Por ocasião do segundo aniversário da morte de Dom Giussani, realizaram-se missas de sufrágio no mundo todo. Nestas páginas, trechos das homilias de Bispos e Cardeais do mundo inteiro. E, ainda, um excepcional testemunho vindo de Madri
Cardeal Dionigi Tettamanzi,
Arcebispo de Milão (Itália)
Estamos, pois, profundamente unidos a dom Giussani nesta “comunhão dos santos” e queremos, antes de tudo, professar a nossa fé em Jesus, “o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Gostaria de expressar gratidão pela paixão missionária que vos caracteriza, não só nos mais diversos ambientes de vida – para que Deus deixe de ser excluído da cultura e da vida pública –, mas também e de vários modos nas comunidades paroquiais da nossa diocese. E, ao mesmo tempo, pedir que a urgência cada vez mais aguda da missão no atual contexto social e eclesial torne mais sólida, e por isso mesmo mais crível e eficaz, a comunhão entre todos os que crêem em Cristo e entre todas as realidades eclesiais: “para que o mundo creia” (Jo 17,21).
Gostaria de fazer alguns apelos a vocês. O primeiro: lembrando em especial o período inicial da história do Movimento, sabeis despertar e intensificar – quase que a revivendo – a excepcional paixão educativa de Dom Giussani em relação aos jovens. Nessa grande responsabilidade, sejam-vos de estímulo as palavras que Bento XVI dirigiu aos Assistentes diocesanos da Ação Católica, ao final da Audiência geral de quarta-feira 8 de fevereiro: “Caros amigos, frente a uma preocupante emergência educativa, vós sois chamados a comunicar a fé às novas gerações, favorecendo o encontro de tantos jovens com Cristo. Não vos canseis de recordar-lhes – pode ser difícil, mas é necessário e belo – que só o Evangelho pode satisfazer plenamente às expectativas do coração humano e pode criar um verdadeiro humanismo”.
O segundo apelo. Fiquei muito interessado, num recente encontro com sacerdotes ligados a Comunhão e Libertação, ao ouvi-los relembrar palavras e gestos expressos por Dom Giussani em alguns encontros: palavras e gestos que tiveram a força e o encanto de uma mudança decisiva da experiência pessoal de cada um deles, dedicada a Cristo, à Igreja e ao homem. Pensei: são fragmentos preciosos de uma “história” que merecem ser comunicados a muitos outros que não tiveram a graça e a alegria de um encontro direto, tão vivo e pessoal.
Também desse modo o carisma que o Espírito doou ao fundador mantém a sua atualidade e a sua força, continuando a enriquecer a vida e a missão da Igreja no decorrer do tempo.
E, enfim, um augúrio. Enquanto mantenho vivíssima lembrança do encontro que tive com o Papa, o sucessor de Pedro, por ocasião da recente Visita ad limina, peço ao Senhor que todos possais preparar-vos com intensidade espiritual para a audiência de todo o Movimento com Bento XVI no próximo dia 24 de março, pelo XXV aniversário do reconhecimento pontifício da Fraternidade e para que esse evento seja verdadeiramente fecundo de frutos. Desejo de coração que a palavra abalizada, o afeto paterno, o ministério e a graça apostólicos do Papa vos façam crescer no amor a Cristo e no serviço à sua Igreja no cotidiano caminho de santidade e de testemunho evangélico na sociedade. Sempre afagados e fortalecidos pela presença de Maria, a Virgem Mãe.
Cardeal Angelo Scola,
Patriarca de Veneza (Itália)
Hoje nós recordamos um homem, Dom Giussani, que fez do critério do envolvimento pessoal do eu com o acontecimento de Cristo o objetivo da sua vida e de toda a sua obra. Ele foi um grande educador. Em tempos nos quais – no início de maneira quase imperceptível – ele percebeu que o eu era o grande ausente da pedagogia católica e que isso conduziria ao fracasso. Não bastavam os números, não bastava repropor (ainda que de maneira eficaz) iniciativas passadas, não bastavam os megaeventos. Era preciso que o eu entrasse no jogo.
Portanto, era preciso que a liberdade assumisse o seu devido peso. Era preciso que a liberdade vencesse a batalha contra a convenção, para que florescesse no coração de cada cristão a convicção que leva à comunicação, como condição necessária do conhecimento. Uma coisa não é conhecida – dizia o grande Tomás de Aquino, a quem Dom Giussani freqüentemente se referia – enquanto não for comunicada.
