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Passos N.77, Novembro 2006

CULTURA - SAMBA

Cartola: fascínio, beleza
e pertença na história do samba

por José Eduardo Ferreira Santos

Passos inicia uma série de três artigos sobre o samba na Música Popular Brasileira e neste número homenageia Cartola, comentando duas de suas canções

O samba é uma expressão musical brasileira por excelência, que está presente em todo o nosso território, com variadas formas de manifestação. Nessa diversidade, alguns compositores se sobressaem pela qualidade de suas canções, como é o caso do mangueirense Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980), figura importante, cuja trajetória nos ajuda a compreender a beleza de sambas que ficaram imortalizados e que até hoje despertam admiração.
Cartola presenciou o nascimento do samba urbano com a subida do morro carioca dos vários cantores e compositores da classe média que ali foram, nas primeiras décadas do século XX, à procura de bons sambas, pelos quais o sambista tornou-se uma lenda, chegando a ser admirado por compositores como Heitor Villa-Lobos. Além disso, deu origem a uma estirpe da grandeza, composta por nomes como Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Geraldo Pereira, Nelson Sargento, Xangô da Mangueira, Zé Ramos, Heitor dos Prazeres, Padeirinho, dentre tantos outros sambistas de talento. Apesar de marginalizado por mais de uma década, Cartola voltou ao cenário artístico graças às gravações de Nara Leão, até então a musa da bossa-nova, e nem mesmo o seu desencanto com a transformação e modificação das Escolas de Samba, fez com que ele renegasse o seu amor pela verde e rosa, cores que o mesmo sugeriu à Estação Primeira de Mangueira.
Cartola tem uma história interessante porque a sua vida foi uma constante luta contra a adversidade. Conhecido e lembrado desde as primeiras décadas do século XX, o compositor só pôde registrar a sua obra na década de 1970, em dois discos que são considerados fundamentais para entender a beleza da música brasileira. Graças a amigos como Lúcio Rangel, Sérgio Cabral, Hermínio Bello de Carvalho, Sérgio Porto – o Stanilaw Ponte Preta –, deu a volta por cima e se restabeleceu das agruras da vida e do abandono ao qual viu-se relegado. Sua mulher, dona Zica (1913-2003), também foi uma presença fundamental e o grande amor de sua vida. Sérgio Cabral no livro "As Escolas de Samba do Rio de Janeiro", de 1996, faz uma pequena síntese biográfica, que contempla toda a história do mestre e do grande compositor: “Como é que um camarada que estudou somente até o quarto ano primário é capaz de escrever músicas e letras tão sofisticadas? (...) Realmente, Cartola era uma pessoa surpreendente. Foi também uma das pessoas mais elegantes que conheci (...). Nascido no Catete, no Rio de Janeiro, a 11 de outubro de 1908, mudou-se para Laranjeiras aos oito anos de idade e, aos 11, já vivia com a família num barraco do Morro da Mangueira. Exerceu várias profissões, até que, em fins da década de 20, seus sambas foram descobertos pelos cantores. Em pouco tempo, Cartola era considerado um dos mais importantes compositores da geração que levaria para a cidade o chamado samba de morro. Depois, por razões sentimentais, abandonou a música popular e o Morro da Mangueira. Já no final da década de 40, falava-se dele como figura do passado (...) Quando trabalhava como vigia de um prédio em Ipanema, lavando carros, em 1953, foi redescoberto por Sérgio Porto e, aos poucos, foi acertando a vida. Em 1963 inaugurou o restaurante e casa de samba Zicartola, que marcou época pelos sambas do dono da casa, pela comida da sua mulher Zica e pela presença no palco do que havia de melhor na música popular brasileira. Aos 66 anos de idade, gravou o seu primeiro long-play e, depois, mais quatro discos. Morreu de câncer no dia 30 de novembro de 1980”.

Primeiros sucessos
Cartola compôs sambas inesquecíveis, que se tornaram clássicos da música brasileira, como As rosas não falam, O mundo é um moinho, Alvorada, O sol nascerá (A Sorrir), Divina dama, Grande Deus, Corra e olhe o céu, cujos versos são presenças marcantes em qualquer antologia sobre a música popular brasileira (MPB).
No samba-canção Grande Deus aparece Nossa Senhora intercedendo pelo autor, através dos pedidos que ele faz. O samba tem uma característica ímpar na obra de Cartola, porque é o terceiro deles que fala da presença de Nossa Senhora em sua vida, lembrando os anteriores Festa da Penha e Dê-me graças, Senhora.

