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Passos N.78, Dezembro 2006

CARTAS

Cartas

Caro Dom Giussani
Estas “cartas” são uma pequeníssima parte dos bilhetes que são deixados em grande número sobre o túmulo de Dom Giussani, no Cemitério Monumental de Milão. Solicitações, esperanças, desejos, um simples pedido de ajuda, da forma como sempre foi. Hoje, mais do que antes. “Mais pai que nunca”, como disse padre Carrón durante seu funeral.

*Caríssimo Dom Gius, interceda para que nosso amigo A. possa, como você, na simplicidade do seu coração, oferecer tudo.

*Proteja a nós e nossa família, você que agora vê as necessidades, sobretudo dos jovens. Interceda para que encontrem seu caminho, o que conduz a Cristo. Obrigado. Neste momento, volva um olhar particular para V., N., C., C., C., A. e para o trabalho de M.

*Caro Dom Gius, obrigado por tudo quanto nos ensinou e por tudo que recebi até a hora de sua partida para o Senhor. Interceda por mim e por todas as pessoas queridas pra mim, para que cada um de nós tenha fé, saúde, trabalho e para que encontremos o caminho que o Senhor preparou para nós.

*Dom Gius, peço que me ajude a entender o que Deus quer de mim. Ajude-me a viver para Sua glória cada instante da minha vida. Confio-lhe aqueles que me são caros, os meus amigos. Em particular, proteja e olhe por S. para que possa conhecer a doce misericórdia de Deus.

*Ajude M. a recuperar a saúde. Interceda por ele.

*Dom Gius, tenho uma dor imensa. Ontem, estava diante de outra pessoa, o mesmo rosto, mas outra pessoa. Que vive o contrário daquilo que eu vivo e o contrário daquilo que o senhor dizia. Mas a verdade existe! É possível reconhecê-la, é possível escolhê-la! Não é verdade que não existe escolha, senão esta dor que eu vivo não teria sentido! Entendo que Jesus está me chamando, por meio disso, para trilhar o seu caminho e tudo aquilo que nos diz, que nos disse, eu devo redescobrir. Ajude-me nisso. Implore a Nossa Senhora por mim.

*Obrigada pela ajuda dada à minha filha M. na sua doença e à minha família no momento da prova.

*Caro Dom Gius, confio ao senhor a minha vocação. Ajude-me para que estes dias de Exercícios me façam amar Jesus como você O amou.

*Amado Dom Gius, confio-lhe... que está muito mal; a minha casa e o meu coração, que possa em cada instante converter-se para Jesus. Obrigada.

*Caro Gius, peço a Benção para toda a minha vida. Uma Benção para meu irmão. Uma Benção para meus queridos pais. Amém.

*Dom Gius, você sabe, te recomendo os meus exames e S. Faça-me caminhar e tornar-me grande como você. Que eu não dê nada por óbvio e que eu possa reconhecer Cristo! Obrigado.

*Ó Senhora, por intercessão de Dom Gius, ajuda meu tio no momento da agonia. Pedimos a sua recuperação, mas que seja feita a Sua vontade.

*Obrigado, Dom Gius porque o senhor é, para nós, mais pai que nunca e dá certeza à nossa fé.

*Pedimos-lhe, transforme a impotência em oferta. E interceda, por favor, pela saúde de A. e pela serenidade de sua família. E lhe pedimos a nossa conversão e a de nossos filhos. E obrigado porque pela sua pessoa isso se tornou possível para nós.

*Caro Gius, lhe confio a minha família. Ore por nós para que possamos chegar com você à glória de Deus. Faça com que minha alma se torne cada vez mais límpida e o desígnio de Deus seja sublimado por Jesus.

*Caro Dom Gius, confiamos-lhe a vida do nosso amigo F. Pedimos para ele a plena recuperação, por sua intercessão, que mendigamos com nossa oração cotidiana. Confiamo-nos à sua vontade.

*Caro Gius, lhe confio a minha família e, em particular, M., para que o senhor interceda em favor dele e nos dê a sua fé. Peço-lhe para que o meu mal nunca seja a última palavra sobre a vida, mas seja motivo de renascimento na misericórdia de Cristo. Confio-lhe, também, a Fraternidade. Que ela se torne cada vez mais âmbito para uma vida verdadeira. Com imenso amor.

*Caro Dom Gius, confio-lhe minha amiga B., para que se cure da doença e para que dentro desta condição que lhe é dada continue a caminhar com o povo que se formou em torno do senhor. Para que, a cada dia, se confie a Nossa Senhora e, dela, aprenda a dizer aquele sim que a doença não pode impedir. Para que nós, amigos, aprendamos a lhe querer bem e a olhá-la como o senhor nos olhava: Mistério presente. Confio-lhe, também, os amigos e a família para que, em cada gesto vivido juntos, pos-samos reconhecer a Sua presença.

*Caro Dom Gius, o senhor sabe, hoje, meu coração está cheio de tristeza. Não sei bem porque, mas sei que devo relaxar, devo permitir que Cristo me tome. Peço-lhe que olhe por L. Eu o amo muito e pedimos juntos que Jesus complete o nosso casamento. Sempre penso em A. e M.; ajude-os! Dê-me a força para viver e pedir sem nunca abandonar o nosso povo. Interceda pelos nossos amigos da Saúde: eles gostam muito
do senhor. Adeus.

*Caro Dom Giussani, recomendo a suas orações à Santa Virgem os nossos meninos: S., I. e M. para que seus caminhos sejam claros. Por G., E., C. e seus pais para que permaneçam na fé e para que seu caminho seja evidente. Por B. e sua família, por M. e sua família, acompanhe-os em seu caminho de dor e Mistério. Obrigado por sua proximidade.

*Caríssimo Dom Giussani, tome minha mãe nos braços, seu marido, eu e minha família e nos acompanhe no caminho que o Senhor escolheu. Doe à minha mãe todo o tempo do qual precisa para se reconciliar com o Senhor, ainda quero tê-la muito tempo comigo. Peço pela cura de minha mãe, de D. e de L. e pela serenidade de S., G. e L.

Educar na Califórnia
Há pouco me pediram para trabalhar para a Diocese de Sacramento, no departamento de evangelização e catequese. Depois de 21 anos em escolas de Ensino Médio, disse resmungando a Giorgio Vittadini: “Não sei nada de evangelização e catequese; conheço apenas o nosso carisma”. Ao que ele res-pondeu: “E de que mais precisa?”. Comecei assim a aventura como responsável pela educação de cerca de meio milhão de católicos adultos numa Diocese que se estende por mais de 100 km. No princípio, me senti sobrecarregada. Minha amiga Olivetta me contou que, quando foi trabalhar no Vaticano, há mais de 30 anos, Dom Giussani lhe disse: “Cada dia que estiver ali, saiba que, para eles, és o rosto de CL, o rosto do nosso Movimento”. Por isso, comecei a trabalhar tendo isso em mente, rezando com essa consciência e sabendo que os Bispos tinham me pedido para trabalhar com eles porque, de fato, o que levamos é extremamente fascinante. O começo de minha nova tarefa aconteceu durante a Assembléia sobre o Ensino Religioso na nossa Diocese, onde falei sobre o tema “Ensinar é libertar”, usando a introdução do livro Educar é um Risco. Ao final de uma hora e meia de palestra, numa sala de tal modo lotada que só havia lugares de pé, a reação foi incrível. As pessoas vinham a mim perguntando como encontrar os livros de Dom Giussani, quando seria possível continuar a discussão e se eu estava disponível para ir falar nas paróquias. Uma mulher me escreveu dizendo: “Ontem à noite, encontrando os meus catequistas, contei-lhes exatamente o que nos falou na conferência a respeito da nossa responsabilidade de transmitir uma tradição, de ajudar nossos alunos a ver aquilo que vemos”. No dia seguinte, ia junto com o vigário (cargo ocupado por uma freira) a uma paróquia longínqua e comecei a contar-lhe sobre a minha intervenção e sobre a reação do público. Ela me pediu maiores informações sobre o carisma de Giussani, sobre sua metodologia educativa e nossa presença nos Estados Unidos. Depois de uma viagem de três horas, propôs-me falar do carisma de CL às ordens religiosas da Diocese já que, como sustentou, “sabe-se pouco sobre o seu Movi-mento e é evidente que é fruto da ação do Espírito Santo”. É exatamente isso o que fiz ontem: falei a 65 membros de várias ordens religiosas na nossa Diocese e dei a cada um deles um exemplar de Passos. Mais uma vez, a reação foi positiva e começamos a programar uma jornada de diálogo, como foi feito em Roma, para todos os Movimentos presentes na Diocese. A seguir, o vigário pediu-me para preparar uma série de cursos divididos em cinco partes sobre a metodologia educativa de Dom Giussani para os professores da Diocese de Sacramento e também para falar na Assembléia Anual dos Professores das Escolas Católicas sobre o mesmo tema. Ainda nem se pas-saram dois meses desde que comecei a trabalhar e a sensação de opressão está agora acompanhada de uma imensa gratidão por esta amizade e pelos muitos rostos que encontro, que têm fome e sede de Cristo, rostos aos quais Giussani nos educou a olhar com grande ternura.
Holly, Sacramento – EUA

