Mãe
No meu pensamento, na minha memória, minha mãe sempre esteve ligada a uma ocasião - eu era um seminarista do qual ainda gotejavam, escorriam as primeiras lágrimas da distância de casa - na qual voltei para minha casa na Páscoa (três dias, incluindo ida e volta) e havia um céu belíssimo e um ar limpidíssimo e, no céu, restava apenas a última estrela, apenas Lúcifer [o planeta Vênus; ndt.], e minha mãe, enquanto íamos caminhando ao vento - ventava muito -, indo para a casa paroquial, pronunciou estas palavras: “Como é belo o mundo e como Deus é grande!”, mas assim, do jeito como se diz: “Polenta com leite é uma coisa boa”. [...] No entanto, entre a maneira como minha mãe disse aquilo e a maneira como se podem repetir frases como essa, pode haver bilhões de quilômetros. Esses bilhões de quilômetros podem-se reduzir a uma coisa só: ao fato de que o que minha mãe disse é verdade, é verdadeiramente humano, e quem não diz isso não é humano. Mas o que tornava minha mãe tão sensível não era o fato de ter um cérebro particular ou um particular “bombeamento” do coração: é um dom do Espírito.
(Dal temperamento un metodo, p. 357)
Pai
O meu falecido pai, quando eu fazia os primeiros desenhos, que nunca saíam bem (diferente dos gênios, que os fazem rapidamente!), quando voltava do trabalho pra casa, ficava ali, de pé, atrás de mim, e me olhava desenhar... O seu primeiro sentimento era certamente este: “Deve conseguir, porque se lhe foi dado fazer esta coisa, ele deve conseguir”. Eu desenho, apago, desenho, apago, apago, apago... se meu pai me quer bem, pensa: “Coitadinho!”. Então entra e diz: “Puxe essa linha pra cá e não pra lá”, estou sendo claro? Entra quando tem compaixão, ao passo que a primeira atitude era a de um juízo: “Deve fazê-lo”.
(É possível viver assim?, pp. 293-294)
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