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Passos N.62, Junho 2005

EDITORIAL

A energia do ideal

Um velho ditado diz: “Quando o jogo fica duro, os duros começam a jogar”. Vários indicadores, citados ultimamente pela imprensa, revelam que a Europa em geral parece estar entrando num período ainda mais difícil, sobretudo do ponto de vista econômico. As repercussões sobre a vida das pessoas já começam a ser sentidas, e provavelmente devem se agravar. Portanto, o jogo está ficando duro. E já se vê que, em muitos comportamentos e em alguns resultados eleitorais, se apresenta a face dura do protesto, da impaciência, muitas vezes exacerbada e instrumentalizada (por exemplo, as recentes eleições administrativas na Itália e as motivações do “não” vitorioso no referendum na França sobre a Constituição da União Européia).
Quando as coisas pioram, parece inevitável que, no nível pessoal e coletivo, predomine um sentimento de amargor e de revolta. Há bons e muitos motivos para se protestar. Mas estamos mesmo certos de que ser “duro”, quando o jogo se torna duro, significa dar azo a reações de revolta? A parte dura é a raiva? Será que não haveria algo muito mais sólido, duro mas construtivo, capaz de dar resistência e novo impulso?
Damos o nome de “desejo” à parte verdadeiramente dura do espírito humano. Sobre esse alicerce pode-se construir algo, mesmo que em meio a situações que impõem mudanças drásticas e ruptura com certos hábitos. E o desejo – quando não se reduz a uma vaga aspiração – busca um ideal, um parâmetro, imagem e realização do bem que se deseja.
O desejo e um ideal que o sustente são necessários para que a vida não seja dominada pela desesperança, pelo tédio, ou pelas áridas medidas dos negócios e da luta pelo particular. A partir desse desejo e sobre o terreno desse ideal é, hoje, possível recomeçar, sem medo das dificuldades que virão e olhando com realismo as coisas que precisam ser mudadas e aquelas das quais não podemos nos desfazer.
Há um clima que ameaça perturbar a tudo e a todos. Alguns, os privilegiados, talvez escapem das dificuldades que se anunciam. Mas a maioria sentirá a mordida. A fim de que não prevaleçam sentimentos de divisão, de inveja, de acirramento na defesa do particular, precisamos de homens de ação, que atuem segundo a própria responsabilidade e, sobretudo, movidos pelo desejo de bem para si e para os próprios filhos: pessoas sustentadas por um ideal presente, do qual se possa fazer experiência aqui e agora. Isso dará alento, em lugar de veneno, e espírito construtivo em vez de protesto estéril.
Exemplos disso temos em abundância. Há sinais de ações vitoriosas, que precisam ser seguidas e imitadas.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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