Passos N.66, Outubro 2005

IGREJA / ECUMENISMO

Encontros para um novo início

por Elisa Buzzi

"Meetings for a New Beginning” (Encontros por um novo início) é o título indicado por dom Javier Martínez, arcebispo de Granada, para o congresso teológico que, graças à sua iniciativa, se realizou nessa cidade da Andaluzia, de 7 a 11 de setembro. Era um grupo de pensadores protestantes e católicos, americanos e europeus, motivados – mais do que por um diagnóstico em comum dos males da cultura moderna – por uma paixão em comum pela Igreja, pela sua unidade e sua missão. Novo início é um bom ponto de partida para compreender o significado de um acontecimento que, para além do seu inquestionável valor científico e eclesial, manifestou toda a força decisiva de um verdadeiro encontro, a admiração e a dinâmica imprevisível de conhecimento e de mudança que dele nascem e desafiam a lógica das coisas já conhecidas, das posições conquistadas.
A idéia de onde o bispo Martínez partiu é, muito simples e radicalmente, favorecer e aprofundar o encontro e a amizade entre um grupo de teólogos católicos que se identificam com a Nouvelle Theologie – segundo a trilha aberta por De Lubac e Von Balthasar – e com o pensamento de Dom Giussani, e um grupo de teólogos “pós-liberais”, protestantes e católicos, pertencentes ao filão inglês da Radical Orthodoxy, do anglicano John Milbank, e ao filão americano da Duke School, de Stanley Hauerwas.
O congresso foi pensado como um espaço em que cristãos provenientes de diferentes tradições e contextos intelectuais pudessem descobrir juntos as implicações do fato cristão em todas as dimensões da vida humana e compreender melhor os motivos pelos quais o sentido e as razões de tais implicações se perderam, na nossa cultura e na nossa sociedade.
A partir dessa preocupação básica tomou forma a estrutura do congresso, articulado em duas sessões principais. A primeira, guiada pelas contribuições de Stanley Hauerwas (Duke University, EUA), Michael Waldstein (Instituto Teológico Internacional para os Estudos sobre o Casamento e a Família, Áustria), John Milbank (Nottingham University, Inglaterra), Stephen Long (Garret Evangelical Theological Seminary, EUA), se concentrou na análise e discussão da inevitável “dissolução da Igreja” na moderna sociedade secularizada, numa cultura que, em suas diversas vertentes, liberais ou socialistas, conservadoras ou progressistas, funda-se numa premissa comum: a não-existência da Igreja como corpo social visível, como referência última para a definição da identidade daqueles que pertencem à sua comunhão.
O segundo bloco de intervenções – entre as quais recordamos Cristoph Potworowsky (McGill University, Canadá), William Cavanaugh (University of St. Thomas, EUA), Javier Prades (Faculdade Teológica San Damaso, Espanha) – dirigiu a reflexão para os “recursos da Igreja”, ou melhor, para a própria Igreja, em toda a riqueza da sua tradição e experiência, naquela unidade que se manifesta milagrosamente em uma amizade capaz de abraçar inclusive a dor por uma comunhão que ainda não é plena.