Deus, grande Deus
meu destino bem sei
Foi traçado pelos dedos teus

Grande Deus
De joelhos aqui eu voltei
Para te implorar
Perdoai-me!
Sei que errei um dia

Ô perdoai-me pelo nome de Maria
E nunca mais direi o que não devia!

Eu errei, grande Deus!
Mas quem é que não erra
Quando vê seu castelo
Cair sobre a terra?

Julguei, Senhor, que deste sonho
Eu jamais despertaria
Se errei, perdoai-me
Pelo amor de Maria
(Grande Deus, Cartola)

Os seus sambas são considerados repletos de lirismo e refinamento. O compositor que escreveu versos como ele, é uma síntese da sensibilidade humana tocada pela beleza, cujo olhar transforma e descreve os nossos sentimentos em imagens que ganham vida em suas canções.
Mesmo já tendo participado de gravações em discos de outros artistas, como o Elizeth Sobe o Morro, ou o Fala Mangueira, ambos produzidos por Hermínio Bello de Carvalho, é com o disco Cartola, de 1974, que o sambista realiza o tão aguardado reconhecimento e registro de sua obra, como que o coroamento de uma trajetória marcada pelas suscetibilidades e situações de adversidade e pobreza pelas quais Cartola passou ao longo de sua vida. Fatos bastante conhecidos pelos meios musicais cariocas, que o tinham como uma espécie de lenda, pela beleza dos sambas e mesmo pelo período em que esteve ausente da vida musical por motivos de doença ou mesmo pela pobreza, que o obrigaram a exercer as mais diversas atividades.
Com este disco, Cartola apareceu como intérprete de suas próprias canções, entrando para a história da nossa música com um disco da gravadora independente Marcus Pereira, produzido por J. C. Botezelli, o Pelão, que pode ser considerado um dos melhores discos de samba da história.
Trinta anos após o lançamento deste disco é preciso rememorar este acontecimento para que tenhamos condições de avaliar a importância deste fato, particularmente pelo respeito à diversidade cultural-musical do Brasil e à expressão das camadas populares por meio de sua arte, que em nada deve à homogeneização do mercado cultural, onde a uniformidade e a falta de criatividade parecem imperar.
O disco Cartola contém 12 faixas, com composições assinadas somente pelo sambista (Acontece, Tive sim, Alegria, Amor proibido), ou em parceria com outros autores, a exemplo de Carlos Cachaça (Quem me vê sorrindo e Alvorada, esta última contando com a participação de Hermínio Bello de Carvalho na composição), Elton Medeiros (O Sol nascerá), Dalmo Castelli (Disfarça e chora e Corra e olhe o céu), Nuno Veloso (Festa da vinda), Osvaldo Martins (Sim), e, por fim, Aluizio Dias (Ordenes e farei).
Os sambas apresentam, dentre outros aspectos, uma esperança e beleza diante da evidência da vida no morro que chegam a ser comoventes. O olhar do autor (e dos parceiros) geralmente transmite ensinamentos e saberes de quem já viveu e sabe que a vida comporta os mais diversos movimentos, sendo que o desejo que brota é aquele de transmitir a outros (mulher, amigo, pessoas comuns) uma percepção positiva diante da realidade, onde, apesar das contradições, há sempre o que vislumbrar. Isto porque Cartola tem o dom de fazer emergir, na singeleza de suas composições, uma força poética incomum para os dias atuais, onde a beleza e a poesia foram substituídas pelo imediatismo e facilidades poéticas, tão corriqueiras em alguns sambas atuais.
Nesse sentido, Cartola exprime em suas composições um modo de ser brasileiro que o religa aos grandes poetas e compositores de todos os tempos.
O disco revela, além do autor, uma outra característica: o intérprete, o que o torna insuperável quando apresenta suas próprias composições, tudo isso tendo ao seu lado um conjunto de bons músicos, que, segundo José Ramos Tinhorão1, em crítica musical publicada no Jornal do Brasil, quando do lançamento do disco, eram os mais competentes da música brasileira. O jornalista foi um dos maiores incentivadores do lançamento, chegando a indicar que as pessoas, à época, comprassem o disco e indicassem aos amigos que fizessem o mesmo, sob pena de não poderem mais falar sobre música brasileira.
O disco de Cartola religa duas realidades bem separadas de uns tempos para cá: o povo e a beleza. Essas reduções fizeram com que o conceito de beleza fosse relativizado e o de povo foi sistematizado como aquele que tem um gosto musical ditado pela moda, sem maiores exigências, como se este não tivesse condições – críticas, perceptivas, intelectuais – de apreciar a beleza.
Um fator interessante deste disco é que todo ele é representativo da boa música nascida nos morros cariocas, com o agravante de ser uma espécie de síntese do mais alto nível da cultura musical brasileira, porque nos coloca mais uma vez diante de um fato inquestionável: a diversidade musical precisa superar o poder das grandes gravadoras e mesmo a inexpressividade das modas musicais que nos acorrentam ao
ligar os rádios.
Isso quer dizer que é preciso valorizar autores como Cartola, que estão por aí a semear canções que expressam a nossa alma, promovendo o encontro com a beleza. Mas, o que é a beleza? Como critério objetivo temos a evidência de que a pessoa, o indivíduo procura uma resposta e mesmo a beleza em todas as coisas que faz. A beleza é um motor que gera uma busca no indivíduo pela qualidade, guiada por critérios que estão em nós. A beleza dada é reconhecida pelos critérios que temos para apreciá-la. Se não temos critérios, o que acontece? Não sabemos reconhecê-la. Isso significa dizer que estamos preparados para perceber a beleza, mas também aprendemos a apreciar a beleza. O disco do Cartola apresenta-nos essa beleza, que nasce do verdadeiro gosto popular, e que não deve nada às outras expressões artísticas.

O pertencer
Dentre os muitos sambas de sua lavra, vamos nos deter na apreciação de dois deles, que considero especiais: o Sala de recepção e Fiz por você o que pude. São sambas que me acompanham pelo significado e beleza que encerram em versos tão originais e reveladores de nosso modo de existir.
O que é que nós queremos na vida, o que buscamos? Um lugar. Um lugar que nos acolha, onde possamos realizar a nossa humanidade, não é? Pois, sim, este lugar, assim com as suas belezas e dificuldades, mas onde a experiência da beleza nos faz pertencer a ele, mais do que a qualquer outro lugar, é o tema deste samba do Cartola, que fala da Mangueira como o lugar que realiza a sua humanidade.
Sala de Recepção é um samba de pertença. São daqueles momentos musicais onde o compositor entende e percebe a sua experiência de vínculo e pertença a um lugar, à sua gente e às suas expressões. É um samba daqueles no qual o sujeito sabe para onde vai porque sabe de onde veio e onde está. Na Bahia, se dizia antigamente que pertencíamos ao lugar onde o nosso umbigo era enterrado depois que nascíamos, e isso queria mostrar que a nossa vida estava ligada a um lugar físico, que, depois daquele instante, fazia parte da nossa história. A mesma coisa acontece em outras experiências religiosas, onde as pessoas, para indicar que nasceram e estão ligadas a um lugar, colocavam o cordão umbilical em uma árvore que era cuidada pela pessoa.
Pertencer, mais que uma necessidade, é uma expressão da pessoa para existir. Sem pertença estamos entregues nas mãos do poder e da violência. Quando uma pessoa reconhece-se pertencente ela se apazigua diante da vida, isto é, tem uma base segura para avançar nas solicitações mais impensadas, como expressa o que sabe e cresce em humanidade e descobertas, a partir de uma raiz cultural.
Nem as situações difíceis como a pobreza e a miséria, conseguem abafar esse desejo que cada pessoa carrega de ter um lugar onde possa ser feliz.
O samba Sala de Recepção, composto na década de 1940, na gravação do Cartola, junto a Creuza, sua filha adotiva, é uma das mais belas da história do samba. Reza a história que, longe das rivalidades, Cartola compôs este samba para seu amigo, o portelense histórico Paulo da Portela (Paulo Benjamin de Oliveira, 1901-1949), quando este passou por problemas com a Escola de Samba, da qual foi o fundador.
O primeiro traço importante do samba é a estupefação do compositor diante das situações difíceis que há na vida da favela, como a pobreza, e a força que as pessoas carregam, podendo, a despeito dessa situação, continuar a cantar.

