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Passos N.70, Março 2006

CULTURA - MOSTRA: ROSA BRANCA

Rosa Branca: A fascinante amizade que desafiou Hitler

por Riccardo Piol e Tanja Piesch

Em 1943 o Reich alemão condenou à morte alguns jovens acusados de propaganda antinazista. Alguns amigos do Movimento pesquisaram esse fato e organizaram uma Mostra sobre o tema

Segunda-feira, 22 de fevereiro de 1943: júri popular de Munique, sala 216. Às 13h30, depois de um processo-relâmpago transformado em um ritual de humilhação pública, o juiz Freisler pronunciou a sentença. Os condenados são os irmãos Hans e Sophie Scholl, e o amigo deles, Christoph Probst: três estudantes universitários, respectivamente com 24, 21 e 23 anos. Eles são acusados de propaganda antinazista e condenados à morte por decapitação. Nos dias sucessivos outros estudantes foram presos e assassinados pelo mesmo motivo. É a história do Rosa Branca, um grupo de jovens que ousaram desafiar Hitler: em nove meses escreveram e distribuíram seis panfletos contra o regime. Na Alemanha, hipnotizada pelas químicas da ideologia, muitos seguiram a loucura do Reich e poucos entenderam o que estava acontecendo. Apenas pequenos grupos tiveram a coragem de opor-se abertamente. Entre eles, os jovens do Rosa Branca, nascida pela iniciativa de seis amigos de Munique. Cinco eram estudantes: Alexander Schmorell, Hans e Sophie Scholl, Willi Graf, Christoph Probst; e um era professor universitário: Kurt Huber. A insuportável tirania opressora de Hitler e a experiência direta da guerra no fronte oriental, os levaram a divulgar panfletos em diversas cidades no sul da Alemanha para exortar a população a abrir os olhos. Mas essa história, antes de ser um episódio de resistência heróica, é uma fascinante aventura humana com a qual um grupo de jovens alemães do Movimento se deparou e resolveram dedicar uma mostra intitulada “Rosa Branca: rostos de uma amizade”.

Amizade cotidiana
Em primeiro lugar, o Rosa Branca significa uma profunda e cotidiana amizade: as aulas na universidade, os concertos de música clássica, as noites de estudo da literatura, mesmo aquela proibida pelo regime. No clima de opressão de uma ditadura capaz de provocar no povo alemão uma profunda ferida, que até hoje não foi completamente curada, a história desses jovens universitários é uma experiência de amor ao homem, à verdade, à beleza que brilha na escuridão dissipada pela mentira. Sophie Scholl escreveu em uma carta: “Na minha simples alegria diante de tudo o que é bonito, se introduziu fortemente algo maior e desconhecido, isto é, o pressentimento do Criador, que as inocentes criaturas doam com a sua beleza. (...) Nestes dias se poderia freqüentemente pensar que o homem seja capaz de superar este canto com tiros de canhão, maldições e blasfêmias. E, no entanto, na primavera passada uma coisa se tornou clara pra mim: ele não pode fazer isso e eu quero tentar ficar do lado dos vencedores”. È esta escolha que levou os seis protagonista do Rosa Branca à resistência, uma resistência humana antes que política; uma paixão incondicionada pela vida, pela liberdade, por “tudo o que é bonito”. Paixão que irá acompanhá-los até o fim e os levará a dar a esta beleza o nome de Cristo. Christoph Probst será battizado no dia da primeira execução. Em uma carta para sua mãe, poucos dias antes daquele 22 de fevereiro, ele escreveu: “Eu te agradeço por ter me dado a vida. Se a olho por aquilo que é, foi uma única estrada para Deus”. Willi Graf, depois de seis meses na prisão e tendo diante de si uma sentença irrevogável, escreverá para a família: “Não deveríamos, talvez, quase ficar contentes por levar a este mundo uma cruz que às vezes parece superar qualquer medida humana? Isto é, de um certo modo, literalmente seguir Cristo. Não queremos limitar-nos a suportar esta cruz: queremos amá-la e procurar viver sempre mais confiantes no juízo divino. Só deste modo se realiza o significado deste tormento”.

Rostos que floresecem
“Agora vocês também fazem parte da amizade do Rosa Branca”. A senhora Degkwitz, convertida ao catolicismo pelo encontro com Willi Graf, agradeceu assim ao grupo de jovens trabalhadores e universitários de CL que por mais de um ano recolheram escritos, fotos e testemunhos sobre o Rosa Branca para a produção da mostra. Graças ao trabalho deles, os jovens estudantes que os livros de História reduziram a um exemplo de resistência política, podem ser conhecidos em todo o seu fascínio. São os rostos de uma amizade, como afirma o título da mostra, que floresceram das lembranças de Anneliese Knoop-Graf, irmã de Willi Graf, de Elisabeth Hartnagel, irmã de Hans e Sophie Scholl, e dos relatos, cartas e documentos fornecidos por parentes e amigos dos protagonistas. Rostos de uma amizade que no ano passado já alcançaram diversas escolas alemãs, a universidade de Friburgo e a universidade de Munique, onde a mostra, patrocinada pelo Cardeal Wetter, foi exposta próximo al átrio aonde Sophie e Hans Scholl foram presos, Berlim, Viena, além da Jornada Mundial da Juventude, em Colônia, e do Meeting de Rímini na Itália. Agora a mostra está sendo reproduzida em muitas escolas italianas e em breve também estará no Brasil.

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Uma mostra contagiante
Por Gianni Mereghetti

Na Itália, a mostra sobre o Rosa Branca teve grande impacto nas escolas, onde os diretores e professores viram-na como uma possibilidade significativa de educação e revelou-se tal porque os estudantes de hoje, entrando em relacionamento com a experiência humana dos jovens alemães que, entre 1942 e 1943, desafiaram Hitler distribuindo panfletos, descobriram uma impressionante correspondência com a paixão pela vida e com o desejo de amizade que está presente em seus corações, ainda que nem sempre conscientemente. Freqüentemente, durante as visitas guiadas por estudantes, acontecia um momento escolar autêntico: na explicação sobre a maneira como Hans, Sophie, Willi, Christoph e Alex enfrentavam a vida, na descoberta do interesse deles por tudo e na maravilha pela forma como usavam a razão, cada estudante sentia o próprio coração desafiado. Foi por isso que muitos jovens, depois da visita, disseram e escreveram: “Agora, é comigo”, mostrando que é escola aquilo que coloca uma pergunta sobre a vida e a move. A partir da reflexão sobre a experiência humana dos jovens do Rosa Branca ficou bem evidente que não se pode fazer memória do horror realizado pelo nazismo sem trazer à luz aquela positividade inscrita no coração do homem e mantida viva pela presença do divino, uma positividade por força da qual pode-se enfrentar o mal. Com esta mostra, a pergunta “Onde estava Deus quando tudo aconteceu em Auschwitz?”, que freqüentemente aparece nas aulas escolares durante os dias dedicados à memória do holocausto, foi substituída por uma certeza, aquela que tomou de sobressalto a secretária de Hitler, quando passou diante da faixa que lembrava o sacrifício de Sophie Scholl. Naquele momento, Traudl Junge compreendeu que “nunca se é muito jovem para entender”. E o que muitos estudantes compreenderam visitando a mostra é que a paixão pela vida está no coração da juventude. Foi assim para aqueles jovens porque é assim para cada ser humano e, descobrir isso, liberou as energias do coração e a sua tensão infinita.


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Filme

Uma Mulher contra Hitler
(Sophie Scholl — Die Letzten Tage, Alemanha, 2005)
Drama. Direção de Marc Rothemund. Roteiro de Fred Breinersdorfer.
Com Julia Jentsch, Fabian Hinrichs, Johanna Gastdorf e Alexander Held.

Atualmente em cartaz, o filme “Uma Mulher contra Hitler” mostra os últimos seis dias da vida de Sophie Scholl, integrante do Rosa Branca.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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