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Passos N.61, Maio 2005

EDITORIAL

Uma humanidade que Deus veio salvar

Nosso tempo – e especialmente o século recém-terminado – sempre deu atenção aos desejos dos homens. Deles falaram todos: filósofos, médicos, políticos, comerciantes, publicitários. Em geral, exaltando-os e, ao mesmo tempo, quase sempre depreciando o seu significado. Ou submetendo os desejos humanos a desígnios de poder, sempre gerando inimizades e violências de todo tipo.

O desejo foi alçado a chave principal para se entender o espírito humano. Mas geralmente se falava de desejo e se indicava uma coisa diferente: pulsões automáticas e instintivas, projetos, sonhos, utopias. Assim – de propósito ou não – muita confusão espalhou-se por aí.


O desejo, naturalmente, é algo próprio do eu, é como que um espaço que não pode ser preenchido com as próprias forças. Desejamos algo que não conseguimos alcançar sozinhos. Trata-se de uma abertura. De uma fome e de uma sede. E tem uma outra característica: não termina nunca. Mesmo quando persegue e alcança um objeto de desejo, este prossegue. Já o dizia o grande poeta italiano Clemente Rebora: “Seja o que quer que digas ou faças, / Há dentro um grito: / Não é por isso, não é por isso!”.

Muitas escolas de pensamento já se envolveram em disputas sobre o que é o desejo humano.

Mas o problema é um só, como bem o compreendeu Leopardi: o fato de a vida ser tão plena e transbordante desse desejo de realização, desse desejo de felicidade, é o sinal de seu supremo erro? É sinal de que fomos feitos de um modo errado? Ou é o primeiro, o mais frágil, mas certíssimo sinal de que fomos criados para uma viagem que é possível realizar?


O anúncio cristão geralmente é contestado porque “leva muito a sério” o desejo humano. A razão é que não o considera um sinal de erro do homem. Antes, coloca-o no início da aventura do conhecimento, da civilização, e – o que deixa os adversários muito admirados – da salvação. Como o primeiro passo que é renovado em cada avanço do nosso caminho, dentro qualquer circunstância ou relacionamento. Como o primeiro indício daquela humanidade que Deus veio salvar, custando-lhe a morte. Porque ninguém saberia o que fazer com um Deus que não salva e que não realiza o desejo maior do coração humano: o desejo de vencer a morte.

O papa Bento XVI testemunha ao mundo que a realização do desejo é uma realidade presente, a Igreja, que prolonga no tempo a companhia de Deus ao homem. E por isso sustenta a nossa esperança.

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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