Uma volta por Milão visitando os supermercados da cidade que aderiram à coleta. Um gesto sobre o qual padre Giussani disse, há alguns anos: “O Banco Alimentar deve tornar-se um tipo de ‘fundo comum’ para todo o povo italiano”
“Você conhece o Banco Alimentar?”. Foi essa a frase que acolheu milhões de pessoas que compareceram aos mais de 4.000 supermercados nos quais se realizou a 8ª Jornada de Coleta Alimentar.
Faremos, abaixo, uma exposição concisa de alguns fatos e testemunhos que demonstram o que aconteceu no sábado, dia 27 de novembro, na cidade de Milão.
Os chefes de equipe e os voluntários começaram a trabalhar às 7h30 para arrumar os postos de arrecadação nos vários supermercados que aderiram à campanha. Por volta das 11 horas, em um hipermercado do centro comercial Bonola, o presidente da Fundação Banco Alimentar, padre Mauro Inzoli, foi entrevistado pela rede de televisão RAI regional. Os meios de comunicação, este ano, tiveram um papel realmente capilar e até Bruno Vespa e o conceituado Ezio Greggio lembraram às pessoas que, ano após ano, este vem se tornando o gesto de caridade mais imponente da Itália.
Coletes amarelos
Cheguei ao supermercado Pam da rua Bazzini onde encontrei oito pessoas com coletes amarelos atarefados pesando e fechando caixas: “o caminhão está para passar – me explica Francesco, chefe da equipe local –. Já é o segundo carregamento! Estamos recebendo muitos legumes, óleos e embalagens longa vida”. Francesco, que participou das oito Jornadas já realizadas, é aposentado e trabalha como voluntário durante o ano todo no banco de solidariedade da região de Piola. “A atividade do Banco continua durante o ano inteiro – diz Francesco –. Quando termina as provisões da coleta, vendemos tortas para arrecadar fundos para a compra de alimentos e, no Natal e na Páscoa, organizamos coletas nas escolas de ensino fundamental”.
O caminhão chegou e está sendo carregado. Eu me despeço e corro para outro mercado na rua Vallazze. Lá vejo duas crianças de no máximo 10 anos fazendo intermediação entre as caixas e o posto de arrecadação. São Paola e Francesca, filhas de Mario e Stefano. Este último me conta que: “a minha primeira participação na coleta foi há três anos quando o meu vizinho, que é de Comunhão e Libertação (indica Mario), me convidou e não pude recusar! Estou aqui com a minha filha e eu diria que tudo vai indo muito bem”. “As coisas estão caminhando na mesma linha do ano passado”, confirma Mario sem se alterar muito. Dentro do supermercado estão duas voluntárias que são funcionárias do Banco Popular de Milão. Aproximo-me de uma delas, Sonia, que me diz: “No trabalho, nos perguntaram se queríamos participar da Jornada como voluntários e aqui estou. Pela primeira vez me encontro do outro lado do balcão. Nos anos anteriores limitei-me a doar algum produto. Não imaginava que fosse um gesto tão grande e que envolvesse tantas pessoas. A forma – pedir alimentos e não dinheiro – ajuda muito a criar um relacionamento de confiança com as pessoas”. Pergunto a ela se no próximo ano estará novamente conosco e, surpreendendo-me, diz: “Na verdade, também me coloquei à disposição para me chamarem durante o ano se for necessário”: magias de uma coleta que, este ano foi realmente grandiosa, um verdadeiro gesto popular. O doutor Zanoli, diretor do supermercado, confirma: “Nos anos anteriores eu aconselhava os caixas que lembrassem aos clientes da iniciativa de vocês, mas agora realmente não há mais necessidade disso! Nós também estamos cada vez mais preparados: sabendo quais são os produtos que lhes interessam, mandei colocar mais visíveis nas prateleiras para facilitar para os clientes”.
Uma fila de formiguinhas
O celular toca. É Marta, nossa fotógrafa oficial, que está se refestelando no coquetel organizado pelos voluntários e clientes da Cooperativa da rua Fratelli Zoia. Ela ligou para me lembrar que à tarde chegará um grupo de crianças da escola materna “Mariuccia Proverbio” para ajudar na coleta. De fato, quando cheguei no hipermercado deparei-me com um grupinho de crianças vestidas de formiguinhas com antenas e coletes amarelos que, alegremente, cantavam uma canção para a coleta.
Por volta das 18 horas cheguei ao supermercado Esselunga da rua Ripamonti para cumprir o meu turno de trabalho. Lá me esperavam jovens da faculdade de Agronomia que compareceram em massa: este é um supermercado onde, no último ano, foram recolhidas mais de 10 toneladas de alimentos! Entre os estudantes há um intruso, Pierluca que, na realidade, é aluno do curso de Química, um siciliano que está se aventurando pela primeira vez na coleta de Milão. Enquanto conversávamos, ele recebeu um torpedo de Raimondo, seu pai, que estava realizando a coleta na sua cidade, perguntando como estavam indo as coisas ali. Também conheci Giacomo que é da cidade de Ostuni e antes de vir estudar em Milão participou, na sua amada Puglia, de pelo menos cinco coletas tendo sido a última em 2001, quando trabalhou como chefe de equipe. “Em 1997 – conta – na primeira Jornada que realizamos, só um supermercado de Ostuni aderiu. Hoje, me disseram que são 11 os supermercados interessados”. Salvatore Pirrò me disse: “Esta manhã tivemos um turno de voluntários especiais: um detento e alguns imigrantes pobres que recebem, eles mesmos, ajuda alimentar do Banco. À tarde fomos invadidos por 50 estudantes de uma escola de ensino médio e, agora, quem está trabalhando são os universitários”. Quando cheguei aos caixas para retirar as doações encontrei uma família em pé, parada – pai, mãe e uma menina pequena. São estrangeiros e olham com curiosidade os nossos produtos. Estão ali por um motivo: para nos pedir informações sobre como podem receber ajuda. Eu os conduzo até Salvatore que lhes dá o endereço da sociedade.
Encerramento
O supermercado é enorme. As doações são recebidas no térreo e, no segundo andar, são encaixotadas. Paolo, que há três horas esvazia carrinhos e fecha caixas de papelão, tem as costas em frangalhos, mas as únicas palavras que consegue dizer são: “Estou muito cansado, mas estou realmente feliz!”. São 21 horas: encerramento.
A coleta terminou? Para nós, talvez, mas ainda é preciso fazer os últimos carregamentos e fazer um balanço do dia.
Num barzinho, tomando uma cerveja, os amigos trocam experiências: Emilio, por exemplo, teve que discutir com uma senhora para convencê-la a deixar pelo menos uma sacola de mantimentos assegurando-lhe que as doações permaneceriam na Itália. E como terminou? “Bem, depois de ter doado a sacola cheia, me agradeceu por eu tê-la convencido a fazer o bem!”.
O último toque de telefone soou já no dia 28 de novembro, à 1h23. Era Marco, que ainda estava de pé fazendo as contas em um dos armazéns. Disse-me que estava feliz e acrescentou: “Não sei ainda quanto arrecadamos, mas seguramente ultrapassamos as doações do ano passado”. Este ano, a coleta também conseguiu atingir os seus objetivos: dar de comer aos necessitados e educar as pessoas à caridade.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón