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Passos N.66, Outubro 2005

DESTAQUE / EDUCAÇÃO

Companheiros de escola
Companheiros de tudo

por Riccardo Piol

Seiscentos jovens, entre italianos e estrangeiros, encontraram-se em La Thuile para a Equipe dos Colegiais. Um momento para entender que na vida de todos os dias há “Algo dentro de algo”. Um lugar para dizer eu com verdade

Um jovem do primeiro colegial escreveu: “O meu primeiro dia como ginasial foi muito mais bonito e interessante do que eu poderia esperar... ficaria muito feliz se pudesse repeti-lo no colegial!!!”. Pouco abaixo, um “veterano”, que parece quase responder-lhe, escreve: “Formei-me este ano no colegial e dificilmente esquecerei a sensação de alívio que experimentei naquele dia... Isto é a escola? Honestamente, esperava uma outra coisa”. São o início e o fim da história de dois entre os muitos jovens que escreveram mensagens no fórum do site do jornal italiano La Repubblica dedicado ao início do ano escolar europeu. O primeiro fala de “todos os rostos que, no curso dos próximos anos, serão meus amigos” e o segundo escreve sobre “um lugar totalmente apático”. Estas duas mensagens nos marcam porque se contradizem: o entusiasmo de um início e a esperança desiludida de um fim. Isso é difícil de engolir, porque nos parece uma advertência tremenda à simplicidade do “calouro”. Nós esperamos que um jovem diga tudo, menos que está desiludido, pois temos em mente muitos rostos e algumas histórias, ouvidas logo antes do início das aulas por ocasião da Equipe dos responsáveis europeus dos colegiais de Comunhão e Libertação. Eram mais de 600 jovens e seus professores que, vindos de toda a Itália, da Espanha, de Portugal, da França, da Lituânia e da Suíça fizeram um encontro de três dias em La Thuile.

Um lugar onde dizer eu
São jovens como muitos que se pode encontrar pelas escolas. Olhando-os enquanto esperam a abertura do salão e ouvindo algumas frases de suas conversas, descobre-se que têm muita coisa em comum com seus companheiros de escola que não participam do grupo dos colegiais: as roupas, os gostos, os modos. São como muitos de seus colegas. Mas se você fica um pouco com eles, dá um passeio e pergunta o que fazem, é constrangido a admitir que existe outra coisa. Como explicar de outra forma o fato de que em vez de aproveitarem os últimos dias de férias estão ali esperando o início de uma assembleia? E o fato de entrarem em silêncio no salão quando as portas se abrem? E, ainda, o fato de que, imediatamente, mais de 30 correm para poder fazer suas perguntas? Existe algo mais, realmente: “Algo dentro de algo”, disse padre Giorgio Pontiggia, responsável nacional pelos colegiais na Itália, durante essa primeira reunião da Equipe. E você, que acha que o assunto é muito complicado para eles e que é mais para adultos, muda de opinião porque os ouve dizer que “a dificuldade maior, o obstáculo maior à felicidade é a separação entre a realidade e o Mistério”. Miriam, uma lourinha de ar astuto que é a primeira a pegar o microfone na assembleia, vai logo ao essencial: “Entendi que o segredo da vida é ser simples”. Assim como muitos que, um após o outro, tomam a palavra e fazem perguntas sem constrangimento em falar da dificuldade que têm na escola, em casa ou com os amigos do grupo dos colegiais: mais de uma hora e meia de perguntas, narrativas e cartas que testemunham como já faz parte da sua experiência a frase que dá título a esta Equipe: “Um lugar onde dizer eu com verdade”. Para eles, este lugar é o grupo dos colegiais: rostos bem precisos de companheiros e professores, uma amizade que pouco a pouco descobrem capaz de arrastar toda a vida.

Nós e Nova Orleans
Ele nem bem acaba de falar e começam a aplaudi-lo. E não param nem mesmo quando padre Giorgio os convida a levantarem-se para encerrar o dia rezando o Memorare. Ouviram-no falar da carnificina de Beslan, do Tsunami e de Nova Orleans, do referendo sobre a fecundação assistida e das questões sobre o Banco Itália. E ficam muito entusiasmados, não porque têm uma propensão particular pela política e pela atualidade – talvez alguns, mas, certamente, a maioria não –, mas porque estão diante de uma pessoa que os levou a sério e, que partindo de fatos e da experiência pessoal, explicou “o que quer dizer julgar para nós”. Um nós que inclui a todos: os jovens entre 13 e 18 anos, seus professores e aquele professor universitário que se chama Giorgio Vittadini. Este nós conta, sem dúvida, porque os jovens dos colegiais realmente têm o desejo de julgar a vida, a atualidade e os estudos. Tanto é que, durante o Meeting de Rímini, colocaram em pé uma redação permanente onde se encontravam para ler os artigos publicados sobre o evento e escrever textos sobre os vários encontros programados.
E se alguém, navegando na internet, entrasse no fórum realizado no espaço dos estudantes, perceberia que este desejo não começa e termina com o Meeting, mas é uma iniciativa que dura o ano todo: são mais de 900 usuários registrados, jovens que discutem tanto sobre filmes como sobre a guerra do Iraque, e onde falam sobre suas férias e seus dias na escola.

Envolver-se seriamente
Ouvindo os relatos de alguns colegiais, confirmados pelos seus mestres, fica claro que são muitos os professores que “não estão nem aí” para eles ou, muitas vezes, para ensinar-lhes alguma coisa. E isso aborrece os meninos não porque reivindicam algum direito à cultura – “eu faço as matérias que me pedem”, admite um rapaz que faz o curso técnico, “mas o professor de italiano não nos ensina nada e eu não sou o único que pensa assim...” –, mas porque, no fundo, esta postura é um modo de dizer-lhes que eles estarem ali ou não, dá no mesmo. Então, é possível entender porque muitos jovens são tão ligados aos professores que os acompanham no grupo dos colegiais. Podemos vê-los reunidos tanto com os professores mais jovens, que provavelmente acabaram de sair da universidade, como com aqueles que têm cabelos brancos e que já eram professores quando alguns destes “mais jovens” ainda eram colegiais. É uma amizade feita também de discussões, uma amizade que deseja abraçar tudo. Pela qual a professora com a qual eles implicam por ser baixinha, é a mesma a quem também se apegam porque no último inverno não lhes levou para esquiar, mas para visitar uma cidade cheia de obras de arte fazendo com que descobrissem algo de belo que não sabiam, mas que, agora, não abandonam mais.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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