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Passos N.81, Abril 2007

RUBRICAS

Cartas

Minhas certezas
Caríssimos amigos, o texto proposto para reflexão durante as férias dos adultos, em Florianópolis, é muito denso e cheio de beleza, mas o que me chamou a atenção foi a afirmação: "A finalidade do Movimento é nos fazer ficar com Jesus". Nada foi mais certo e verdadeiro na experiência da nossa família, especialmente nos últimos quatro anos, período em que o Matheus esteve doente e veio a falecer de câncer. Ao pensar sobre o assunto, percebi que a nossa vida com o Movimento CL foi decisiva para o testemunho do Matheus, para a sua certeza do amor de Deus por ele. O Matheus também era um membro de CL! Ele foi batizado tendo por padrinhos um casal de amigos da nossa Escola de Comunidade, o Paulo e a Celina; ele sempre participou das atividades propostas para as crianças de CL (férias, convivências, futebol, etc.), fez catequese com um grupo formado por crianças de CL, e a sua primeira Eucaristia foi ministrada pelos padres Vando e Cassio, de CL de São Paulo. A Fraternidade de São Paulo, em especial o meu grupo de Fraternidade, fez companhia ao Matheus durante toda a sua doença, com orações constantes, visitas, doações de sangue e ajuda material. Ele reconhecia isso e rezava pelas pessoas da Fraternidade, como se membro dela fosse... Tudo o que o Matheus aprendeu sobre Jesus, e o testemunho que ele deu sobre o amor de Deus, inclusive pedindo a comunhão diária nos últimos dois meses de vida, certamente teve a influência das amizades que temos, que nos lembram sempre a presença de Jesus na nossa vida, a devoção a Nossa Senhora e a percepção de que os nossos limites podem ser superados, que nós podemos mudar, nos converter, com a graça de Deus e a amizade daqueles que nos amam por causa dEle. Eu encontrei, num antigo caderno de textos do Matheus, a seguinte redação, datada de 4 de abril de 2005: “Minhas certezas: Eu sou muito feliz. Nesses últimos dias, estive pensando se sou realmente feliz, e percebi que sou, pois tenho uma família que me ama, grandes amigos, como a Diana e outros. Mas tenho certeza de que, sem Deus, não é possível ser realmente feliz. Eu espero que eu sempre esteja nos braços de Deus, e sempre seja feliz e tenha uma vida cheia de amigos e amigas. E que minha família tenha tudo o que precisar, como amor, amigos e que seja muito feliz”. Somente alguém que se sentia muito amado poderia ter escrito essas linhas! Desde a adoção dos meninos, Matheus e Ariel, nós percebemos que Deus, na sua infinita misericórdia, havia nos concedido uma grande graça e, por isso, escolhemos o nome Matheus para aquele menino tão especial, pois esse nome significa “presente de Deus”. O presente de Deus para o Matheus foi a convivência com os amigos de CL e, em conseqüência, a sua capacidade de fazer amizades verdadeiras com quem se relacionava com ele. E, assim sendo, o Matheus se tornou, verdadeiramente, um presente de Deus para todos nós.
Anna Maria, São Paulo – SP

O destino bom de Sergio
Caríssimo padre Carrón, meu marido, Sergio Faccioli, lhe escreveu em agosto para contar sobre a nossa comunidade e para lhe fazer participar da alegria, das fadigas e das graças que o Senhor nos dá. Poucos dias depois, Sergio morreu repentinamente. Somente depois, encontramos, no seu computador, a carta que lhe havia enviado e, para mim, foi a confirmação da determinação e da consciência com que Sergio vivia tudo aquilo que encontrara: o pertencer a Jesus, àquela experiência de beleza, plenitude, vida e gosto que o fascinara e que continuamente chamava a todos; foi o cumprir-se de um caminho cada vez mais certo e feliz. Ultimamente, sobretudo depois da peregrinação à Terra Santa, Sergio me pedia, insistentemente, que me abandonasse a Jesus, que confiasse nele com serenidade e que estivesse atenta às graças que o Senhor, continuamente, nos dá. Com sua morte, senti-me perdida e amedrontada, mas, ao mesmo tempo, tenho a certeza de que o caminho que percorremos juntos, o sacramento que permanece pela eternidade, o bem que procuramos construir, os filhos que procuramos educar ao amor a Cristo e à Igreja não são perdidos, não são para o nada, mas para um destino bom. É, verdadeiramente, a participação em um mistério grande. Agora, enquanto a falta de meu marido se faz cada vez mais dolorosa e visível, tenho cada vez mais a percepção de que o Senhor o tomou porque tinha cumprido seu caminho e agora me quer, assim como sou, com toda a dor que, às vezes, parece não me deixar viver. Sempre me pergunto se o Senhor tomou Sergio exatamente para isso, para que eu me decidisse, para me pedir que eu confie nele como Sergio aprendeu e que, com o coração alegre, testemunhava a todos. No funeral e nos dias sucessivos, recebi testemunhos do mundo inteiro de quanto Sergio tinha tocado as pessoas pelo modo como era fascinado pelas coisas que Deus o fazia encontrar, testemunhando a todos aquilo que tanto o havia tocado no Movimento: dar a vida por Cristo é a única coisa pela qual vale a pena viver e morrer. A sensibilidade, a atenção e a dedicação com a qual tantas pessoas me testemunharam ter reconhecido em Sergio o desejo grande de verdade e felicidade que se realiza na oferta de si a Jesus, me permitiu abrir cada vez mais o coração à experiência do Movimento, e isso me faz agradecer pela presença deles e, em particular, pela sua que, com paterna paciência e disponibilidade, nos guia na estrada escolhida por Deus para nos fazer companhia agora.
Mariapia, Isera – Itália

Procurar escola
Caro padre Carrón, hoje, 19 de fevereiro, começou o ano escolar: é o primeiro dia de escola de Maria, nossa quarta filha. Esse grande momento para ela nos fez pensar na grande Graça que nos foi dada, mandando os nossos filhos ao Colégio Santa Catarina de Siena. No final do ano letivo de 2004, analisamos a possibilidade de procurar outra escola católica para nossos três filhos maiores, porque desejávamos, além de instrução, uma formação cristã para eles e também para nós, enquanto pais. Em outubro, falei dessa idéia a um colega meu que me disse que seus sobrinhos freqüentavam uma escola "pequena, mas muito boa, onde se vive como uma família". Essa conversa não foi adiante. No final de novembro, meu marido ainda procurava uma escola. Entre o Natal e o Ano Novo, por intermédio do meu colega, entrei em contato com sua cunhada, Mavi, que demonstrou seus dotes de "vendedora", porque a descrição que nos fez e a paixão que demonstrou pelo Colégio Santa Catarina de Siena nos entusiasmou. Começou, assim, a nossa aventura. Guardamos belíssimas recordações dos primeiros dias de aula: a mãe de um companheiro de Elena, que veio falar comigo, o chá de boas-vindas às novas mães, durante o qual uma delas me deu uma rápida e clara explicação sobre o que era o Movimento... em suma, todos nos fizeram sentir o valor e o calor da acolhida. No início, nas primeiras reuniões de pais, ouvíamos palavras como realidade, positividade, maravilhamento, Destino, cujo significado não era completamente claro para nós. No fim de uma reunião sobre Educar é um risco, nos aproximamos da diretora, Giovanna Tagliabue, que coordenava o encontro, para lhe dizer que não entendíamos muito daquilo que estavam discutindo, e ela nos lançou um desafio: "Conhecer Jesus!". Já perto do fim do ano escolar, graças ao convite de alguns amigos, participamos da Escola de Comunidade, intuindo que ali havia "algo de bom". Fazendo um rápido e incompleto resumo: o maravilhoso projeto de pesquisa "Com os amigos até aos confins do mundo", que envolveu toda a classe, a semana de teatro, as "quartas culturais", as aulas de italiano e inglês, os encontros com os pais sobre educação... nos deixou maravilhados por tudo o que pode acontecer em um ano letivo. Depois de dois anos, vimos nossos filhos crescerem, sob todos os aspectos, porém acredito que foram grandemente "beneficiados e educados", assim como nós, como pais e como cristãos.
Elena e Martin, Assunção – Paraguai

O valor do seguir
Ana Lydia, de São Paulo, nos enviou esta carta que recebeu de sua amiga Tânia.
Queria dizer que eu tenho identificado, na minha experiência, nesses quatro anos de Movimento, cada passo do caminho indicado por Dom Giussani. Tenho seguido esse caminho na companhia de Cristo que mudou a minha pessoa (transformou meu coração de pedra em carne). Experimento uma liberdade e a serenidade que se dão como confirmação da obediência ao método que Dom Giussani nos deixou.Vivendo a experiência, o impacto com a realidade, olhando para a minha dor e a minha urgência, mendigando a ajuda de Deus (oração), obedecendo a autoridade, comparando tudo com o coração e aprendendo a dar um juízo sobre tudo o que se vive. Tenho muita sede de aprender, preciso de um Outro; se não for assim, eu morro, não me sustento. Acho que, no ano passado, eu venci até o formalismo, pois não foi a forma (Escola de Comunidade, Fraternidade) que me sustentou, mas o método de Dom Giussani. Agora que vivi na carne a verdadeira experiência, posso viver os gestos indicados com mais clareza e retomar o caminho todas as vezes em que acontece algum erro. Viver assim faz com que cada instante seja salvo, e se vive a unidade em tudo: no trabalho, em casa com as crianças, na família, etc. Quando eu ainda não compreendo algo, lembro que Dom Giussani disse que isso não faz mal, e que se torna um pedido. É só permanecendo que vamos entender, através da realidade, que é sinal de Deus aquilo que buscamos. Quero viver sempre assim, que Deus continue a provocar a minha liberdade, o centro do meu eu, que eu não fique impermeável à sua presença. Estou tão plena que entendi que, se Deus se revelasse de uma vez, eu não suportaria tamanha alegria. Só tenho a agradecer pelo encontro com a Ana Silvia, um encontro que salvou a minha vida.
Tânia, São Paulo – SP

Partir do coração
Caríssimo padre Julián, diria que entendi que cinismo – que provoca violência – e moralismo – que provoca mentira – são as duas grandes oportunidades para o homem evitar o drama provocado pela urgência do seu coração em relação à vida que se lhe apresenta. Não posso mais pertencer à história da Igreja e do Movimento sem a consciência de que, sendo a medida do meu coração infinita e a da realidade, finita, tenho um drama para viver. Uma falta de algo que evidentemente procuro no decorrer da vida. Então, o que Cristo tem a ver com o meu drama pessoal? Tudo. Estou descobrindo que o primeiro grande milagre que Deus fez ao homem foi o de olhar para ele amando-o, exatamente, por esse drama. O próprio Deus o vive, quer viver esse drama, buscando-nos e batendo à porta do nosso coração. Deus, por meio do seu Filho, olhou e amou o homem com misericórdia. A falta que sentimos dentro de nós é a origem do amor na nossa vida. De fato, quem não ama é quem não reconhece a si mesmo como falta de um Outro, de um Tu. Percebo a insistência em partir do coração como a única ponte possível para a descoberta de um Tu dentro da realidade. O resto é suposição, ideologia ou poder. O que quer dizer partir do coração para quem, como nós, vimos Cristo passar pela estrada da nossa vida? Quer dizer expressar a exigência de que este Tu se revele em cada coisa que fazemos. Ninguém faz assim normalmente, nem eu em primeiro lugar. O poder do mundo não quer essa postura original do coração, da criança. Pedirei a Nossa Senhora para que isso se torne cada vez mais o terreno de batalha, antes que tantas fadigas vãs sejam gastas para objetivos inúteis. Obrigado pela ajuda amiga que o senhor é neste trabalho existencial.
Matteo, Dublin – Irlanda

O amor ao infinito
Caríssimo padre Julián, nasci na Albânia e sou de origem armênia e albanesa. Atualmente, estudo na Itália. Gostaria de lhe descrever o que me aconteceu e que me fez decidir pedir para entrar na Fraternidade. A coisa mais importante para mim, nos Exercícios do CLU, foi entender, depois dele, que gastei toda a minha vida buscando satisfação ao meu desejo que, sendo dominante, me fez buscá-lo incansavelmente em todas as coisas. Este desejo e o ambiente no qual vivi determinaram, inicialmente, o meu caráter e minha personalidade. Sempre pensei, de fato, que simplesmente tinha nascido intuitivo, hiperativo e irriquieto. Pelo meu modo de ser, nunca me cansaria de observar o infinito, também as estrelas, como fazia desde criança, à noite, certo de que alguma coisa estava acontecendo, que é o Ser: fui atraído pela natureza de uma maneira potentíssima. Em tudo, sempre busquei um amor e, no entanto, nada me bastava, pensava que fosse uma questão de dever tentar novamente, de ter mais sorte ou de inventar algo mais elaborado para me auto-satisfazer. Mas algo me aconteceu. Como o filho pródigo que volta, finalmente, para quem o ama. Acho que estou apaixonado por uma única coisa e isso, agora, está mais claro. Não preciso da mulher que me ama e das estrelas que me falam se não existir aquilo que Dom Giussani me deu que é o amor seguro do qual necessito. Agora, à noite, antes de dormir, ao invés das estrelas, penso nEle e em Maria. Quero a perfeição e, como o viajante que apenas entrevê a meta, à distância, e, por isso, corre mais rápido, do mesmo modo quero correr com todas as minhas forças em direção a Ele. Caro padre Carrón, desde que conheci o Movimento, experimentei a possibilidade de um amor para mim, de uma verdade e de uma beleza nos relacionamentos, de uma certeza no caminho da vida, da certeza de poder olhar e seguir, experimentei uma valorização de mim e de toda minha história, uma paz e um abraço que são a coisa à qual posso dizer sim, com todo o coração. A minha vida não é fácil, mas diante da coisa mais bela ou mais trágica, como foi a morte da minha irmã há alguns anos, experimento a Sua presença amorosa. "A fé é uma obediência do coração àquela forma de ensinamento a qual fomos consignados" (Ratzinger). Olhando para minha experiência reconheço que o caminho ficou claro para mim e que me foi dada a companhia de pessoas que caminham como eu, e ao meu lado: a comunidade cristã. Por causa de tudo isso, quero que Cristo me acompanhe para sempre, quero aprender, por meio da Fraternidade, o nível adulto da fé, a ser responsável pela minha santidade.
Zhirajr, Chieti – Itália

Diante do real
É com grande alegria que noticio a existência de uma comunidade estável de CL em João Pessoa, a qual surgiu a partir do empenho do Joaquim diante do real. Tudo começou durante uma festa em João Pessoa e, em certo momento, surgiu um assunto pertinente relacionado ao cristianismo, e Joaquim se propôs a reunir o grupo de amigos a cada quinze dias. Com certeza, o “sim” de Joaquim ecoou nos ouvidos de Cristo e a Boa Nova foi partilhada entre eles. Alguns dias após a festa, Joaquim se deu conta do compromisso que assumiu e que tinha de cumpri-lo. Foi aí que sua rotina começou a mudar literalmente. E ele me confessou que tudo aquilo fazia bem a ele, e como era gratificante observar que a semente plantada já se transformou em árvore e já está produzindo frutos. Quinzenalmente, Joaquim viaja 150 km de Campina Grande a João Pessoa para encontrar com o grupo de aproximadamente dez pessoas. Tive a oportunidade de participar de uma Escola de Comunidade em novembro de 2006 e fiquei contente em ver que os novos amigos, mesmo sem entender bem o carisma de CL, estavam lá rezando, cantando, lendo o livro Por que a Igreja, enfim, descobrindo o caminho que leva a Cristo. Peço a oração de todos pelo Movimento na Paraíba (Campina Grande e João Pessoa), para que Cristo se revele no coração de seus membros e nos aguce o desejo de viver intensamente o real e descobrir o sentido da vida em todos os momentos.
Messias, Campina Grande – PB

Uma esperança vencedora
Queridos amigos, eu e Irmã Cristina estamos no Haiti há duas semanas, e esse já parece ser o nosso lugar! A viagem foi boa: saindo de ônibus do Rio até Belém, chegamos a Parintins de barco e nos despedimos do Brasil, após um período passado ali. Nessas duas semanas, estamos conhecendo a realidade do Haiti. O que parece logo claro é a pobreza do povo, a solidão, a luta que a vida é. Não existem escolas públicas, nem hospitais, nem asfalto nas ruas. Muito menos energia elétrica, água encanada ou rede de esgotos. O povo mora em barracos de zinco e anda o dia todo para buscar água. O calor é muito forte e tem muita poeira. Nós estamos hospedadas com padre Rich. Além de ter um orfanato que acolhe 700 crianças, um hospital pediátrico com 200 camas, ele trabalha o dia todo nas favelas da cidade com uma equipe de saúde. Ele é médico e, em cada favela, tem um lugar, até mesmo uma barraca de zinco, onde ele toma conta dos doentes, bate Raios X, faz análise do sangue dos doentes, faz consultas e entrega remédios. Uma vez por semana, ele ajuda as irmãs de Madre Teresa de Calcutá, que têm uma casa para doentes de HIV: cem homens e cem mulheres, mais 20 crianças, filhos de pessoas que morreram lá. Aquilo que estamos vendo e encontrando nos provoca a estar diante da realidade com uma consciência cada vez maior do que significa estar, hoje, aqui. As necessidades são muitas, e seria fácil sermos movidas somente pela generosidade e tentarmos oferecer respostas que, no tempo, não deixam o homem feliz. O que mais nos provoca é a evidente necessidade de Cristo: diante de tanto horror, de um rosto humano tão ferido, torna-se claro para mim por que foi necessário o sacrifício de Cristo na cruz. Estamos na Quaresma, não poderíamos pedir uma ajuda maior para viver os nossos primeiros passos aqui. Tudo da liturgia desse tempo nos indica a necessidade do sacrifico de Cristo: diante do mal do homem, era necessário um amor tão grande para resgatar os nossos limites e os limites da realidade, para poder afirmar a “inexorável beleza da realidade”. Assim, também aqui, no Haiti, é possível viver a Memória de Cristo, ou seja, é possível acordar a cada dia com o desejo de buscar a Presença dEle na realidade e de se oferecer ao Mistério para este povo encontre o que responde aos desejos do próprio coração. O que estamos fazendo? Por enquanto, estamos conhecendo a realidade indo todos os dias às favelas com esse padre e voltando todas as noites ao hospital das crianças. Ele nos pediu para tentar viver uma presença no bairro mais difícil da cidade, onde nem o pároco consegue ir. Nós estamos disponíveis, mas, por enquanto, estamos tentando fazer um trabalho com o chefe da gangue que manda no bairro, pois se ele não nos apoiar teremos que renunciar a este projeto. Já nos encontramos com o Bispo local, explicando a nossa história e o nosso caminho e pedindo acolhida na Diocese. Ele aceitou logo a nossa presença e se ofereceu para nos acompanhar nesse caminho. O nosso dia inicia as 5h45 da manhã com as Laudes ,para depois subirmos no caminhão e irmos até o hospital onde às 7 horas temos missa. Depois, é a luta. Temos que buscar as crianças que morreram à noite no hospital, dar banho nelas, depois arrumar o corpo, colocar no caixão que o hospital produz com o papelão das caixas dos remédios vazias e fazer uma pequena liturgia.A cada dia, encontramos duas ou três crianças: pneumonia, AIDS, desnutrição, TBC; essas são as doenças mais freqüentes. Agora me pediram para pintar um anjo sobre cada caixão. Tarefa difícil, uma vez que não sei pintar nada! Mas vou procurar alguma coisa e vou conseguir fazer. Depois, vamos para as ruas junto com a equipe itinerante do padre. Uma favela atrás da outra até a noite, e em cada favela, dezenas e dezenas de doentes. Aqui o povo passa fome de verdade, e a maioria das crianças está com desnutrição grave. A gente está visitando também as escolas do padre: barracas dentro das favelas onde um adulto ensina a ler e a escrever. Essas crianças não têm acesso à escola porque não têm a possibilidade de pagar a mensalidade e, assim, o padre as ajuda como pode. À noite, quando voltamos para casa, temos que correr porque temos água e energia somente por duas horas e, assim, temos que correr para buscar água, tomar banho, lavar roupa, cozinhar alguma coisa e, depois, na paz da noite, rezar as nossas Vésperas e ir dormir com a paz no coração e a certeza de que Ele é a resposta ao coração do homem, de que Ele é a felicidade, de que Ele é a liberdade, de que Ele é a única esperança também para o povo pobre do Haiti. Aproveito para agradecer a todos vocês pelo ano que caminhamos juntos: levo o rosto de cada um de vocês comigo e peço que o que nós encontramos seja encontrado pelos homens que nos encontram, e que aquilo que nos educa, eduque tanto o coração dos homens do Brasil, como o dos homens do Haiti.
Irmã Marcella, Porto Principe - Haiti

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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