Habitada por gente simples e tão pobre
Que só tem o sol que a todos cobre
Como podes, Mangueira, cantar?

Há uma força que nasce na pessoa e ela não se deixa determinar pelas dificuldades, porque o seu desejo, a sua esperança, tem uma expressão, que no caso se revela na música, na beleza, no carnaval e na vida cotidiana, ou seja, as pessoas carregam um desejo que nada, nenhuma situação adversa consegue abafar.

Pois então saiba que não desejamos mais nada
A noite, a lua prateada
Silenciosa, ouve as nossas canções

Mas essa força não é um estoicismo, como alguém que pelas próprias forças supera os problemas, como vemos nos heróis, nos mitos e nos divos. É uma força que é dada pelo desejo e pela oração, pois a beleza do lugar leva sempre a uma espécie de contemplação do real.
Interessante que o autor coloque desejo e oração como etapas de um pertencer. Um se completa no outro, desejar é o primeiro passo para reconhecer uma presença, que se apresenta por meio da oração, que confere a possibilidade de seguir em frente, de lutar e de ser campeão.
Isso mostra porque é que é das favelas cariocas que nascem o espetáculo de beleza que vemos nos desfiles das Escolas de Samba. É preciso muita fé, muita criatividade, para realizar um trabalho tão minucioso, que se eterniza num instante determinado na passarela.

Tem lá no alto um cruzeiro
Onde fazemos nossas orações
E temos orgulho de ser os primeiros campeões

Onde mora, então, a felicidade? Para o sambista, ela está no seu lugar, no morro, no lugar onde habita e essa certeza faz com que todos que ali cheguem sejam abraçados, pois quando encontramos a felicidade não temos mais nada a defender. Tudo é gratuidade, tudo é compartilha de experiências, é aprender a bem receber, não por um formalismo, porque o que nos é dado não pode ser tomado, nem por aqueles que consideramos como inimigos.
Veja que coisa interessante: beleza, desejo, oração e felicidade, acolhida tudo numa continuidade, para quem faz a experiência de pertencer a um lugar. Parece que não podemos dissociar esses aspectos da nossa vida, pois é como se a busca nunca cessasse diante da experiência de pertença, pelo contrário ela vai se aprofundando mais.
Poderíamos dizer que da beleza nasce o desejo e vice-versa, dela nasce a oração, num movimento de percepção da realidade como coisa externa a mim, que vem de um Outro, com o qual preciso me relacionar (assim como Dom Giussani relata no capítulo X de "O Senso Religioso") e disso nasce uma resposta que me abre ao outro e à realidade, ou seja, aprendo a reconhecer no outro a mesma busca que eu carrego, por isso encontro e me relaciono com as pessoas.

Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora
E as outras escolas até choram
Invejando a tua posição

Minha Mangueira, és a sala de recepção
Aqui se abraça o inimigo
Como se fosse um irmão

A experiência do fascínio
O segundo samba do Cartola que quero apresentar considero muito especial. Fala de um fascínio que arrasta a vida inteira de uma pessoa e a faz pertencer a um lugar e pessoas por toda a vida, com uma consciência total deste fascínio e do amor que ele desenvolve. O samba chama-se Fiz por você o que pude. Nele, me impressiona muito o amor e o fascínio que um lugar, uma Escola de Samba – no caso a Mangueira – exerce sobre uma pessoa, como o Cartola. É um senso de pertença sem igual, ao qual ele dedicou toda a sua vida, e que é bonito por mostrar que cada homem carrega essa capacidade de abertura diante da realidade que é maior do que ele.
Há uma vida que se renova constantemente diante deste fascínio que arrasta tudo. Os primeiros versos são geniais:

Todo tempo que eu viver
Só me fascina você, Mangueira
Guerreei na juventude
Fiz por você o que pude,
Mangueira

