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Passos N.82, Maio 2007

EXPERIÊNCIA - Milão / Alberto Cremona

“Fatos, não palavras” A beleza da vida

por Paola Bergamini

O encontro com Dom Giussani e o Movimento. Abandona tudo pelo dinheiro, pelas mulheres e pelo sucesso. Uma famosa agência de publicidade e o senso de vazio. A experiência do início, quarenta anos depois

Milão, início dos anos 60. Parado no semáforo da avenida Porta Romana, Alberto, cursando o primeiro ano de Direito na Universidade Estatal, aguarda o sinal verde. “Então, Dom Gius, para onde vamos hoje?”. Ele é um dos poucos que tem carro, e por isso faz parte do chamado “grupinho do turismo” de Gioventù Studentesca(Gs, Juventude Estudantil, primeiro nome do Movimento Comunhão e Libertação; nde). Junto com alguns amigos, procura belos lugares para organizar os passeios da comunidade. Com freqüência, Dom Giussani os acompanha. Hoje são só os dois no carro. “Vai, que já deu o verde! Ouça, Alberto, eu queria lhe dizer uma coisa: não se esqueça dos ideais dos seus vinte anos. Você é como um passarinho que pode voar alto, mas que tem um barbante que prende suas patas; todas as vezes que tenta alçar vôo, esse fio o puxa para baixo. Com uma bicada você precisa arrebentar esse fio”.
Alberto sente um soco no estômago. Como sempre, Dom Giussani havia acertado o alvo. Tinha entendido que alguma coisa não ia bem. Alberto vive um momento de crise. Exatamente como cinco anos atrás, quando freqüentava o primeiro ano do ensino médio em Beccaria: havia muitas perguntas para as quais não conseguia resposta, e se sentia derrubado. Uma manhã, um rapaz o havia convidado para o Raggio (reunião semanal dos membros do Movimento). Ele pensou: “O que tenho a perder? Vou experimentar”, e foi ao endereço na rua Statuto. Lá encontrou esse padre diferente, sem discursos formais, mas com uma proposta clara de um cristianismo vivo, belo, que abraça todos os aspectos da vida. Que deixa a gente feliz. Não faltou mais a nenhum encontro: reuniões, férias na montanha, retiros em Varigotti, passeios.

Outras “paixões”
Estar com aqueles amigos e com Dom Giussani era uma aventura fascinante. Mergulhou de ponta-cabeça. Começou a acompanhar a redação e a impressão de folhetos e outros materiais, levando-os à gráfica em Saronno. Foi a ocasião para descobrir a paixão pela comunicação, pelo aspecto gráfico. Confidenciou esse gosto a Dom Giussani, e ele lhe montou um pequeno escritório na rua Bagutta. Depois, com alguns amigos, Alberto criou uma pequena agência publicitária.
Mas depois apareceram outras “paixões”: as mulheres, o dinheiro, a ânsia de sucesso no trabalho. A experiência de Gs lhe parecia restrita, cheia de limitações. O barbante começou a ficar mais grosso e forte, já parecia um cabo de aço. E Alberto decide romper com tudo e corta todos os relacionamentos na comunidade.
Vem o sucesso no trabalho, justamente no campo da publicidade; acabou criando uma das mais importantes agências publicitárias da Itália, a “Alberto Cremona”. A famosa campanha “Fatos, não palavras”, criada para uma conhecida loja de eletrodomésticos, saiu de sua veia criativa. Vem o dinheiro e não faltam mulheres. Isso durante quarenta anos.
Mas permanece ativo aquele desejo ardente de algo mais que vivenciara naquela amizade, junto com aquele padre. Escondida, permanecia uma esperança: “No fundo, sempre posso voltar para Dom Gius”. Quando caem os ídolos do dinheiro, do trabalho, do amor a si próprio, Alberto decide que não pode mais perder tempo e se põe a procurar aquele Divino que durante todos esses anos tentara esquecer. Dedica-se à filosofia hinduísta, à ioga, ao budismo. Mas são apenas paliativos, pálidos consolos.

O passeio em Pádua
Em 2004, com a mulher e o filho menor, vai a passeio a Pádua para visitar a Capella degli Scrovegni. E como estão lá, decidem visitar a Basílica de Santo Antonio. Dentro, as pessoas formam uma fila para tocar o túmulo do Santo. Alberto – nem ele sabe bem o porquê – também entra na fila; quando toca a laje de mármore, parece-lhe que algo se desfaz dentro de si. E ele conta: “Intuí que todas as respostas que eu buscava já as tinha encontrado. Era Cristo”. Em poucos meses, volta a freqüentar a missa, compra o breviário (livro de orações), reencontra a alegria de rezar, retoma os “livros do mês” da antiga Gs, que havia guardado. Não basta. Tem algo mais que quer reencontrar: aquela experiência concreta da amizade com Cristo.
Em fevereiro de 2005, a notícia da morte de Dom Giussani: justo agora que pensava em ir procurá-lo, que precisava dele! Vêm-lhe à mente alguns nomes; depois de quarenta anos, telefona para um deles: “Oi, Rodolfo. Sou Alberto Cremona. Você se lembra?”. É a bicada, o fio está rompido. “Reencontrei aqueles amigos. Com eles iniciou-se a minha nova conversão. Estar com eles, ir à missa juntos, a decisão de matricular-me na Faculdade de Teologia, ler os textos de Giussani e aderir à proposta da Fraternidade, foi a possibilidade concreta de viver uma vida nova, plena. Que, assim como há quarenta anos, abraça toda a vida. O relacionamento com os meus filhos, com os velhos amigos (que ficaram um pouco assustados), e até o trabalho, tudo mudou. Minhas campanhas publicitárias são mais divertidas e... mais honestas”. Agora parece tudo novo.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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