De João Paulo II a Bento XVI, trechos de uma história de amizade e paternidade
Prossegui com empenho nesta estrada para que, também por meio de vocês, a Igreja seja cada vez mais o ambiente da existência redimida do homem, ambiente fascinante onde cada homem encontra a resposta à pergunta de significado para a sua vida: Cristo, centro do cosmo e da História.
A vossa presença sempre mais consistente e significativa na vida da Igreja, na Itália e nas várias nações em que a vossa experiência se começa a difundir, deve-se a esta certeza, que deveis aprofundar e comunicar, porque é esta certeza que toca o homem. A este propósito, é significativo, e é preciso notá-lo, que o Espírito, para continuar com o homem de hoje aquele diálogo iniciado por Deus em Cristo e prosseguido ao longo de toda a História cristã, tenha suscitado na Igreja contemporânea múltiplos movimentos eclesiais.
Já o meu venerado predecessor, o Papa Paulo VI, dirigindo-se aos membros da comunidade florentina de Comunhão e Libertação em 28 de dezembro de 1977, afirmava: “Nós também vos agradecemos pelos testemunhos corajosos, fiéis e firmes que destes neste período um pouco conturbado por certas incompreensões de que estais rodeados. Sede contentes, sede fiéis, sede fortes e sede alegres e levai à vossa volta o testemunho de que a vida cristã é bela, é forte, é serena, é verdadeiramente capaz de transformar a sociedade em que se insere”.
“Ide por todo o mundo” (Mt 28, 19) é aquilo que Cristo disse aos seus discípulos. E eu vos repito: “Ide por todo o mundo a levar a verdade, a beleza e a paz, que se encontram em Cristo Redentor”. Este convite, que Cristo fez a todos os seus e que Pedro tem o dever de renovar sem tréguas, já teceu a vossa história. Encarregai-vos desta necessidade eclesial: é a tarefa que hoje vos deixo.
(Audiência pelos trinta anos de CL, 29 de Setembro de 1984)
Tive várias oportunidades de encontrar Monsenhor Giussani e de admirar-lhe a ardorosa fé, que se traduzia num testemunho cristão capaz de suscitar, especialmente entre os jovens, largo e convicto acolhimento da mensagem evangélica. Agradeço ao Senhor pelo dom de sua vida gasta sem reservas na adesão coerente à própria vocação sacerdotal, na escuta constante das necessidades do homem contemporâneo, e no serviço corajoso à Igreja. Toda a sua ação apostólica poderia ser resumida no convite franco e decidido que ele sabia dirigir a quantos dele se aproximavam, para o encontro com Cristo, resposta plena e decisiva às esperas mais profundas do coração humano.
Dom Giussani propôs a “companhia” de Cristo a muitíssimos jovens que, hoje adultos, consideram-no como seu “pai” espiritual. (...) Assim nasceu o Movimento Comunhão e Libertação. (...)
Cristo e a Igreja: aqui está a síntese de sua vida e de seu apostolado. Sem jamais separar um da outra.
(Mensagem enviada no falecimento de Dom Giussani, 24 de fevereiro de 2005)
Quanto ao Movimento, é para mim uma expressão da vitalidade da Igreja. Não é uma coisa organizada de cima, mas sim uma Igreja nascida exatamente da fé realizada na Igreja. Temos necessidade de coisas assim, que não são primeiro uma configuração abstrata que depois se procura que também tenham um pouco de vida, mas é o contrário: primeiro é a vida, e depois procura-se também a forma, digamos, a configuração jurídica desta expressão da vida. Por isso, é vitalidade vivida da fé, é sempre tradução de uma fé profunda, em profunda sintonia com a fé da Igreja de todos os tempos na vida e na cultura de hoje. E isto é sempre uma experiência difícil, mas muito necessária. E vejo, sempre a partir daquilo que eu posso conhecer da realidade de CL, que existe esta fé profunda, esta vontade profunda de acreditar juntamente com a Igreja real e, depois, de procurar encarnar, realizar esta fé nos contextos atuais.
(Da entrevista coletiva no XI Meeting pela Amizade entre os Povos, publicada no Caderno de CL“Una compagnia sempre riformanda”, 1990)
Tenho a impressão que o ponto fundamental para Giussani é que o cristianismo não é uma doutrina, mas é um acontecimento, um encontro com uma pessoa, e desse acontecimento, desse encontro, nasce um amor, nasce uma amizade, nasce uma cultura, uma reação e uma ação nos diversos contextos. (...)
Com Comunhão e Libertação nasce uma realização comunitária da fé que, como eu disse, não resulta das estruturas existentes, não é criada por uma vontade organizativa da parte da hierarquia, mas nasce de uma experiência de fé, de um encontro renovado com Cristo e assim – podemos dizer – de um impulso que vem ultimamente do Espírito Santo e se insere como uma realidade livre, aberta a todos, no conjunto da Igreja. E se oferece como uma possibilidade de viver de modo profundo e atualizado a fé cristã. (...)
As diversas publicações, o Meeting de Rímini, as outras manifestações públicas, a presença nas universidades e na vida social, nos grandes problemas do mundo, de Novosibirsk ao Brasil, demonstram a multiplicidade das contribuições de Comunhão e Libertação, a vasta gama dessas realizações, mas sempre enraizados numa amizade pessoal com o Senhor. Percebo esse como o ponto fundamental: o encontro pessoal com o Senhor, com o seu Corpo que é a Igreja, garante, de uma parte, a identidade, a comunhão com toda a Igreja católica, mas abre ao mesmo tempo para iniciativas muito diversas, iniciativas missionárias e, sobretudo, iniciativas também no mundo intelectual de hoje. Porque o atual mundo intelectual e acadêmico é um contexto onde a fé cristã encontra mais resistência; embora a inteligência ocidental tenha nascido da fé, hoje é secularizada e parece quase excluir o fato da fé. Portanto, a colocação da fé vivida no mundo intelectual, cultural, universitário de hoje é uma das contribuições que me parecem mais importantes, interessantes, para a Igreja universal.
(Entrevista dada a Roberto Fontolan sobre os 50 anos de CL, publicada em Passos de outubro de 2004)
O amor de padre Giussani por Cristo era também amor pela Igreja e assim permaneceu sempre fiel seguidor, fiel ao Santo Padre, fiel aos seus Bispos.
Com tudo aquilo que fundou também interpretou novamente o mistério da Igreja.
Comunhão e Libertação nos faz logo pensar nesta descoberta própria da época moderna, a liberdade, e nos faz pensar também nas palavras de Santo Ambrósio “Ubi fides ibi libertas”. O cardeal Biffi chamou-nos a atenção sobre a quase coincidência desta palavra de Santo Ambrósio com a fundação de Comunhão e Libertação. Colocando a liberdade em relevo como dom próprio da fé, também nos disse que a liberdade, para ser uma verdadeira liberdade humana, uma liberdade na verdade, necessita de comunhão. Uma liberdade isolada, uma liberdade só para o eu, seria uma mentira e destruiria a comunhão humana. A liberdade para ser verdadeira, portanto para ser também eficiente, tem necessidade da comunhão, e não de uma comunhão qualquer, mas em última instância da comunhão com a própria verdade, com o amor mesmo, com Cristo, com Deus trinitário. Assim se constrói comunidade que cria liberdade e doa alegria.
(Da homilia no funeral de Dom Giussani, 24 de fevereiro de 2005)
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