Todo o tempo que uma pessoa viva, o que pode mais fasciná-la na vida, senão o encontro com uma presença, com uma possibilidade de resposta a todas as suas exigências?
E que essa experiência possa continuar acontecendo durante toda uma existência é uma grande surpresa, pois, ao contrário do que se imagina, o fascínio pode, sim, durar por toda a vida, apesar das dificuldades e limitações encontradas.
Esse fascínio que pode tomar conta de nós na juventude, faz viver, lutar, crescer, trabalhar e sempre se comunica aos outros, aos quais vemos encontrar o fascínio que nos encontrou, e, notem, isso é causa de alegria para o autor, ou seja, que o fascínio continue encontrando os outros é uma experiência que faz crescer nele a certeza, já que ele viveu essa experiência.
Este verso me chama a atenção porque o olhar do compositor consegue ultrapassar a imediatez do instante e reconhecer que existe algo maior do que ele que atua na realidade e consegue tocar os mais novos, fazendo com que os mesmos adquiram um amor e um gosto por lugares, pessoas e histórias, com uma capacidade de doação que mostra que vale a pena viver por algo, por um ideal.
Um fato interessante é que o fascínio que começa na infância chega à sua completude na idade adulta, trazendo sempre a felicidade pelos frutos que essa história produziu, ou seja, tudo o que acontece dentro do fascínio é motivo de uma alegria que não cessa, mas uma alegria serena, que não teme nada porque não tem nada a temer e se realiza na percepção de que aquele fascínio que o motivou segue pelas mãos de outros, com uma continuidade histórica, feita de pessoas.

Continuam nossas lutas
Podam-se os galhos
Colhem-se as frutas
E outra vez se semeia

E no fim deste labor
Surge outro compositor
Com o mesmo sangue na veia

Sonhava desde menino
Tinha um desejo felino
De contar toda a tua história

Este sonho realizei
Um dia a lira empunhei
E cantei todas as tuas glórias

Perdoa-me a comparação
Mas fiz uma transfusão
Eis que Jesus me premeia
Um aspecto interessante é que esse fascínio provoca sempre o nascimento de outras pessoas que se tocam ou são tocadas por ele e continuam a sua história, que Jesus Cristo “premeia” este fascínio, ou seja, renova-o constantemente.

E no fim deste labor
Surge outro compositor
Com o mesmo sangue na veia

Não é uma continuidade do fascínio na história? Acho que o Cartola tocou na história da humanidade quando compôs esse samba. Há uma vida que se realiza e se define a partir de um fascínio, o que é raro encontrar na música.
A despeito de sua morte, a obra do Cartola continua a ser regravada por muitos grandes nomes da MPB, o que faz dela uma obra sempre atual. Quem quiser, no entanto, aproximar-se do mestre, conhecendo sua voz, deve escutar os seus dois primeiros discos, hoje disponíveis em CDs, lançados na década de 70 pela gravadora Marcus Pereira.
Nestes discos podemos entender que o mestre sabia como ninguém interpretar as suas criações, acompanhado por excelentes músicos, conferindo a beleza musical necessária para as suas canções, que revelam a nós brasileiros, um pouco mais da nossa tão rica e diversificada cultura musical.

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Referências bibliográficas e discográficas:

Para escrever este artigo foi inestimável a consulta a trabalhos de escritores, pesquisadores e
conhecedores da MPB, que nos transmitiram a admiração pelo “Divino” Cartola, como Sérgio Cabral (As Escolas de Samba do Rio de Janeiro, Lumiar Editora, Rio de Janeiro, 1996), José Ramos Tinhorão, Marília T. Barboza e Arthur L. de Oliveira Filho (Cartola, os Tempos Idos, de Marília T. Barboza da Silva e Arthur L. de Oliveira Filho. Coleção MPB, 10, 3a edição. Funarte: Rio de Janeiro,1997), Hermínio Bello de Carvalho, poeta e produtor carioca, com toda a dedicação e entusiasmo renovados como produtor de discos e conhecedor profundo do universo mangueirense (CD Livro Mangueira: Sambas de Terreiro e Outros Sambas, 1999; CDs Fala, Mangueira!, 1968; No Tom da Mangueira, 1993-4; Chico Buarque de Mangueira, 1998). Além dessa riqueza de textos contei com uma discografia completa do autor, ora interpretando seus sambas, ora sendo interpretados por grandes nomes da MPB e do samba, como Beth Carvalho, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Conjunto Galo Preto e Elton Medeiros, Gal Costa, Elizeth Cardoso, Teca Calazans, Cazuza,
Márcia, Leny Andrade, dentre outros.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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