No último dia 24 de junho, foram ordenados em Roma, na basílica de Santa Maria Maior, oito sacerdotes e três diáconos da Fraternidade dos missionários São Carlos Borromeu, pelo Cardeal Péter Erdö, Arcebispo de Esztergom-Budapest. A seguir, trechos de sua homilia
O evangelho de hoje nos apresenta um grande milagre de Jesus. Não é um milagre qualquer, mas um milagre de natureza particular, como acalmar o lago de Genesaré na tempestade. (...) O milagre é para nós um sinal, pois é a prova da presença e do agir de Deus. (...) E, se estes fatos nem sempre são significativos para o observador externo, para nós são motivo de per-suasão e de comoção.
Sim, porque Deus conduz um diálogo conosco e, exatamente nesse
diálogo, estas ações encontram o seu contexto específico. Um tal milagre se verifica também no episódio da tempestade acalmada. (...) Diante de um sinal como aquele, os discípulos se perguntavam: “Mas quem é este?”. (...) O evangelho de hoje fala, portanto, da divindade de Jesus e da sua presença salvífica no seu povo.
Esta barca agitada pelas ondas é a imagem da Igreja. Muitas vezes na história da Igreja ela sentiu-se abalada por forças externas, incapaz de salvar-se com as próprias forças e capacidades. Muitas vezes circundaram-na vozes de acusação malignas e perseguições tempestuosas, porém, depois disso tudo, graças à providência de Deus, cauteloso para com sua Igreja, num instante tudo se acalmou, acalmaram-se as águas e a barca da Igreja continuou a navegar, navega ainda hoje na estrada que Deus lhe destinou.
Uma força divina
Na missa de hoje, ordenamos os novos diáconos e sacerdotes da Fraternidade sacerdotal de São Carlos Borromeu. Poderia haver indicação mais adequada para os nossos irmãos ordenados do que a mensagem do evangelho de hoje? Jesus não diz aos discípulos que não remem. Assim, em outras ocasiões, os exorta ao que sua perícia humana, como pescadores, sabem fazer melhor. “Ide ao largo!”, diz numa ocasião. “Lançai as redes!”. Certamente, enquanto experientes em seu ofício, os discípulos que estavam junto dos remos ou do timão e se ocupavam da vela estavam aptos a enfrentar uma tempestade. Também lemos que Jesus dormia na barca. Tranquilamente confiava no empenho e na capacidade de seus discípulos. Porém, chega um momento no qual todo esforço foi em vão e os discípulos sentiram não estar em condição de colocar a barca a salvo e, com ela, a suas vidas e a do mestre. Assim, voltam-se em tom desesperado a Jesus. E ele dá ordens ao vento e ao mar... com força divina conduz a barca à margem.
Vocação sacerdotal
Esta cena é uma imagem particularmente clara da vossa vocação sacerdotal. É nosso dever conhecer precisamente a nossa fé e também não deixar espaço, no campo teológico, às tentações da dispersão, da superficialidade, do irreflexivo pragmatismo. É nosso dever aprender a arte da condução pastoral, como cultivar relações com os homens, conhecer o uso dos meios de comunicação de massa. E, sobretudo, conhecer e amar a nossa Igreja, não apenas teoricamente, mas na sua realidade teológica e institucional, incluídos os seus concretos aspectos locais. É nosso dever não ceder à tentação da indolência que algumas vezes se apresenta sob a máscara dos escrúpulos e da pretensão. Não rejeitemos, por fingida humildade e escrúpulos, assumir este ou aquele trabalho, esta ou aquela tarefa concreta, só porque pensamos não conseguir levar ao fim de modo adequado ao nosso ideal de perfeição. Uma semelhante, fictícia humildade pode tentar o homem de hoje em muitas áreas. Há quem fuja da responsabilidade de escolher a vocação de sua própria vida ou um cônjuge; há quem procure o matrimônio perfeito e assim, por toda a vida, não se ligue a ninguém; há quem se iluda de alcançar a perfeição no campo da literatura ou do saber, mas depois passam-se as décadas e as propaladas obras perfeitas nunca vêm à luz...
O mandato
É, portanto, nosso dever empenharmos-nos com o maior esforço possível, mas não acreditemos que os frutos do trabalho e da vocação, em particular da vocação sacerdotal, dependam apenas da idoneidade e do esforço humano. O trabalho é do homem, mas a bênção é de Deus! Esta é a posição de base da vocação sacerdotal. (...) Como escreveu o Apóstolo: “Sede fervorosos no Espírito, é o Senhor ao qual servis”. Logo, o desígnio de Cristo sobre nossas vidas e o mandato deles recebido definem o fim, o conteúdo e a direção do nosso serviço. (...) Desejo a força e a alegria desta amizade com Cristo aos ordenados e a cada caro irmão no sacerdócio.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón