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Passos N.82, Maio 2007

SOCIEDADE - Família

Acolher o outro na gratuidade

por Marco Mazzi*

Há vinte e cinco anos nascia a Associação Famílias para a Acolhida. No início era constituída somente por famílias que adotavam ou que recebiam crianças para guarda provisória. No decorrer dos anos, abriu-se para outras formas de acolhida


A Associação Famílias para a Acolhida é formada por famílias que acolhem em suas casas, temporária ou definitivamente, uma ou mais pessoas que precisam de uma família. Sentir-se acolhidos e amados é uma experiência indispensável para o crescimento integral de uma pessoa e a família é o primeiro âmbito naturalmente acolhedor.

A sociedade considera a experiência familiar um fato privado, para ser vivido de maneira fechada e zelosa e é influenciada pela estrutura estabelecendo modelos muito diferentes em relação à tradição. A Associação se propõe em ajudar a aprofundar e difundir o valor da família também como sujeito social. Conforme o estatuto, ela tem como objetivo “valorizar, apoiar e difundir a acolhida de menores e adultos em dificuldades, a partir de uma experiência de vida cristã”, nas formas mais diversas, em particular: adoção, guarda provisória, hospedagem de pessoas “frágeis” da família e de adultos. O objetivo principal é, portanto, o apoio a famílias que abrem suas casas para as pessoas em dificuldade: crianças com famílias problemáticas, anciãos sós, pais de doentes em processo de cura junto a hospitais distantes de suas cidades, estudantes ou jovens longe de suas famílias de origem. A Associação tem como ponto central o acompanhamento e a educação permanente do adulto na experiência de acolhida familiar, reforçando-lhe constantemente as razões por meio de uma rede de relacionamentos de amizade que permite, entre outras coisas, também uma troca mútua de suportes e ações concretas no cotidiano.


Portadores de um bem

As formas de acolhida são, portanto, diversas. O que as unifica é a abertura do âmbito familiar para acolher, na concreta cotidianidade da casa, uma pessoa “estranha”, alguém que não faz parte do modelo corrente de família mononuclear.

No coração desta grande rede de solidariedade há, sobretudo, uma amizade entre pessoas absolutamente normais, pessoas que decidiram viver plenamente a própria vocação de maridos, esposas e pais e entenderam mais profundamente o que quer dizer acolhida.

Isso é descrito no livro A Morada Encontrada, editado na Itália: “A consciência que nos permitiu um empenho estável no decorrer dos anos, foi a comunicação de uma concepção de valor da pessoa como única e irrepetível – portadora de um desejo de realização e de felicidade – e de um trabalho de construção no mundo. O ponto de partida da nossa iniciativa não foi, em primeiro lugar, o choque da negatividade das condições daqueles que pediam hospitalidade em nossas casas, mas a percepção de nós mesmos como portadores de um bem, o que foi possível porque nós mesmos vivemos a experiência de ser acolhidos, condição necessária para perceber a própria pessoa, o próprio ser, como uma riqueza e um valor.

A experiência da qual falamos, portanto, nasceu do exemplo de uma humanidade capaz de acolher e que suscitou em outros a mesma capacidade de acolhida, comunicando-lhes as razões e revelando a natureza da pessoa e de sua necessidade.

Por estas razões a disponibilidade dos indivíduos e das famílias que acolhem não se revela como resultado de uma singular predisposição ou de um heroísmo particular ou ainda como resultado de um empenho especializado, mas como expressão de uma dimensão da pessoa que nasce da consciência de ter sido ela mesma acolhida, abrindo à capacidade de hospedar outros sem qualquer pretensão.

Ouvindo as histórias dos sócios da Associação, descobre-se que eles começaram a acolher porque percebiam a experiência afetiva da própria família como um lugar portador de uma positividade que podia ser desfrutada também por outros. A acolhida se exprime, assim, em gestos de hospitalidade cujo valor permanece para sempre porque não estão vinculados a resultados esperados, mas dizem respeito à natureza dos sujeitos implicados: trata-se antes de tudo de um encontro entre pessoas cuja forma poderá se modificar, mas que permanece no tempo como fato indelével”.

*Presidente da Associação Famílias para a Acolhida

 
 

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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