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Passos N.66, Outubro 2005

EXPERIÊNCIA / MÉXICO

Construir um futuro novo

por Julián de la Morena

Crônica da viagem de padre Carrón ao México: Oaxaca, Campeche e Cidade do México, onde, através dos anos, surgiram obras educativas, fruto de uma paixão pelo homem

28 de junho, a chegada
Padre Carrón aterrissou em Benito Juarez, o aeroporto da maior cidade do mundo, no dia 28 de junho, em plena estação das chuvas tropicais que, este ano, estavam atrasadas. Na antiga capital dos astecas, situada a 2.500 metros do nível do mar e circundada por montanhas e vulcões ainda ativos, um pequeno grupo de amigos o esperavam. A primeira coisa que fez foi encontrar o Núncio Apostólico, dom Giuseppe Bertello.

29 de junho, Oaxaca
Na manhã do dia 29 de junho, a Interpol prendera um dos traficantes mais procurados no México e, entre medidas de segurança excepcionais, ela o estava levando ao aeroporto Benito Juarez para repatriá-lo a Israel. Nesta manhã, estávamos indo exatamente para o aeroporto e pegamos um trânsito caótico na avenida Churubusco. Por pouco não perdemos o vôo que nos levaria a Oaxaca, uma bela cidade colonial situada no coração de um vale, a sudeste do México. Sua excepcional luminosidade facilita a proliferação de artistas e artesãos. Aqui, o Movimento começou há 15 anos com a chegada dos Memores Domini. Eles educaram uma comunidade que cresceu e começou a criar obras. “Não queremos nos substituir à vossa responsabilidade, mas acompanhá-los em seu crescimento”, disse Carrón respondendo aos pedidos de ajuda dos responsáveis pelas obras nascidas na comunidade.
A creche e a escola de ensino elementar Alecrim são, junto com a obra social DIJO , uma das primeiras obras criadas e sustentadas pelos latino-americanos do Movimento.
Um grupo de senhoras da Fraternidade São José falou sobre a própria vida, num encontro na galeria de arte dirigida por uma delas, Dora Luz Martinez, um importante centro cultural que reúne os artistas locais mais significativos e suas obras. À noite, fizemos Escola de Comunidade em um ex-convento do período colonial, reestruturado e transformado em hotel, localizado em uma das principais ruas da cidade. O auditório estava lotado com pessoas das mais diversas condições: de professores universitários a personalidades locais e humildes indígenas. “Este homem confirmou-me que Cristo está vivo e que a Igreja é uma responsabilidade minha”, disse uma artesã indígena analfabeta, resumindo aquilo que aprendeu na Escola de Comunidade.

30 de junho, Cidade do México
Voltamos novamente de avião à capital. O dia começou com uma missa aos pés da colina do Tepeyac onde está a Basílica que guarda a imagem milagrosa de Nossa Senhora de Guadalupe.
O almoço foi com um grupo de responsáveis do Movimento, alegrado por um trio de mariachis que cantavam canções típicas. Na Cidade do México, mais conhecida como Distrito Federal, a comunidade começou há cerca de 20 anos, com a chegada de três Memores: Amadeo, Bruno e Stefano. À noite foi realizada uma Assembleia de Escola de Comunidade em um centro cultural da cidade. No final da noite, a diretora do centro agradeceu a Carrón pela sua presença dizendo-lhe que tinha sido o encontro mais importante que o centro havia realizado desde a sua fundação.

1o de julho, Campeche
A terceira etapa da viagem foi Campeche, antigo refúgio de piratas, ao sul do Golfo do México, na península de Yucatan; a temperatura é de 40 graus e a umidade é de 80%. Rodrigo e León, responsáveis pela comunidade, com um pequeno grupo de amigos, estavam nos esperando no aeroporto e nos acompanharam até a casa dos Memores para vermos Roberta, que está doente de câncer e nos recebeu em sua cadeira de rodas. Resumindo o encontro, disse: “O Movimento e seu responsável movem-se apenas por uma pessoa: Cristo!”. Sendo um dia de trabalho para a comunidade, os amigos de Merida e alguns vindos de Villahermosa aproveitaram o horário de almoço para se encontrarem com Carrón. No almoço, havia mais de 40 pessoas, entre adultos e universitários. Um diálogo cordial e intenso que durou até o momento de deixá-los para voltar ao aeroporto.

2 de julho, Assembleia Nacional de Responsáveis (Adultos e Universitários)
Éramos em mais de cem pessoas vindas de todas as partes da República; alguns viajaram 20 horas de ônibus. Antes da Assembleia, que foi muito viva e teve como tema os Exercícios da Fraternidade, Carrón nos disse: “Antes de mais nada quero lhes trazer o olhar comovido de Dom Giussani, cheio da mesma vibração intensa com a qual ele olhou a cada um de nós, para que a vossa humanidade possa se sentir verdadeiramente abraçada, como o é, agora, por ele e, por meio dele, pelo próprio Cristo. Não existe nada maior do que isso, não recebemos, na vida, nenhuma novidade maior do que este olhar cheio de estima e de afirmação da vida de cada um de nós, que é a novidade que Cristo introduziu no mundo”.
Antes que um grupo de bailarinos mariachi entrasse no salão para exprimir de forma mexicana a gratidão pela visita, Carrón contou-nos a sua história de seguimento a Dom Giussani. “Aceitar aprender aquilo que achava que já sabia salvou a minha vida. Levei a sério a proposta educativa de Dom Giussani, por um modo meu de acertar as contas com a realidade e porque queria saber se o cristianismo podia responder a toda a exigência de verdade que eu tinha dentro de mim. Durante 15 anos não tive nenhuma outra responsabilidade além da que qualquer pessoa do Movimento tem. Via Dom Giussani uma vez por ano e de longe. Dizia: se não puder fazer o caminho de todos, não me interessa. Por isso digo que o caminho que eu fiz, qualquer um pode fazer. Como eu aprendia? Vivia, e como não tinha mais nada, me aprofundava nas coisas que lia de Dom Giussani e procurava Dom Giussani. Quando cometia um erro ou quando me fazia mal o mal que eu fazia, procurava-o mais. Aprendia pelo modo como Dom Giussani me colocava diante da vida. Aprendia um olhar para a realidade. Por isso, quando Dom Giussani começou a me dizer: ‘Você deve vir para a Itália’, eu respondi: ‘Não posso lhe dizer não, qualquer que seja a coisa que me pedir. O senhor me fez viver a vida com uma tal intensidade e plenitude que não posso dizer-lhe não. Se o senhor quer que eu faça isso, faço, e se quer que eu vá, vou’. Via a sua reação àquilo que eu dizia e nela, mesmo que apenas por um instante, havia tudo. Assim, entendi se andava por um caminho errado ou se o que eu intuíra era verdadeiro. Para mim, estes meses, mesmo nas poucas vezes que o vi, foram decisivos. E poder falar com ele tranquilamente, na situação em que ele se encontrava, foi a confirmação decisiva de um caminho que poderia continuar depois da sua morte”.

3 de julho, visita ao Cardeal e aos Memores Domini
Domingo ainda tinham agendados vários encontros com os Memores Domini e uma visita cordial ao cardeal Rivera Carrera, primaz do México, recém chegado de Israel, que nos recebeu gentilmente na Catedral Metropolitana antes da missa dominical, sob um imponente quadro de Villalpando que representa a apoteose de São Miguel Arcanjo. Uma vez mais a vitória e a batalha.

Creche Alecrim

A ideia nasceu de um grupo de pais depois dos Exercícios da Fraternidade de 2000. Desejosos de educar os próprios filhos introduzindo-os na realidade dentro do carisma encontrado, decidiram começar uma creche. Tudo começou em janeiro de 2001, em um estacionamento, com três crianças e uma professora, Dora Luz, que ao mesmo tempo acumulava a função de diretora. No estatuto, lê-se: “Construamos um lugar no tempo e no espaço onde se viva o humano participando, assim, da construção da história da nossa Oaxaca”. Estes cinco anos de trabalho duro foram pagos com a alegria de ver os próprios filhos transformarem-se em crianças seguras e alegres, pela única razão de sentirem-se amadas. Do ponto de vista didático, as expectativas dos programas foram superadas: todas as crianças saem da creche sabendo ler; sabem estabelecer relações cordiais entre eles (jogam e inventam os próprios jogos), reconhecendo a dignidade humana do outro e o pertencer a um mesmo povo. Em muitos casos, a creche se transformou também em uma ajuda real à vida de muitas famílias, a ponto de desejarem poder continuar a educação dos próprios filhos, fundando uma escola de ensino elementar.

Escola de Ensino Elementar Alecrim

Nasceu em 2003, no início com 23 alunos, por um grupo de mães preocupadas com o moralismo e o conformismo que predomina na sociedade. E os pais vêem-se obrigados a mandar seus filhos à escola menos pior. Diante deste panorama desolador descobriram uma forma diferente na proposta da creche Alecrim. Mesmo sem entender profundamente o motivo desta diferença, decidem mandar os filhos para lá. Os anos passam e surge o problema de encontrarem uma escola elementar. Diante da proposta limitada das escolas cujo lema é “quanto mais, melhor”, para eles agora está claro o que desejam para seus filhos: uma visão mais ampla, que lhes permita viver a maravilha diante da realidade, uma escola onde se ensine a ler e a escrever conservando a curiosidade natural e a felicidade das crianças. Daí nasceu a ideia de fundar a Escola de Ensino Elementar Alecrim. Começa, assim, um trabalho duro, realizado realmente com o coração, onde todos se dedicam sem medida para a construção dessa obra educativa. Agora, temos uma organização consistente que terminou o ano com 36 alunos e quatro turmas.


DIJO - Desenvolvimento Integral da Juventude Oaxaquense (atividade de reforço escolar)


Nasceu há 12 anos, da necessidade de algumas mães que, preocupadas com o rendimento escolar de seus filhos que corriam o risco de serem expulsos da escola, pediram ajuda aos amigos do Movimento. Pela “Adoção à Distância”, promovida pela Avsi, começou uma atividade de reforço escolar no bairro São Filipe del Agua. Foi a primeira semente desta obra.
A notícia se espalhou, e começaram a chegar pedidos de outros bairros e vilarejos. Como a Associação precisava de um lugar físico onde reunir as crianças, as próprias mães se uniram para pedir e conseguir os locais junto às autoridades. Hoje, a Associação está presente em cinco bairros e vilarejos próximos a Oaxaca.
A mais recente é a de Monte Alban. Aqui, a Associação se vê diante de um problema não somente escolar, mas também de desnutrição. Para responder a esta necessidade, acrescentou-se à atividade de reforço escolar um almoço para as crianças. Há quatro anos, esta obra recebe não só os financiamentos da Avsi, mas também do governo e de outras fundações.
Hoje a DIJO acolhe aproximadamente 250 crianças em situação de extrema pobreza que trabalham e têm problemas de aprendizado e de conduta. Procuramos fazê-los frequentar a escola. As atividades principais que realizam são: reforço escolar, educação às normas higiênicas, nutrição, esporte, várias atividades recreativas e culturais e encaminhamento para consultas médicas e legais. No ano passado, também começamos algumas atividades de trabalho com as mães.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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