A viagem de trem
A primeira vez que me veio a idéia de “fazer alguma coisa” [...] eu estava no trem, ia de Milão a Rímini e encontrei alguns jovens; comecei a discutir com eles e vi que eram totalmente ignorantes em matéria de religião e de cristianismo; o ceticismo deles, a sua postura debochada, a sua incredulidade não dava raiva, mas pena, pois nascia evidentemente de uma ignorância. Foi esse contato que me fez ficar com “raiva” para que conhecessem, para que soubessem mais, para que mais deles soubessem o que me havia sido dado. [...] Lembro-me, como se fosse hoje, do instante em que pela primeira vez entrei no colégio Berchet de Milão. Eram quatro degraus, da calçada até a entrada; enquanto subia, eu dizia: “O que venho fazer aqui? Para que estou vindo a este lugar? Para dizer a estes jovens o que senti e entendi. Pois, sem entender o que eu entendi e sem sentir o que eu senti, não consigo compreender como se possa viver”.
(Realtà e Giovinezza. La sfida, pp. 43-44)
Eu pertencia à unidade com eles
Quando encarei os três primeiros rapazes na rua, depois da primeira aula [...] no colégio Berchet, fui para casa todo preocupado comigo mesmo: com que responsabilidade, com que autoconsciência, com que implicação de mim eu tinha de responder e corresponder ao que começava a intuir falando com eles! Entendia que não podia revê-los no dia seguinte sem tomar posição diante desta dilatação da questão: eu pertencia àqueles três rapazes; pertencia não a eles, mas à unidade com eles. Tinha acontecido alguma coisa. [...] Ficou claro quando, uma semana depois, apresentaram uma terceira moção numa assembléia de estudantes no Berchet, ao passo que toda a história dos anos anteriores tinha sempre visto a presença de apenas duas moções: a da esquerda e a dos monarco-fascistas. Na semana seguinte ao nosso primeiro encontro eles haviam apresentado uma terceira moção. A apresentação dessa terceira moção foi um terremoto na escola.
(“Pertencer à morada como movimento rumo à unidade da vida”, in Litterae Communionis, jan-fev de 1997, p. 27)
Entramos de chofre
O início do nosso Movimento é extremamente significativo (para entender uma história, é preciso sempre olhar para sua origem). Em 1954, nós entramos de chofre na escola pública, que não era ainda marxista – embora os marxistas já estivessem determinando o clima em muitos lugares –, mas substancialmente liberal e portanto laica e anticristã, como a escola marxista, que é a sua conseqüência direta. Nós não entramos na escola buscando formular um projeto alternativo para a escola. Entramos ali com a consciência de levar também à escola Aquilo que salva o homem, que torna humano o viver e autêntica a busca da verdade, ou seja, Cristo na nossa unidade. E aconteceu que em virtude dessa paixão fizemos também uma interpretação nova (que então chamávamos “revisão”) dos conteúdos de história, de filosofia, de literatura, que representou para os jovens a verdadeira alternativa à interpretação liberal-marxista que dominava as aulas: realizamos um projeto alternativo sem estabelecer isso como objetivo. O nosso objetivo era a presença.
(“Da utopia à presença”, in Passos, dezembro de 2002, p. 25)
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