Eminente pedagogo, preocupava-se com esse elemento distintivo, absolutamente necessário: “entrar no jogo”. Lembro-me dos primeiros encontros, no final dos anos 50, quando em cada debate, a partir de uma bem preparada ordem-do-dia, pontilhada com perguntas candentes, ele cuidava para que a pessoa não se escondesse atrás de afirmações genéricas.
“O projeto de lei sobre casamento homossexual... e você, quem é você por trás do discurso sobre esse projeto? A secularização... e você, onde se situa? O amor é... e como você ama?”. Esse é o critério básico; mas ele trazia para o palco um outro, que podemos muito bem extrair, nesta grande festa da Cátedra de São Pedro, da confissão de fé do Príncipe dos Apóstolos. Após essa confissão, Jesus estabeleceu a infalibilidade da sua Igreja, que mantém inclusive em tempos de violenta transição. “Tu – diz Pedro – és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.
Quando alguém expõe a própria face, quando alguém entra no jogo com Cristo, o Espírito Santo – na hora e da maneira que só Ele conhece – lhe doa a resposta à grande pergunta. Mas Jesus sublinha: “Tudo isso não vem de ti. Não vem da carne nem do sangue; mas é o meu Pai que está nos céus quem o revelou a ti”.
Cardeal Antonio Rouco Varela,
Arcebispo de Madri (Espanha)
Dom Giussani nasceu no dia de Santa Tereza de Jesus e morreu no dia da Cátedra de São Pedro. Santa Tereza foi de Jesus. Em virtude desse relacionamento, viveu durante toda a sua vida uma vocação materna e educativa, com uma autoridade que ainda hoje é viva e fascinante. O mesmo podemos dizer de Dom Giussani. O encontro com Cristo, no curso da vida, como resposta aos problemas do próprio tempo é o ensinamento central de Dom Giussani. Ele viveu o seu testemunho sempre com entusiasmo, pureza e com aquela diversidade adequada ao mundo que ele amou. Seu testemunho sempre foi de Pedro e com Pedro, Vigário de Cristo. Na obediência a Pedro, em comunhão com a Igreja, reconheceu a amada autoridade viva e a segurança infalível da confissão da fé. Em anos difíceis para nós, na Espanha, logo após o Concílio Vaticano II, a Igreja quis ser uma janela através da qual a pessoa de Cristo penetra no mundo. Dom Giussani é uma dessas janelas abertas que o Espírito escolhe a fim de que o Senhor se faça de novo presente na vida da sociedade. Nós o convidamos para vir à Espanha justamente para que abrisse essa nova janela para os jovens na universidade, onde não havia muitas janelas abertas e onde certamente faltava a dele, que iluminava e fascinava, que oferecia uma luz brilhante, uma luz verdadeira. Devemos amar Maria como ele a amou; precisamos de testemunhas de Cristo e de pessoas apaixonadas por Cristo, pessoas que tiveram suas vidas mudadas por Cristo, e precisamos viver o “sim de Pedro”, em obediência filial. Deveis assumir a vossa responsabilidade com a experiência e com a vida, para transmitir o carisma que recebestes e serdes sinais vivos do fato de que Cristo está presente e busca o homem, quer encontrar os homens e os jovens deste tempo.
Dom Filippo Santoro,
Bispo de Petrópolis (Brasil)
Acabamos de ouvir este Santo Evangelho da Festa da Cátedra de São Pedro Apóstolo, no qual se apresenta a confissão de Pedro que reconhece Jesus como o Filho de Deus. Jesus pergunta: “Quem sou eu pra você?” E Pedro, recebendo a luz do Espírito, diz: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!”. Não só um encontro importante e interessante, mas determinante e muito mais: o Senhor se oferece como o Salvador. Na nossa vida, aconteceu algo parecido: um encontro determinante na vida de todos que conheceram Dom Giussani, mas também daqueles que não o conheceram diretamente. Penso aos milhares de universitários da Associação dos Sem Terra de São Paulo que foram tocados pelo anúncio do carisma. Trata-se de muitas pessoas que não conheceram Dom Giussani pessoalmente, mas o encontraram no rosto e na vida de seus amigos. Todos eles, assim como aqueles do início, seguiram o caminho que ele indicava: começaram a escutar e a seguir o coração, as exigências, as perguntas. Este encontro determina o curso da vida. Uma vida que poderia seguir por um caminho começa a ter uma outra direção, nova, intensa, desejada e não pensada antes: muito mais viva, muito mais vibrante! “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” O encontro com Dom Giussani nos ajudou a fazer esta afirmação, a estar diante da presença do Senhor. E a presença dele no meio de nós, é uma presença atual. Dizíamos, no ano passado: “não estamos órfãos”. Repetimos, neste ano, mais ainda! Porque aquela presença que determina a nossa vida, nos coloca com o seu carisma diante da Presença de Cristo. Renova aquela brasa que tende a se apagar se não acontecem os encontros verdadeiros. Quanto mais passa o tempo, mais intensa é a presença de Dom Giussani, do seu carisma. Cada um de nós está cheio de gratidão, e está cheio de saudade, mas de uma saudade dominada por uma presença que se revela como o significado e o valor da nossa vida. E isso é mais claro quanto mais passa o tempo.
