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Passos N.63, Julho 2005

CARTAS

Cartas

Desejo de infinito
Queridos amigos, Deus é perfeito. A diferença está em saber e em experimentar essa perfeição. Preciso confessar que a morte de padre Giussani está sendo uma benção pra mim. Uma pessoa que nem conheci, mas que passei a amar e a admirar como alguém que faz parte da minha vida. Nesses quatro anos em que encontrei o Movimento meu desejo de conhecê-lo e poder abraçá-lo era enorme. Queria agradecer o seu sim, a sua fé que muda a vida de milhões de pessoas. Mas agora ele me conhece e me sinto acompanhada por ele. Quando leio seus textos sinto que ele sabe mais do meu coração do que eu mesma, pois ele desperta e responde a todas as perguntas urgentes em meu coração. Digo sempre a ele: “o senhor é responsável pelo que está acontecendo em minha vida, me ajude, para que Deus continue em mim a obra começada”. Outro dia me lembrei de sua frase: “Nossa Senhora é a segurança da nossa esperança”, e é assim que experimento a presença de padre Giussani, uma pessoa da minha época, alguém que viveu realmente diante dessa doce Presença que é Cristo e mais a partilhou com meus amigos, ou melhor, com o mundo, pois deu sua vida com simplicidade e serenidade. Diante disso vejo que é real o que experimento, que muda tudo nos meus estudos, em casa com a minha família, na Comunidade Palavra de Deus. Estou longe em ter conhecimentos sobre música, mas tenho um gosto pela música clássica que não sei explicar, e quanto mais eu ouço, mais me sinto descoberta. Nos Exercícios Espirituais aqui em São Lourenço tive a resposta que procurava há muito tempo. Sempre senti uma falta; dentro de mim sempre houve um grito, uma sede sem fim, que muitas vezes me fez culpar as pessoas ou fugir de mim mesma. Essa falta eu a tinha como inimiga, como obstáculo para caminhar. Teve momentos que pensei que estivesse louca por não saber que essa falta é amiga e que facilita, que é desejo de infinito. Fiquei emocionada com as palavras de Julián Carrón, que existe flor de esperança, de uma plenitude futura de uma realidade presente. Como ele disse, posso experimentar uma serenidade impossível, mas eu diria improvável, não impossível. Obrigada ao coral, pois vocês de uma forma inexplicável me levam ao trono do cordeiro. Olhar as mãos dos regentes traz harmonia à minha vida. É simples, mas perfeito para os meus olhos. Na delicadeza dos gestos me sinto plena da presença de Cristo no outro. Venham sempre nos visitar, será motivo de grande alegria.
Auxiliadora, São Lourenço – MG

Palavras chave
Quando entrei pela primeira vez no salão dos Exercícios da Fraternidade onde estavam meus amigos, ouvi esta frase: “Por que devo empenhar dois dias da minha vida?”. Eu já tinha me perguntado isso no dia anterior quando percebi que tinha aceitado o convite impulsivamente, movida pela curiosidade, pelo interesse e pela amizade sincera com quem me convidara. Agora, domingo à noite, em casa, repenso em tudo, cansada, mas grata a quem me propiciou estar nos Exercícios. Percebo que fui bem: escutei, observei e entrei em um mundo do qual só conhecia a fachada pelo Meeting de Rímini e pelo grupo de amigos do trabalho. Vi um povo compacto, ouvi perguntas de pessoas que pedem respostas, percebi a necessidade de todos de ir em frente, de viver aquela esperança que não decepciona, tema fascinante do encontro. Todos escreviam frases, conceitos, e eu também. Mas escrevi pouco, apenas algumas palavras, as “palavras-chave”, as que me marcaram, as que pareciam carregar aquele fio inicial do qual tudo começou. Escrevi esperança, amizade, razão, desejo, coração, memória, dever, felicidade, decisão, oferta. Ouvi os cantos maravilhosos, admirei o silêncio, a ordem e a docilidade com a qual um povo se move, convencido por algo, sobretudo pela gratidão que se evidenciava nas conversas com a pessoa que os envolvera nesta experiência há tanto tempo e que estava ali presente, naquela sala. A minha fé é morna, sou prudente e crítica diante de certos fenômenos, porém, sou curiosa, desejosa para entender, respeitosa em relação às escolhas e ao caminho dos outros e consciente de poder aproximar-me deles. Agradeço por esta ocasião de aprendizado, agradeço a padre Fábio por suas palavras, por haver citado muitas vezes aqueles que estavam ali pela primeira vez e que, como eu, tentavam entender aquele “sentido” e também agradeço porque me senti em casa, entre irmãos.
Rossana, Milão – Itália

