A subida de Jesus ao céu: aparentemente uma despedida, uma separação. Na verdade, a vitória imponente de uma realização. A festa da certeza
A festa da Ascensão (neste ano dia 08 de maio; nde) corre o risco de passar desapercebida da nossa atenção e da nossa memória porque está inserida entre a festa da Ressurreição e a de Pentecostes mas, pensando a respeito, descobre-se que ela vem iluminada pela luz destes dois grandes acontecimentos como uma pérola que mantém a beleza e repropõe a insondável profundidade de ambos. Aparentemente é uma festa de despedida e é fácil intuir o fio de tristeza que havia entre seus amigos e em sua mãe.
No entanto, a Igreja transfere o olhar de seus filhos da angustiante e delicada tristeza da separação para a realidade imponente de um cumprimento, embora todos nós estejamos bem longe de compreender a concretude deste mistério. Os seus próprios amigos precisaram da indicação de um anjo para tirarem os olhos do céu e retornarem aos seus afazeres terrenos esperando que dentro destas tarefas se revelasse o sentido daquilo que tinham visto.
Portanto, festa da certeza e da humildade, a Ascensão nos é cara de modo particular porque era a preferida de padre Giussani, fundador de Comunhão e Libertação.
Todos os anos esta data significava, para quem o escutava, uma ocasião para retomar o cerne da palavra “céu”, que, em latim – língua dos padres e matriz da nossa –, indica a profundidade das coisas da terra. Qualquer um, a partir dessa observação feita por ele ano após ano, pode perceber o quanto é importante deter-se sobre o significado das palavras para compreender a realidade e agir dentro dela. Não é tempo perdido, muito menos capricho de sábios.
De fato, aprendemos algo que não é ensinado por muitos que é o fato de que a Ascensão de Jesus ao céu para sentar-se à direita do Pai, como recitamos no Credo, coincide com a sua vitoriosa posse da profundidade das coisas cotidianas da terra. Então, o relacionamento com a realidade, para o qual temos sido chamados a atenção nos últimos anos, assume, sob esta luz, uma seriedade e uma perspectiva bem diferente da necessidade e da obviedade de se ocupar das coisas deste mundo; este relacionamento mostra-se claro como oferta, segundo nos foi apresentada e testemunhada, tornando-se bem mais que uma fuga espiritualista, algo que na sua corporeidade aparece entre as atividades humanas como modalidade de participação mais plena no senhorio de Cristo: um senhorio não evidente, tanto que uma nuvem esconde Cristo que parece afastar-se, mas, nem por isso, é menos real aos olhos dos seus amigos e aos olhos da nossa fé.
Um texto da Igreja escrito nos dias que se seguiram à Ascensão, tirado do Comentário ao Evangelho de João de Santo Agostinho, fala de Pedro e de João num episódio que aconteceu logo após aquele sobre o qual padre Giussani insiste, tendo se detido nele durante tanto tempo, onde Jesus diz a Pedro: “Segue-me” e a João: “Se desejo que ele permaneça para que eu venha, o que importa a ti? Segue-me”. Santo Agostinho o explica assim: “Trata-se de dois aspectos conexos com as duas etapas da existência do cristão: a terrena e a celeste. Aquilo que o Senhor disse: ‘Quero que permaneça até que eu venha’, não significa parar, ficar preso, mas estar numa postura de espera porque a condição colocada por João não atingirá a sua plenitude agora, mas na vinda de Cristo. Depois, o convite que Pedro recebeu: ‘Segue-me’, é algo que deve se cumprir agora, de outro modo não se chegará àquilo que se espera. Todavia, ninguém ouse dissociar estes dois grandes apóstolos: os dois viveram a vida temporal na fé e os dois gozaram a outra vida como revelação. E esta espera não é somente deles, mas de toda a Igreja, toda tensa, de um lado, a superar as provações deste mundo e, de outro, a possuir a felicidade da vida futura”.
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