O Batismo, realizado pelo Cardeal de Madrid, em Roma, na vigília da audiência de CL com o Papa. A aventura humana de Hisako Hiseki, conhecida pianista e mulher de Etsuro Sotoo
Dom Rouco chegou a Roma na noite de sexta-feira, e dirigiu-se à igreja nacional espanhola de Santiago e Montserrat, onde celebrou o batismo de Hisako Hiseki, mulher de Sotoo, que depois de dois anos de catequese em Barcelona pediu para entrar para a Igreja Católica. Os padrinhos foram os amigos Silvia e Diego Giordani.
Na hora marcada, a igreja estava lotada de pessoas que queriam estar perto de Hisako e Etsuro que, nos últimos anos, ganharam nosso afeto e admiração tanto devido aos extraordinários concertos oferecidos por Hisaki no EncuentroMadris 2006, onde tocou a virtuosística Suite Iberia, de Albéniz, e em benefício das obras do CESAL, em Barcelona em 2007, como pelo testemunho do marido, o escultor da Sagrada Família de Barcelona, que em um testemunho na Assembléia Internacionais de Responsáveis de CL, em La Thuile, no ano passado, declarou: “Queria ser fiel ao espírito de Gaudí, penetrar a sua essência. Depois, percebi que, mesmo com toda boa vontade, só poderia chegar até um certo ponto. Agora entendi que “não devia olhar para Gaudí mas para aquilo que ele mesmo olhava”. Atualmente participam de um grupo de Escola de Comunidade que se reúne toda semana na igreja em que ele trabalha. Dizem que ao chegar ao aeroporto de Tóquio, a primeira coisa que se vê é uma imagem gigantesca de Etsuro Sotoo tomando um café. É um cristão. E um artista muito famoso no seu país.
Amor pela liberdade
Com a celebração do Batismo, Hisako passou a fazer parte da comunidade da Igreja que “garante a contemporaneidade de Cristo conosco”, como explicou, no dia seguinte, o Santo Padre durante a audiência. Elegantíssima, emocionada, via-se que estava se esforçando para entender bem as palavras da Liturgia. Estava rodeada por uma multidão de amigos dos quais ainda não conhecia o rosto, mas que sentia profundamente próximos, familiares, pertencentes à mesma comunidade eclesial que a estava recebendo.
Etsuro chorava em silêncio. Seu rosto exprimia uma imensa alegria: durante muitos anos esperou que a mulher percorresse seu próprio caminho em direção à fé e aquele momento chegara. Em seguida, lembrei de Dom Giussani durante o programa transmitido no dia 22 de fevereiro, na Itália, pela Rede4 quando, com uma força que rompe as defesas disse: “De resto, até o Senhor foi morto pela nossa liberdade”. Era um doce eco dessa liberdade que se via no rosto do escultor.
Silvia e Diego, os padrinhos, falaram em nome de toda a comunidade que será para sempre companheira fiel de Hisako em seu caminho. As palavras do Cardeal lembraram a origem gratuita da fé e ao mesmo tempo o seu profundo adaptar-se a tudo aquilo que é realmente humano. Os cantos fizeram ressoar a grandeza do Mistério e toda a companhia manifestou isso de modo tangível.
No fim, todos reconhecíamos ter assistido a uma iniciativa concreta daquele mesmo Senhor que chamou Pedro e à simples resposta de Hisako: “Senhor, Tu sabes que te amo”.
Hisako Hiseki nasceu no Japão e começou seus estudos de piano aos cinco anos. Ainda no ensino elementar venceu o Concurso Musical para Estudantes “Pan-Japonês”. Depois, sob orientação do professor Takahiro Sonoda, qualificou-se com nota máxima e obteve o título de Professora na Arts University de Kyoto. Entrou na cena musical depois de ter recebido o diploma de Honra no Concurso Internacional Maria Canals e o primeiro prêmio do Concurso Piano 80, realizados na Suíça. Foi membro do júri do Premio Xavier Montsavage de Música do Século XX para piano e, atualmente, é membro do júri do Festival Internacional de Música de Isaac Albéniz, como pianista convidada e recebeu a medalha Isaac Albéniz. Gravou quatro Cds: Rapsody in the Sky, Suite Iberia, de Albéniz, um Cd com obras de Turina e Falla, gravado por ocasião do X Concerto no Templo da Sagrada Família e um Cd com as Goyescas, de Granados. Editou e revisou a partitura da Suite Iberia, de Albéniz, trabalho disponível em inglês, japonês e espanhol.
ENTREVISTA
“Perguntava-me de onde vinha toda aquela beleza”
por C.G.
Fizemos algumas perguntas a Hisako Hiseki, depois do Batismo, antes do início da Via Sacra celebrada na Igreja da Sagrada Família de Barcelona
Quais foram os motivos que a levaram a querer se batizar?
Quando estou diante do público, sempre quero oferecer alguma coisa. Quero proporcionar um pouco de alegria. Mas para dar ao público essa alegria, em primeiro lugar, eu preciso experimentá-la. Preciso da fé para ser feliz. Todos os dias, quando estudo, faço um sacrifício, mas o faço para oferecer essa alegria e é necessário que Deus esteja dentro de mim, devo fazer a experiência de Deus.
Durante toda a minha vida, a arte cristã sempre me chamou a atenção. Sempre me perguntei de onde vinha toda a beleza que os musicistas plasmaram em suas obras e por qual motivo os compositores de música clássica eram, na maioria, cristãos. Toda a arte européia chamava a minha atenção: escultura, arquitetura, pintura. A arte cristã era a que mais tocava meu coração e me fazia perguntar: de onde vem?
Quando conheci a comunidade, aqui em Barcelona, e em particular Diego, Silvia e seus amigos, descobri que o cristianismo não era aquilo que eu acreditava, um simples conjunto de regras e normas, mas um modo de viver pleno de liberdade. E também de alegria. Encontrei um lugar familiar que me dá força. Desde o primeiro momento que Etsuro e eu os conhecemos percebemos que tínhamos encontrado um lugar familiar, coisa muito importante para nós, que somos estrangeiros. E nesse lugar encontramos muitos amigos, mas por trás ou dentro dessa amizade está Deus. Por trás dessa família existe Alguém consistente.
Como você se preparou para o Batismo?
Com a ajuda de uma amiga, Silvia, que vinha à minha casa uma vez por semana e falávamos sobre Deus e sobre a fé. Sempre me falou com amor e isso me ajudou a enfrentar as dificuldades de compreensão que nasciam de vez em quando.
O que significou, para você, ser batizada em Roma?
Foi algo inimaginável. Senti o apoio incondicional de muitas pessoas que não conhecia, mas que estavam ali e rezavam por mim. Continuo me perguntando por que mereci um presente tão grande. Etsuro e eu somos artistas e estamos sempre estudando mas, normalmente, o fazemos sozinhos. Ver-se rodeados por uma comunidade é uma experiência de gratuidade, a mesma gratuidade da arte. A peregrinação a Roma e o encontro com o Papa Bento XVI na praça de São Pedro foi, para mim, um milagre de unidade.
Etsuro acrescenta convicto: “Depois de vinte e cinco anos de casamento, de vida conjugal, surpreendeu-me muito vê-la ficar durante quatro horas, debaixo de chuva, toda contente. Eu a conheço bem. Antes, isso seria impensável! A sua grande felicidade é o reflexo de Deus em si”.
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