O drama da liberdade
Quando acontece algo que começa a tratar com consideração aquilo que se é e as paixões que se tem (como pelo grupo de rock ou pelo trabalho que faço de engenheiro mecânico), quando encontramos uma coisa assim sentimo-nos gerados e entendo como a virgindade é uma maternidade e uma paternidade porque fui tratado assim. E isto explode todas as vezes que faço memória desta Graça imerecida que me foi dada. Obviamente, durante o dia tudo isto se ofusca diante do peso do trabalho ou porque me encontro em circunstâncias muito diferentes durante a mesma jornada. Nestes momentos percebo, exatamente no momento em que me sinto afundar, que existe uma dramaticidade que é a dramaticidade fundamental da vida, um drama da liberdade ao abandonar o seu ponto de vista sobre a questão, o seu sentimento, o seu raciocínio, o seu acertar as coisas com os colegas (que, obviamente, nunca acontece) e percebo que em certos momentos me é pedido mudar uma posição à qual estou apegado como uma rocha. Dou-me conta de que somente quando faço memória desta Graça presente, imerecida e imensa, o coração recomeça a arder, e por causa dela a maldade do colega ou a situação particular, em vez de tornar-se um inconveniente, se torna uma oportunidade e toda a realidade – em qualquer situação que eu me encontre, tentando resolver os problemas que tenho que resolver de manhã à tarde – não se dá mais a partir daquilo que eu posso fazer, mas de como Deus me espera atrás daquele aspecto da realidade para realizar, por meio da minha debilidade e da minha incapacidade, o Seu poder.
Davide, Teramo – Itália

Em Milão, um encontro inesquecível
Milão 22 de Maio de 2005. Devido a uma necessidade da empresa fui convidado a realizar uma viagem de trabalho à Itália. Por trabalhar em uma multinacional francesa tive a oportunidade de viajar muitas vezes para a França e outros diversos países inclusive a China, porém não tinha a esperança de viajar justo para a Itália. Cheguei a Milão no sábado junto com mais dois colegas de trabalho aos quais já havia advertido que no domingo antes de seguirmos para nosso destino final eu iria visitar um amigo no cemitério. Pareceu estranho para eles e confesso que para mim também, pois nunca fui a um cemitério visitar ninguém, mesmo meus familiares já falecidos. Porém, existia uma ansiedade dentro de mim que não conseguia esconder. No amanhecer de domingo o dia estava ensolarado. Saí do hotel segui para o cemitério enquanto meus amigos saíram para caminhar. À medida que me aproximava do encontro meu coração pulsava mais forte. Eis que cheguei à entrada do belíssimo cemitério Monumental e perguntei ao primeiro zelador que encontrei onde devia ir e ele citou “o primeiro corredor à direita”. Chegando ao belo e enorme corredor de lápides em mármore meu coração parecia que ia explodir. Eu estava preste a encontrar aquele que, por meio de seu sim, fez com que uma simples ovelha perdida como eu fosse arrastada do nada e mergulhada na experiência mais gratificante do planeta que, pra mim, é a experiência cristã de CL. Diante da foto de padre Giussani não pude fazer outra coisa senão ajoelhar e rezar. Rezei um terço pela minha família, pela minha Escola de Comunidade e nossa Fraternidade. Com os olhos fixos na foto de padre Giussani entendi a frase “Na simplicidade do meu coração, cheio de letícia, te ofereci tudo”, pois se eu estava ali foi porque ele realmente ofereceu tudo. E confesso que jamais sairá de minha mente a segunda frase escrita na lápide: “Oh, Nossa Senhora, tu és a segurança da nossa esperança!”. Hoje entendo claramente que sua morte não foi o fim, mas um recomeço cheio de responsabilidade para nós e de muita esperança para todos. Obrigado padre Giussani pelo encontro inesquecível.
Leandro, Rio de Janeiro – RJ

