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Passos N.84, Julho 2007

DOCUMENTO - Palavra do Papa

“É Ele a resposta mais verdadeira à expectativa dos corações inquietos”

por Bento XVI

Homilia do Papa Bento XVI na celebração das Vésperas na Basílica de San Pietro in Ciel D'oro de Pavia (Itália).
Domingo, 22 de abril de 2007



Queridos irmãos e irmãs, neste seu momento conclusivo, a minha visita a Pavia adquire a forma da peregrinação. É a forma na qual no início eu a tinha concebido, desejando vir venerar os despojos mortais de Santo Agostinho, para expressar tanto a homenagem de toda a Igreja Católica a um dos seus "padres" maiores, como a minha pessoal devoção e reconhecimento àquele que grande parte teve na minha vida de teólogo e de pastor, mas diria antes ainda de homem e de sacerdote.

A Providência quis que a minha viagem assumisse o caráter de uma verdadeira visita pastoral, e por isso, nestes momentos de oração, gostaria de recolher aqui, junto do sepulcro do Doctor gratiae, uma mensagem significativa para o caminho da Igreja. Esta mensagem vem-nos do encontro entre a Palavra de Deus e a experiência pessoal do grande Bispo de Hipona. Ouvimos a breve Leitura bíblica das segundas Vésperas do terceiro domingo de Páscoa (Hb 10, 12-14): a Carta aos Hebreus colocou diante de nós Cristo, sumo e eterno Sacerdote, exaltado à glória do Pai depois de ter oferecido a si mesmo como único e perfeito sacrifício da nova Aliança, no qual se cumpriu a obra da Redenção. Sobre este mistério Santo Agostinho fixou o olhar e nele encontrou a Verdade que tanto procurava: Jesus Cristo, Verbo encarnado, Cordeiro imolado e ressuscitado, a revelação do rosto de Deus-Amor a cada ser humano a caminho pelas veredas do tempo rumo à eternidade. Escreve o Apóstolo João num trecho que se pode considerar paralelo ao que agora foi proclamado pela Carta aos Hebreus: "Nisto consiste o Seu amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o Seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados" (1 Jo 4, 10). Trata-se aqui do coração do Evangelho, do núcleo central do Cristianismo. A luz deste amor abriu os olhos de Agostinho, fez-lhe encontrar a "beleza antiga e sempre nova" (Confissões X, 27) a única na qual o coração do homem encontra a paz.

Queridos irmãos e irmãs, aqui, diante do túmulo de Santo Agostinho, gostaria de entregar idealmente à Igreja e ao mundo a minha primeira Encíclica, que contém precisamente esta mensagem central do Evangelho: Deus caritas est, Deus é amor (1 Jo 4, 8.16). Esta Encíclica, sobretudo a sua primeira parte, é amplamente devedora ao pensamento de Santo Agostinho, que foi um apaixonado do Amor de Deus, e o cantou, meditou, pregou em todos os seus escritos e, sobretudo, testemunhou no seu ministério pastoral. Estou convicto, colocando-me no seguimento dos ensinamentos do Concílio Vaticano II e dos meus venerados Predecessores João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II, que a humanidade contemporânea tem necessidade desta mensagem essencial, encarnada em Jesus Cristo: Deus é amor. Tudo deve partir daqui e tudo aqui deve conduzir: cada ação pastoral, cada desenvolvimento teológico. Como diz São Paulo: "se não tiver caridade, de nada me aproveita" (cf. 1 Cor 13, 3): todos os carismas perdem o sentido e o valor sem o amor, graças ao qual, ao contrário, todos concorrem para edificar o Corpo místico de Cristo.

Eis então a mensagem que ainda hoje Santo Agostinho repete a toda a Igreja e, em particular, a esta Comunidade diocesana que com tanta veneração conserva as suas relíquias: o Amor é a alma da vida da Igreja e da sua ação pastoral. Ouvimos isso esta manhã no diálogo entre Jesus e Simão Pedro: "Tu me amas?... Apascenta as minhas ovelhas" (cf. Jo 21, 15-17). Só quem vive na experiência pessoal do amor do Senhor está em condições de exercer a tarefa de guiar e acompanhar outros no caminho do seguimento de Cristo. Na escola de Santo Agostinho repito esta verdade a vós como Bispo de Roma, enquanto, com alegria sempre nova, a acolho convosco como cristão.

Servir Cristo é antes de tudo questão de amor. Queridos irmãos e irmãs, a vossa pertença à Igreja e o vosso apostolado resplandeçam sempre pela liberdade de qualquer interesse individual e pela adesão sem reservas ao amor de Cristo. Os jovens, em particular, têm necessidade de receber o anúncio da liberdade e da alegria, cujo segredo está em Cristo. É Ele a resposta mais verdadeira à expectativa dos seus corações inquietos pelas tantas perguntas que se têm dentro. Só nEle, Palavra pronunciada pelo Pai por nós, se encontra aquela união de verdade e amor no qual se encontra o sentido pleno da vida. Agostinho viveu em primeira pessoa e explorou profundamente as interrogações que o homem leva no coração e sondou as capacidades que ele tem de se abrir ao infinito de Deus.

Seguindo os passos de Agostinho, sede também vós uma Igreja que anuncia com franqueza a "feliz notícia" de Cristo, a sua proposta de vida, a sua mensagem de reconciliação e de perdão. Vi que o vosso primeiro objetivo pastoral é guiar as pessoas à maturidade cristã. Aprecio esta prioridade concedida à formação pessoal, porque a Igreja não é uma simples organização de manifestações coletivas nem, ao contrário, a soma de indivíduos que vivem uma religiosidade privada. A Igreja é uma comunidade de pessoas que crêem no Deus de Jesus Cristo e se empenham a viver no mundo o mandamento da caridade que Ele deixou. Portanto, é uma comunidade na qual se é educados para o amor, e esta educação verifica-se não apesar, mas através dos acontecimentos da vida. Assim foi para Pedro, para Agostinho e para todos os santos. Assim é para nós.

O amadurecimento pessoal, animado pela caridade eclesial, também permite crescer no discernimento comunitário, isto é, na capacidade de ler e interpretar o tempo presente à luz do Evangelho, para responder à chamada do Senhor. Encorajo-vos a progredir no testemunho pessoal e comunitário do amor laborioso. O serviço da caridade, que justamente concebeis sempre relacionado com o anúncio da Palavra e com a celebração dos sacramentos, chama-vos e ao mesmo tempo estimulo a estarem atentos às necessidades materiais e espirituais dos irmãos. Encorajo-vos a prosseguir a "medida alta" da vida cristã, que encontra na caridade o vínculo da perfeição e que se deve traduzir também num estilo de vida moral inspirado no Evangelho, inevitavelmente contra a corrente em relação aos critérios do mundo, mas que deve ser sempre testemunhado com um estilo humilde, respeitoso e cordial.

Queridos irmãos e irmãs, foi para mim um dom, realmente um dom, partilhar convosco estes momentos junto do túmulo de Santo Agostinho: a vossa presença deu à minha peregrinação um sentido eclesial mais concreto. Regressamos daqui levando no coração a alegria de ser discípulos do Amor. Acompanhe-nos sempre a Virgem Maria, a cuja proteção materna confio cada um de vós e os vossos queridos, enquanto vos concedo com grande afeto a Bênção Apostólica.

© Copyright 2007 – Libreria Editrice Vaticana

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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