial pelos pobres libertando-a dos aspectos puramente sociológicos e incluindo-a no processo da encarnação pela qual Deus, de rico que era, assume a pobreza da condição humana.

Depois da introdução que orienta todo o desenvolvimento do Documento final, a primeira parte do texto trata da vida, em grandes linhas, da “vida dos nossos povos hoje”, com todas as suas características. É abordado o fato da globalização, com os seus efeitos positivos e negativos, a sua influência sobre os povos latino-americanos, os aspectos sócio-culturais, econômicos, sócio-políticos, e todos os problemas ligados a essa realidade.

A segunda parte, “a vida dos discípulos de Jesus Cristo”, apresenta as características dos discípulos, retomando e aprofundando o tema da vocação e da missão que é o aspecto mais contagiante da Conferência.

A Igreja tem uma Boa Nova para a América Latina: a Boa Nova sobre a dignidade da pessoa humana, sobre a riqueza da vida, sobre a família, sobre o trabalho; a Boa Nova sobre o tema da ciência e da tecnologia, sobre os bens da natureza e a ecologia; a Boa Nova para construir, conforme falou o Papa, o continente não apenas da esperança, mas também do amor.

A terceira parte é toda sobre a missão, incluindo o campo da educação, da cultura, da promoção humana, da presença dos cristãos na vida social, na política e na comunicação social. O Documento termina com uma vibrante oração que sintetiza todo o espírito de Aparecida: uma total confiança no poder do Espírito que sustenta a vida e a missão dos discípulos, portadores de uma esperança real para a vida dos nossos povos.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página