A herança de Umberto
Quando soube da grave doença de meu filho Umberto, embora não tivesse perdido a fé, o que me permitia seguir em frente era a esperança no milagre da cura. A minha fé tinha tido muitas correspondências até aquele momento da minha vida. Uma vez que o Senhor Deus sempre tinha me ajudado a resolver as questões importantes, pensava que, certamente, Umberto seria curado. Deus não tinha me abandonado. A situação se agravava. Os médicos nos disseram claramente quanto tempo nosso filho viveria. Mas eu esperava pela cura. No dia 26 de agosto de 2004 Umberto morreu, enquanto eu ainda esperava o milagre. Mesmo naquele momento, a fé não me abandonou, mas a esperança morreu com meu filho. O milagre que tanto pedi e do qual eu estava certo, não me foi concedido. No entanto, um milagre aconteceu e foi cem vezes maior do que o que eu havia pedido. Umberto foi chamado por Deus para colaborar com Ele e, obediente, disse sim. No dia seguinte à sua morte lemos as suas cartas e, então, entendemos o fato que aconteceu em nossa vida. Ele escreveu em uma das cartas aquilo que padre Giussani lhe dissera no Natal: “Rezemos juntos ao Senhor para que seja feita a Sua vontade e ofereçamos tudo pela salvação do mundo”. Umberto deixou-nos de herança a sua esperança: a amizade com Cristo. Neste ano eu e minha esposa fomos pela primeira vez aos Exercícios da Fraternidade para encontrar esta amizade. A esperança é a substância da própria vida, é a ligação direta com Cristo ressuscitado, para que sejamos conduzidos diretamente a Deus.
Armando, Milão – Itália

Navegando na Internet
Caríssimos amigos, a nossa pequena comunidade das Filipinas teve, recentemente, a belíssima oportunidade de encontrar-se para um dia de retiro com padre Ambrogio Pisoni. Além dele, alma da preparação e da realização do retiro, estava a eficientíssima e irrefreável Malou. Entre os outros participantes estava um casal de namorados de Mindano, Romel e Luz, e um simpaticíssimo jovem de Cebu, Gabriel, cujo encontro com CL se deu pela internet. Por acaso, procurando notícias sobre movimentos eclesiais, entrou no site de CL. Ficou impressionado pelo modo como o seu carisma estava descrito ali. Por isso, escreveu imediatamente à secretaria, que lhe enviou o endereço de Malou com quem se colocou em contato e marcou um encontro de “carne e osso”, como ele mesmo descreveu durante o dia de retiro. Foi impressionante, inclusive para mim, que conheço CL praticamente desde quando era criança, a sua familiaridade com a terminologia do Movimento, assim como a sua paixão pela leitura de diversos autores. Falando com ele, lembrei-me de padre Giussani quando, no seminário, iniciou o Studium Christi. De fato, ele também faz parte de um pequeno grupo de amigos que compartilham essa paixão: lêem, encontram-se e trocam impressões sobre o que leram. Depois, explicando essa atividade que realizava com seus amigos, disse algo que me tocou, pois expressou uma nostalgia: a necessidade de um guia porque, diante de autores diferentes, sempre ficam fascinados, mas de fato não são capazes de avaliar se o que eles leram tem relação com a sua fé. E entre eles não existem guias disponíveis. Eu gostaria de ajudá-los, mas não moro exatamente na região. Para os participantes esta ocasião foi, seguramente, um encontro, ou mesmo um reencontro, em versão filipina para os não tão jovens como eu.
Padre Giuseppe, Filipinas

Passos em Macapá
Amigos, gostaria de compartilhar este desafio com todos vocês. Ontem juntamente com alguns amigos nos propusemos a vender o último numero da revista Passos depois da missa na Catedral. Pedimos autorização ao pároco, padre Paulo, e anunciamos a venda revista nos avisos da celebração. Fiquei pensando em como anunciar a venda. Rezei o Veni Sancte Spiritus e durante a homilia o Bispo que por coincidência estava presidindo a celebração, falava da atenção à palavra de Deus e que nós não poderíamos deixar o mal vencer o bem. Então, me enchi de coragem e disse no aviso que a revista era para nós um instrumento de missão e que a leitura da mesma nos ajudava a amar mais a palavra de Deus e a encarar o mal que se apresenta todos os dias diante de nós. No final da missa muitos nos procuraram e vendemos 14 revistas! Ficamos muito contentes por termos vendido as revistas e mais ainda porque estávamos dando testemunho da beleza que é viver numa amizade com Cristo.
Claudia, Macapá – AP

Médico na caridade
Caríssimos, as coisas em Hoima vão bem: a situação do hospital é sempre crítica, mas estamos pensando em melhorá-la para o futuro. Além do mais, é possível que venha alguém para cá e isto nos fará realmente felizes. A reposição de medicamentos não chega do entreposto de Kampala há sete semanas e, com o dinheiro das doações, estamos procurando cobrir o prejuízo. Imaginem que na última quinta-feira o anestesista, antes de começar a sedação pré-operatória, me perguntou se eu tinha pedido aos pacientes para comprarem o anestésico porque não o tínhamos mais. Fiquei com muita raiva e entrei no departamento dizendo que eu não podia pedir aos pacientes para comprar a anestesia e que, então, todas as cirurgias (não urgentes) seriam adiadas. No dia seguinte, fiz uma operação usando meus anestésicos. Domingo de manhã fizemos caritativa em um bairro de Hoima onde vivem muitos pacientes HIV positivos da Giorgia. Levamos alguns doces e um violão. Foi muito bonito, as crianças cantaram durante duas horas junto conosco. Entre elas estava uma menina, Flora, que estamos acompanhando de modo particular. Tem nove meses e pesa 4 kg. A mãe morreu de Aids, o pai apareceu há alguns dias no abrigo do Meeting Point, bêbado, dizendo que não podia cuidar da filha. Encontramos uma pessoa que, então, a levou para casa e começamos um acompanhamento alimentar. Ela melhora a cada dia e vê-la é um espetáculo. Nossa amiga Kevina, do Meeting Point, que também é soropositiva, deu à luz há dois dias. Fiz uma cesariana para tentar evitar a transmissão do vírus. A menina, Giovanna, está muito bem e sua mãe também. Mesmo no cansaço e na fadiga estou redescobrindo a beleza do doar-se totalmente sem limites ou reservas. Viver totalmente a dimensão da caridade realmente muda sua cabeça e seu coração. O Mistério toma carne por meio da nossa pequenez. Esta inexplicabilidade é o rosto do Mistério no cotidiano.
André, Hoima – Uganda

Marcado por um encontro
Fiquei muito tocado com o texto “Uma humanidade plena e radiante” da revista Passos de maio/2005. Primeiro, pelo fato de estar lendo uma revista que me foi dada; depois, por me fazer lembrar dos encontros que tive com dom Lucas, na época Arcebispo em Salvador. Eu também me perguntava o que leva um Cardeal a perder seu tempo com um desconhecido, um estranho, a perder seu tempo comigo? Agora, vejo que era o mesmo fato: um simples e direto amor a Cristo. Sou inscrito na Fraternidade de CL, morava em Salvador e terminei me mudando para Montes Claros. Sou casado e tenho duas filhas. Posso afirmar que sofremos muito, mas foi muito bom: valeu o risco, amadurecemos mais. Hoje tenho certeza de que Ele nos ama, e não nos abandona nunca. Obrigado pela revista. Logo que possível retomarei a assinatura, pois a vida sem a companhia é menos vida.
José Augusto, Montes Claros – MG

Reverendo padre
Julián Carrón


Patriarcado de Moscou
Igreja ortodoxa bielorussa
Exarcado bielorusso
n. 334-06 – 25 de abril de 2005

Reverendíssimo,
caro padre Julián Carrón

Receba as minhas sinceras condolências por ocasião da partida de padre Luigi Giussani, eminente teólogo, brilhante pedagogo, ardente pregador da palavra de Deus, incansável combatente contra a indiferença e o relativismo nas questões de fé, produtos do nosso
mundo secularizado.
O Senhor, que é grande na misericórdia, doe paz à alma de Seu fiel servo na terra dos justos.

†Filaret
Metropolita de Minsk e Sluck
Exarcado patriarcal de toda a Bielorússia

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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