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Passos N.77, Novembro 2006

EXPERIÊNCIA - A Equipe dos Universitários | LA THUILE

O contragolpe de uma Presença

por Pierluigi Banna

Guiados por padre Julián Carrón, mais de 500 universitários se reuniram de 2 a 5 de setembro, em La Thuile, para discutir sobre o tema “Vive-se por amor a algo que está acontecendo agora”. Uma sucessão de “desafios” e provocações para a razão de todos

A Equipe dos Universitários (CLU) aconteceu, este ano, no final de um verão europeu que foi rico como nunca. As férias do Movimento, o tempo livre vivido em família ou com os amigos e a preparação do Meeting de Rímini: tudo se revelou ocasião para usar o coração, experimentar uma posse maior dentro das coisas cotidianas e redescobrir a absoluta conveniência do cristianismo. As contribuições por escrito vindas de todas as comunidades testemunharam isso, documentando, ao mesmo tempo, uma ebulição de questões abertas. Um ano de insistência sobre o “coração” fez vir à tona muitas coisas encobertas. Melhor assim!
O jogo nunca termina, tudo pode se transformar em uma certeza “adquirida” que acaba sendo guardada num armário, tornando-se algo que pertence ao passado e não desafia o presente. Assim, a vida se enfraquece e recai na mesma banalidade. Já na primeira noite, na palestra de introdução, Carrón convidou todos a mostrarem as cartas, a não trapacearem, a colocarem em jogo os passos dados e as necessidades, as hesitações e as feridas. Se não fosse assim, voltaríamos para casa cheios de instruções ou, talvez, mais “funcionários” mas não mais cheios de certeza de estar no caminho certo. Foi este o princípio que permeou toda a Equipe, que se realizou de sábado, dia 2, a terça-feira, dia 5 de setembro, num ininterrupto suceder-se de assembléias, palestras, testemunhos, almoços, jantares, momentos de convivência e outras coisas mais.

A diferença
Diante de tal provocação o eu jorrou com liberdade, sem censuras, como se viu de maneira particular durante as duas assembléias, cheias de perguntas diretas, duras, sinceras e, muitas vezes, dramáticas, que tiveram respostas por vezes nada gentis, que iam ao coração dos problemas sem desconto para ninguém, nem mesmo para quem as dava. “Como é possível que, este ano, eu tenha vivido algumas circunstâncias que passamos juntos como uma oportunidade, enquanto antes eram apenas um peso? E como é possível que, de repente, as mesmas coisas voltem a ser opacas?”. O que faz a diferença? A resposta objetiva de Carrón, foi: “O passeio, o estudo e os relacionamentos são os mesmos. A diferença está no eu”. E esta diferença foi vista em ação, antes de mais nada, no próprio Carrón. Enquanto muitos, durante a assembléia, a julgar pela face, apenas “pronunciavam” a sua colocação esperando a resposta, Carrón escutava essas mesmas pessoas, maravilhado, e exclamava: “Desculpem, mas onde existe uma preocupação tão grande com as necessidades, com o drama, com o eu? Onde vocês encontram um testemunho mais imponente da Sua Presença? O problema é olhar até o fundo aquilo que acontece, não parar antes”. Por trás de cada resposta estava sempre um convite a usar o coração e a razão, a olhar os fatos, as coisas que acontecem, sem bloquear o olhar, até chegar na origem.

O “duelo” da amizade
Em La Thuile, o tempo pareceu dilatar-se, tornando-se capaz de hospedar uma quantidade de coisas superior ao normal. Até os almoços e jantares foram ocasiões de muitas perguntas, observações, provocações e Carrón não recuou: deixou-se desafiar sem evitar nada, num “duelo” que exprime uma amizade verdadeira, que não teme, ao contrário, busca indomavelmente a correção, um passo novo e da qual a pessoa não quer mais se afastar (teria que odiar a si mesmo).
As perguntas se multiplicaram. Na noite de domingo houve o testemunho de Wa'il Farouk, professor e intelectual muçulmano, que se aproximou do Movimento pela amizade com Paolo e foi conquistado pela leitura de O Senso Religioso (em árabe), que lhe forneceu – segundo ele – “o método” para chegar à certeza da experiência elementar e à amplitude da razão, fatores de verdadeiro diálogo entre os homens. Segunda-feira à noite, aconteceu uma conversa com Marco Bersanelli sobre estudo e pesquisa, onde ficou claro que não há nada que não tenha a ver com Cristo: “Até os grãos de poeira que estão sobre a mesa vêm dEle”. Terça-feira de manhã, por fim, foi feita uma síntese em relação aos passos feitos e às diretrizes do caminho que devem ser seguidas.

Razão provocada
Diante desta riqueza, a razão foi provocada como nunca: “Mas de onde vem tudo isto?”; “Quem é você, que torna tudo isso possível?”. Dizer Tu, comovidos pelo contragolpe da Presença de Cristo no real: foi esta a nota dominante, através de um olhar cheio de uma Presença que foi vista em ação. “Quem de vocês, nestes dias, se viu dizendo ‘Tu’ diante daquilo que aconteceu, volta para casa com mais certeza; está nisto a importância daquilo que nos dissemos”, observou Carrón. A segurança da vida não está em uma capacidade nossa ou em um esforço nosso, mas no reacontecer da Sua presença. Carrón disse, ainda: “Quero ser uma pessoa que precisa de Cristo a cada manhã, alguém que possa se surpreender pelo anúncio do Angelus todas as manhãs. Não há nenhuma via preferencial para os responsáveis”. Este é o pedido com o qual voltamos para casa, para a universidade, desejosos de mergulhar na realidade.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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