Olhando as estrelas
É noite. Estou no jardim com Simão, meu filho adotivo de cinco anos, André e Alberto, seus primos de 10 e nove anos. Ao anoitecer, decidimos deitar-nos na grama para olhar as estrelas. Em certo momento, André vê uma estrela cadente. Digo: “Tem que fazer um pedido!”. Alberto, espontâneo: “Quero uma metralhadora”. E digo: “Mas, não! Precisa pedir uma coisa grande, importante, bela!”. Então Simão, sério, diz: “Tenho um desejo sério: eu quero Jesus!”. Um arrepio repentino me percorre. Num instante, passou-me pela mente, de trás para frente, todo o acontecimento da graça que me tocou. Como num flash back vi discorrer Carrón, em junho, na praça São Pedro que retomava a conclusão que fez Giussani no 30 de maio de 1998, “Cristo mendicante do coração do homem e o coração do homem mendicante de Cristo”, os Exercí-cios da Fraternidade, toda a Escola de Comunidade, a graça do encontro com o Movimento, o nosso Papa, a Igreja, os seus dois mil anos, Jesus Cristo morto e ressuscitado, Abraão, a criação, as estrelas. Tudo dito ali, em três palavras, por um menino de cinco anos. Pedi a Nossa Senhora que não lhe seja negado o pedido feito, em toda a sua vida longa e santa, obviamente!
Roberto, Bagnatica – Itália

Provocados pela Novidade
Caros amigos, queria comunicar minha gratidão à Cristo pelo encontro com o carisma de Dom Giussani, pela sua genialidade humana e seu método educativo que produziram frutos interessantes por aqui. Em nossa Pastoral da Crisma trabalhamos durante este ano uma apostila com os textos de Dom Giussani que trata do itinerário do senso religioso, passando pelo fato da Encarnação até a Igreja. Este texto foi elaborado pelos amigos de Copacabana, com a supervisão de padre Paulo. Esta apostila trata de uma experiência concreta, não apenas para receber um sacramento, mas para a vida inteira. Quantas vezes saíamos de nossos encontros impactados, pro-vocados, curiosos, movidos em direção ao Mistério! Nosso grupinho era formado por 12 pessoas, entre cole-giais e adultos, eu e as duas pessoas da Pastoral. Saíamos de alguns encontros comovidos pelas perguntas que o texto provocava em todos ali. Até as ajudantes perguntavam, queriam entender melhor, numa abertura de coração que me fez começar a pedir que isso também se realize em mim, que eu tenha essa abertura e vivacidade. Comecei assim a viver o Movimento sem falar dele diretamente, a investir na liberdade deles. Eu sempre dizia que mesmo não estando ali na capela, mesmo não se engajando em nenhuma Pastoral, uma semente extraordinária estava sendo plantada em nossos corações, não pode-ríamos negar jamais aquela experiência. Quando nosso Arcebispo, Dom Alano Maria, foi ministrar o sacramento, ele também saiu de lá provocado, pois no dia seguinte me telefonou e disse estar impressionado com a simplicidade, a atenção e o silêncio daquelas 12 pessoas. Até nossa comunidade ficou tocada e isso gerou um desejo que também acontecesse com eles. As inscrições para a próxima turma de Crisma nem foi aberta e várias pessoas já estão nos procurando, inclusive pais de alguns dos jovens, e temos três casais que querem santificar sua união matrimonial. Essa apostila não trouxe apenas uma novidade, tem algo mais, que passa pela minha humanidade, pela de nossos amigos, por Dom Giussani e sua genialidade humana. Não era apenas uma aula que eu ia ministrar e eles assistir. Não! Tinha algo a mais.Um encontro, um encontro que suscita perguntas, um encontro com a Resposta (Cristo), com uma companhia humana, com um método simples, direto e claro. Aliás, já se passaram um mês que a Crisma aconteceu e ainda estamos nos encontrando aos sábados para terminar a apostila e, quem sabe assim, começarmos uma Escola de Comunidade.
João Claudio, Niterói – RJ

