A ajuda aos desabrigados. A solidariedade e a esperança dependem da constatação de que dependemos de um Outro maior do que nós. É a caridade, o dom comovido de si a partir de um ideal verdadeiro, que faz a diferença
Quando o furacão se desencadeou, Rosie estava viajando de férias com a família. Na mala, somente roupas para um final de semana. Viajaram a noite inteira para chegar em Houston, Texas, onde o amigo de infância, Carlos, e sua mulher, Kristina, os esperavam em sua casa. As duas famílias reunidas viram na televisão as primeiras imagens que nos dias subsequentes revelaram a vastidão do desastre. A família de Rosie perdera tudo por causa da fúria do Katrina.
Kristina, que encontrou o Movimento há três anos, logo começou a trabalhar com os amigos da comunidade de CL para recolher fundos para cobrir as despesas de primeira necessidade da família dos amigos, os custos da escola e identificar as possíveis oportunidades de trabalho. No fim de semana após o furacão, enquanto Rosie e seu marido procuravam trabalho e um lugar para morar, seus filhos – Salvador, de 16 anos, e Hannah, de 8 – foram com Carlos e Kristina às férias de CL do sudoeste. “Era como se sempre tivessem pertencido àquela companhia. Salvador foi imediatamente acolhido pelos rapazes. Hanna conquistou todas as mães tomando conta das crianças”, escreveu Kristina.
Duas semanas depois, a família de Rosie mudou-se para um apartamento em Houston e matriculou os filhos na escola local. “É uma história simples, não havia nenhuma dúvida sobre as condições precárias desta família e sobre a disponibilidade da minha família em ajudá-los.”
O churrasco com os desabrigados
De um modo ou de outro, a situação de Rosie é a mesma de mais de um milhão de pessoas que fugiram das próprias casas, na Luisiana e no Mississíppi, quando o Katrina passou. Serão necessários anos para reconstruir aquilo que foi destruído em poucas horas. Um longo período no qual é preciso manter viva a esperança. O que vem à tona na devastação, quando a materialidade da vida é destruída, é a evidência esmagadora do fato de que dependemos de algo que é maior do que nós e, por isso, precisamos de um Outro que possa não somente prover, mas ser a resposta ao grito do nosso coração.
Um testemunho disso vem de Jay, de Houston, que escreveu: “No dia 18 de setembro, CL organizou um churrasco com o pessoal da comunidade. O padre da nossa paróquia convidou todos os paroquianos e tivemos a sorte de encontrar uma família de Nova Orleans que almoçou, cantou e passou a tarde conosco. Viviam em um albergue desde o dia da inundação. O que deve ser para uma pessoa mais velha saber que a casa que ama, a cidade que ama, com tudo aquilo que é seu, foi reduzido a um monte de entulho? No entanto, estavam muito contentes no fim do churrasco e não paravam de nos agradecer. Trocamos e-mails prometendo nos encontrar mais uma vez para jantar naquela semana. Não podíamos fazer mais nada além de propor a nossa amizade, porque não podemos devolver-lhes sua casa. Por meio deste acontecimento nos é mostrada toda a nossa pobreza original que nos faz pousar o olhar sobre algo de outro”.
A família de Chris
Diante de uma realidade tão precária emerge, ainda, uma outra evidência: o desejo de doar a si mesmo. Chris, que mora no Brooklyn, vindo de Nova Orleans, estava coberto de incontáveis ofertas de amigos e colegas: “O que podemos fazer?”. A efusão de generosidade foi comovente: um ex-professor de piano enviou uma grande soma em dinheiro, dois professores do colégio de Staten Island angariaram fundos para a família de Chris e o superintendente escolar disse a ele que 29 escolas se dispuseram a ajudá-los no que precisassem. Os pais de Chris, junto com muitos amigos e parentes, estão reconstruindo suas vidas praticamente do zero. Trabalhando com seus familiares, ele criou o projeto “Adote uma família” para encaminhar as ofertas de ajuda diretamente às muitas famílias necessitadas de Nova Orleans.
Ao mesmo tempo, em outras partes do país, os membros da comunidade de CL na Califórnia decidiram juntar todas as suas doações e oferecê-las a Chuck. Esta quantia, graças ao seu patrão, será somada à doação da empresa e revertida em favor das vítimas do furacão. Steve, que pertence à comunidade de CL em Oregon, está trabalhando com seus colegas em busca de emprego para aqueles que viram seu trabalho ser levado pelas águas do dilúvio.
Lição de caridade
Todos estes exemplos ilustram a mensagem escrita e testemunhada pelo representante pontifício, arcebispo Josef Cordes, presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, enviado pelo Papa Bento XVI para visitar as populações das regiões flageladas pelo furacão. Ezio Castelli, presidente da Avsi nos EUA, acompanhou dom Cordes durante a visita. “Ver dom Cordes junto com as pessoas foi uma lição de caridade. Olhando o rosto das pessoas que encontravam o arcebispo era possível ver a confirmação que aquilo que qualquer pessoa precisa incomensuravelmente, aquilo que mais corresponde às suas condições, quer sejam boas ou sofridas, é a caridade: o dom de si comovido por um ideal percebido como verdadeiro. Os bancos de alimentos e as organizações mais sofisticadas de distribuição e de socorro são bastante necessárias e desejáveis, mas somente ser olhados e abraçados no próprio destino faz verdadeiramente a diferença.”
O que vem à tona na devastação, quando a materialidade da vida é destruída, é a evidência esmagadora do fato de que dependemos de algo que é maior do que nós e, por isso, precisamos de um Outro que possa não somente prover mas ser a resposta ao grito do nosso coração. |
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