Dom Serafim Fernandes de Araújo,
Arcebispo Emérito de Belo Horizonte (Brasil)
O inesquecível Dom Giussani foi um sacerdote que marcou seu tempo, uma geração, e em vocês essa geração vai se multiplicando pela beleza do seu carisma. Antes de tudo, uma Fraternidade como quer a Igreja, marcando a alguns mais de perto, e a outros, como a mim, com a simpatia pelo trabalho que se faz e que talvez se deva fazer ainda muito mais, realizando a beleza de um carisma de Cristo realizado que Dom Giussani teve o dom, o entendimento de querer passar à sua Igreja. Eu sempre tive muita vontade de poder passar às pessoas o carisma de CL. O que a Igreja do Brasil vai falar na próxima Conferência Episcopal Latino-americana que acontecerá em Aparecida? É um dos momentos mais difíceis da Igreja, mas se o Espírito Santo nos ajudar, conseguiremos tocar no que Deus quer: o Evangelho vivido não nas conjecturas mesmo de espiritualidade, mas no realismo do Evangelho vivido como resposta de vida. Isto faz aproximar CL de uma resposta que o mundo está precisando.
Dom Misue Atsumi,
Bispo de Hiroshima (Japão)
Este ano, a Igreja católica japonesa está em festa pela beatificação de 188 mártires, três dos quais são da cidade de Hiroshima. Essas pessoas, doando a própria vida, testemunharam que a fé em Jesus era mais importante do que a própria vida. Dom Giussani nos deu o mesmo testemunho, começando por Milão e alcançando, depois, muitos países do mundo. Todos nós somos chamados a dar o mesmo testemunho. Devemos somente pedir ao Senhor a graça de poder testemunhá-Lo neste período obscuro da história. Acabamos de ouvir do Evangelho: “Effatà!”, isto é, “Abre-te”. Peçamos a Dom Giussani que nos ajude a manter sempre aberto o nosso coração para essa Graça.
Dom Tadeusz Kondrusewicz,
Arcebispo de Moscou (Rússia)
O Senhor suscita sempre, em sua Igreja, pessoas que sabem responder às necessidades do tempo. Assim, Dom Luigi Giussani, nos difíceis anos 50, captou um dos pontos mais dramáticos da situação da Igreja na Itália: a distância entre a fé e a vida, num país que se declarava católico, e o progressivo afastamento dos jovens da fé, por desinteresse e ignorância. Daí a intuição sobre a função fundamental da educação, que tem um importante espaço no carisma do Movimento Comunhão e Libertação, nascido dele. Tive a graça de conhecer pessoalmente Dom Giussani. Fiquei impressionado com a sua paixão educativa, com seu interesse por tudo, com sua paternidade em relação a todos; tudo isso nascia, evidentemente, da sua paixão por Cristo. Faço votos que continueis a viver a vossa responsabilidade no mundo e na Igreja testemunhando a fé e a afeição a Cristo que Dom Gius despertou em vós.
Cardeal José Policarpo,
Patriarca de Lisboa (Portugal)
Quem não for capaz – na coragem da fé e na humildade de coração – de dizer sempre, em tudo e em todas as circunstância, “Credo sanctam Ecclesiam”, não fará nada de duradouro; pode ter sucesso, pode ter muitos seguidores durante algum tempo, mas não marcará a história com um traço luminoso, que é característico dos verdadeiros discípulos. Agradecemos a Dom Giussani, que foi um desses homens: mesmo diante das privações, não precisando que todos estivessem de acordo com ele ou que todos os seguissem, ele sempre foi capaz de colocar a prioridade na comunhão. Comunhão no sentido mais forte que essa palavra tem no Novo Testamento, koinonia: mergulhar inteiro no realismo de Cristo.
Dom Martin David Holley,
Bispo auxiliar de Washington D. C. (Estados Unidos)
Dom Giussani cria no Evangelho e nos sacramentos da Igreja. Viveu as bem-aventuranças, que ouvimos no Evangelho de hoje, e encorajou centenas de milhares de pessoas a percorrerem o caminho da felicidade, que é viver o exemplo de Cristo, caminho-verdade-vida. Giussani queria que todos vivessem o chamado original do Batismo. O desejo e o chamado a serem santos, vivendo a vida comum de um modo extraordinário. Como João Paulo II nos recordou em sua mensagem a Dom Giussani por ocasião da festa de Nossa Senhora de Lourdes, o Movimento escolheu indicar não um caminho, mas o caminho para a solução do drama existencial. Esse caminho é Cristo.
Cardeal Juan Luis Cipriani,
Arcebispo de Lima (Peru)
A Eucaristia é a Igreja, uma vida plena de surpresa e de maravilhamento, da qual nasceu em Dom Giussani essa força que lhe permitiu conquistar milhares e milhares de jovens. Essa surpresa não é uma questão de sentimento, é algo mais profundo. Peçamos ao Senhor, por intercessão de Dom Giussani, que nos ajude a viver a Eucaristia. O mundo mudará quando se revelar o mistério da Eucaristia. Podemos entendê-lo vendo que Cristo foi o primeiro amor de Dom Giussani. E quem nos dá a Eucaristia? Maria. Esse é um outro aspecto de Maria que todos os santos amaram, inclusive Dom Giussani. Por último, a Igreja, o ministério do Santo Padre. A obediência e o amor a ele, a proximidade com ele, o estudo da doutrina, são todas características que se encontram em CL. A oração de hoje é pela santidade de Dom Giussani. Nós somos chamados a ser sinais desse sacerdote santo; que dentro do movimento de CL todos sigam esses sinais de santidade.
Cardeal Christoph Schönborn,
Arcebispo de Viena (Áustria)
Penso que esta missa seja um momento de agradecimento a Deus. Numa época difícil para a Igreja, um jovem padre ofereceu a resposta para muitas pessoas e, portanto, tornou-se para muitos pai e amigo, indicou o caminho a seguir. Creio que essa seja uma lei fundamental da vida cristã: todos são chamados, um responde. Isso não é coletivismo, mas vocação. Pedro responde por todos os seus amigos, colegas, co-irmãos. E Jesus lhe diz: “Feliz és tu, Simão. Isso não te foi revelado nem pela carne nem pelo sangue, mas por meu Pai”. Recebeste a missão de encontrar a resposta para os outros. Penso que essa palavra pode ser aplicada a Dom Giussani: feliz és tu; não foram tuas próprias idéias que criaram, que abriram a vida; isso te foi mostrado pelo meu Pai que está nos céus; a ti, um dentre muitos. Agradecemos porque um de nós respondeu de modo exemplar em nome de todos nós, em nome de muitos, em nome da Igreja toda, em nome da grande comunidade da Igreja.
Cardeal Anthony Okogie,
Arcebispo de Lagos (Nigéria)
Dom Giussani demonstrou ao mundo que ninguém nasce santo; a pessoa se torna santa. Para ele, o cristianismo pode ser comparado a uma história de amor, um acontecimento. Seu amor pela humanidade não conheceu limites. Luigi e seu Movimento vivem na total entrega de si. Não querem ser servidos; vivem servindo os outros. Desse modo, convertem o coração de muitas pessoas a Cristo e tornam o mundo uma realidade melhor. Servir o próprio país não significa fazer algo extraordinário. “Vós os conhecereis pelos seus frutos”. Agradeçamos a Deus pelo dom deste humilde e santo servidor do Evangelho. Oremos também pelo movimento de Comunhão e Libertação e pelos Memores Domini, cuja presença entre nós é tão apreciada.
Cardeal Pedro Rubiano Sáenz,
Arcebispo de Bogotá (Colômbia)
Em Dom Giussani vemos a força de uma vida espiritual; toda a sua existência foi animada pelo Senhor, para torná-Lo presente. De fato, é importante que a experiência de Dom Giussani, tão plena de verdadeira vitalidade, cresça entre nós. É importante que vós, que acolhestes o dom de Dom Giussani, possais tornar presente a Igreja e a fé no mundo. Porque a fé não é só uma palavra, não vale só aos domingos, mas todos os dias e em todas as circunstâncias. Dar a razão da nossa fé significa ser um com Cristo e ser missionário, isto é, anunciar que Cristo é o Senhor; significa testemunhar a unidade com Jesus, de modo que Ele possa nos dar o dom da paz. Recordando Dom Giussani no dia da Cátedra de São Pedro, peçamos a Deus que abra o nosso coração para reconhecer o Cristo como o único caminho.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón