"O objetivo do encontro é o próprio encontro”, disse o arcebispo de Granada, dom Javier Martínez, na carta-convite para o congresso que se realizou no início de setembro. E a essas palavras se seguiram as de Stanley Hauerwas, segundo o qual, se há um sentido na crise dos nossos dias – devida em grande parte ao liberalismo e ao laicismo –, é o de “mostrar a nós, cristãos, o quão desesperadamente precisamos uns dos outros”.
Reuniões entre luteranos, metodistas, evangélicos e católicos, para discutir e confrontar-se, não são, propriamente, uma novidade; desde o Concílio Vaticano II até hoje são incontáveis os encontros em que “nós nos conhecemos e nos entendemos melhor, embora ainda permaneçam diferenças”. Ao diálogo com as outras confissões cristãs e com as demais religiões o Papa Bento XVI dedicou algumas horas do seu tempo durante a primeira viagem que fez como Papa ao Exterior (à Alemanha), indicativo de uma necessidade fortemente sentida, como já ocorrera também no pontificado anterior, e de um desejo intimamente alimentado.
Costuma-se dizer que a história tem um peso notável na divisão entre os cristãos; isso é verdade apenas em parte. É verdade porque a pertença a diferentes confissões deriva de escolhas, de “fé” e teologias que deram vida a uma história, feita de idéias, costumes, comportamentos, sensibilidades e atitudes frente à vida. Não é verdade, por outro lado, enquanto os “vínculos” nascidos dessas histórias precisam ser examinados em sua consistência atual e em sua força para manter a distância. Nesse sentido, como se viu em Granada, a atração pelo catolicismo é muito real; mas seria um erro entendê-la em termos eclesiásticos, como uma eventual disponibilidade para se passar de uma confissão cristã a outra, porque, em sua mais verdadeira exigência, ela é uma atração pela experiência cristã vivida e concebida em plenitude. E isso coloca uma questão também para os católicos e os remete para a posição de quem deve, não tanto acolher os outros, mas se renovar no encontro com eles.
Assim, a unidade, para se realizar, deve assentar-se sobre um fato vivido e sobre um juízo. A crítica a qualquer forma de dualismo, a superação do laicismo como modo de pensar, antes ainda que como modo de vida civil, a redescoberta dos autores da tradição cristã, as idéias para um renovado engajamento na vida sociopolítica e, sobretudo, na área da Educação, foram os principais pontos em que os participantes do encontro de Granada puderam perceber uma comunhão de objetivos e de valores. Todos reconheceram que isso não foi ditado só pelo interesse teológico e filosófico, mas que “aconteceu algo que não permite que fiquemos do mesmo jeito que éramos antes”.
E esse início de experiência talvez seja a grande novidade do “novo início” proposto em Granada.
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