A contemporaneidade do Mistério
Participei recentemente das férias da comunidade de Veneza. Um amigo que há alguns anos sofreu um gravíssimo acidente e ficou paralisado fez uma colocação. Ele vive na cadeira de rodas e por causa da sua condição não queria ir às férias. Quando contou a sua história todos ficaram maravilhados e comovidos pela sua experiência. A um certo ponto disse: “Quando um amigo insistiu comigo no telefone para que eu participasse, eu quase não o ouvia mais e me perguntava: Quem lhe deu essa energia de insistir tanto assim comigo e porquê?”. Baixou um estranho silêncio na sala. O seu testemunho tinha alcançado um ponto de verdade que ninguém esperava. Não disse Cristo, mas todos fizemos memória que Ele existe e que estava presente ali. O outro fato diz respeito àquilo que me acontece algumas vezes na Casa de Acolhida de Pádua onde vivo. Entrando em relacionamento com os jovens que tenho em casa, com os seus dramas e as suas transgressões, enquanto você dialoga, eles falam, se justificam, olham pra você, abaixam a cabeça, contam mentiras, às vezes choram. Você está diante de um fato real que marca e interroga, mas aquilo que acontece comigo, quase imperceptível, é que é tão real e contemporâneo quanto isso ver surgir neles o Mistério que os faz. É como se dentro daquela confusão de dificuldades, o Mistério, naquele instante, me perguntasse: “Você me reconhece?”. Cristo se afirma diante dos meus olhos, não como Aquele que salvará estes debandados em tempo e modo a mim desconhecidos, mas como Aquele que os faz e me faz neste instante. Assim, você vê uma coisa e reconhece uma outra. Quando acontece essa contemporaneidade, esta é a coisa mais vertiginosa da vida. A realidade se torna encontro e eu entendo isso porque o meu eu se comove, às vezes chegando às lágrimas, por este Tu que aflora, que não está apenas como pano de fundo pelo qual faço as coisas, mas é reconhecido ali de modo real. E entendo que isso não acontece por uma capacidade, mas porque você aprende a pedir sempre (e é esse o juízo que conservo). A Graça de alguns momentos é para aprender a pedir sempre a Graça. Mas descobri mais coisas. Só nesta contemporaneidade do reconhecimento do Mistério como fato real, aquele pedaço de realidade, finito e contingente, é ainda mais amado e servido, porque a ação se torna um gesto de gratuidade do coração que está fazendo a experiência de satisfação, não para sempre, mas naquele momento, porque no instante depois é tudo para ser jogado. E mesmo na impotência de mudar algo, você muda. É evidente que é só porque tenho esse coração que chego a reconhecer aquilo que vejo. Por isso me marcou quando Carrón disse, respondendo a uma pergunta nos Exercícios da Fraternidade: “Eu me interesso pelo coração porque me interesso por Cristo”. Antes de conhecer o Movimento no máximo ouvi dizer “Você tem que se interessar por Cristo”. E aqui, me parece entender a importância de aprender o método do Movimento. Porque em mim e à minha volta vejo um grande desejo de amadurecer a fé, mas depois é como se cada um inventasse a própria estrada e seguisse os seus critérios para chegar ali. Assim, o Movimento, em vez de ser o método para fazer experiência se torna a desculpa para desejar Cristo segundo as próprias medidas, as pró-prias fixações, os próprios programas de vida, os próprios sentimentos, perdendo anos, às vezes, para depois dizer com amargura: “Está tudo aqui?”.
Mario Dupuis, Pádua – Itália

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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